Análises, Cinema

WolfWalkers – Análise

Com a chegada dos canais de streaming, cada vez mais as produtoras de filmes apostam neste meio para a distribuição dos seus produtos (mesmo que sejam também divulgadas em simultâneo no cinema). Esta animação, chega-nos pelo canal de streaming da Apple, conhecida como Apple TV+.
WolfWalkers, é uma animação do diretor Tomm Moore (um fantástico diretor e produtor de longas-metragens de animação, que se apresenta com o um estilo de design muito próprio, reconhecido pelas animações: The Secret of Kells e Song of the Sea, que já lhe valeram 2 nomeações aos Óscares, sem excluir as restantes nomeações e premiações destes e de outros filmes). Tomm apresenta-nos WolfWalkers, uma animação passada nos finais do século XVII, repleta de fantasia, acompanhada com um excelente banda sonora da criação de Bruno Coulais (reconhecido pelos trabalhos em Oceans, Coraline, The Secret of Kells, Song of the Sea e mais recentemente em Mune: Guardian of the Moon) e Kila.
Esta longa-metragem, tem a participação dos seguintes atores, Honor Kneafsey (uma jovem atriz com participações em: Abducted, Miss You Already, Slumber, entre outros), Sean Bean (reconhecido ator britânico com papéis como: Vronsky em Anna Karenina; Boromir em The Lord of Rings: The Fellowship of the Ring; Chris Da Silva em Silent Hill, entre outros), Simon McBurney (ator conhecido por interpretações como: Sergei Eisenstein, em Eisenstein; Fra Pavel, em The Golden Compass; Frank Hawking, em The Theory of Everything), entre outros atores.

A Floresta…

Este filme, tal como mencionado anteriormente, remete-nos aos finais do século XVII, em que a Inglaterra acabava de passar por uma guerra civil (a segunda na sua história), e onde o Lorde Protector, como se intitulou, Oliver Cromwell (Simon McBurney), quando assumiu a liderança do estado. Assim, com Cromwell no poder, a Inglaterra foi capaz de conquistar e ocupar vários terrenos do agora conhecido Reino Unido.
Situamo-nos em 1650, numa cidade na Irlanda, cujos os residentes (apesar de contrariados) são submissos ao Lorde Protector. Esta cidade é rodeada por uma floresta, que o Lorde quer aproveitar ao máximo os seus recursos, contudo, a floresta é habitada por vários animais, nomeadamente os lobos (que são os dominantes territoriais), e são considerados os guardiões da floresta, segundo lendas antigas da Irlanda.
Incentivados por Cromwell, a população considera os lobos uma ameaça para a humanidade, e este promete dizimá-los, com o intuito de conquistar os recursos da floresta e em simultâneo a confiança dos habitantes da cidade. Como tal, este entrega a missão de aniquilar os lobos a Bill (Sean Bean), um recém chegado caçador inglês, que vive com a sua filha Robyn (Honor Kneafsey). Robyn, apresenta-se como uma menina destemida, e com um ódio tremendo por lobos e anseia tornar-se numa caçadora, tal como o seu pai.

Robyn também imprudente e desobediente, pois, quando o seu pai parte para a caçada, ordena que esta se mantenha em casa, em segurança, mas a menina, juntamente com o seu falcão Merlin, decide ir atrás do pai, com o intuito de o proteger, de o ajudar e provar, ao mesmo tempo, que já se tornou numa caçadora.
Ao aventurar-se pela floresta, enquanto persegue o pai, Robyn ouve um pedido de socorro de um habitante que vive perto da floresta, pois os lobos estão a atacar as suas ovelhas, como tal, a protagonista decide intervir e provar que consegue ser uma boa caçadora. No entanto, ao enfrentar pela primeira vez um lobo, Robyn atrapalha-se no meio de toda a confusão e acaba por ferir o seu próprio animal de estimação. Sendo este levado por uma menina selvagem, que liderava a matilha de lobos.
Mas, Robyn não se conforma com a situação e decide partir à busca do seu fiel amigo Merlin, aventurando-se novamente fora dos muros da cidade, contrariando novamente as ordens do seu pai. Ao chegar à floresta, ela encontra várias pistas, que acabam por a levar até ele. Contudo, Merlin não está só, com ele está com um lobo diferente, mas com toda a sua veia de caçadora, ela decide atacá-lo, acabando por ser mordida acidentalmente por este.

Passado uns momentos, Robyn percebe que o seu falcão, vê no lobo um amigo e decide segui-los, chegando ao covil dos lobos, vendo este lobo a transformar-se na menina selvagem, que Robyn tinha avistado anteriormente. Neste momento, a menina selvagem Mebh (Eva Whittaker) apresenta-se, informando-a que é uma WolfWalker, que são criaturas humanas, enquanto permanecem acordadas, e em simultâneo lobos, quando os corpos adormecem, mas, mantêm a mesma consciência em ambos estados.
E assim, Mebh conta a história e a lenda dos WolfWalkers a Robyn, e o porquê de ainda estarem ali apesar do perigo iminente que vivem. Juntas, acabam por iniciar uma aventura mágica e inesquecível, mas, o perigo está à espreita e por perto. Robyn e Mebh criam laços de amizade, tornando-se como “irmãs”, e assim Robyn acaba por mudar a sua mentalidade e opinião sobre os lobos, demonstrando compaixão, mostrando que esta é a chave para compreender aqueles que são diferentes dela e, mais importante, como podemos ter muito em comum com aqueles que foram estigmatizados, marginalizados e rejeitados.
Ao longo desta aventura, Robyn promete ajudar a sua nova amiga a salvar toda a matilha, permitindo que estes vivam num lugar novo e fora do perigo do Lorde Protector. No entanto, Robyn sabe que a sua maior batalha e a mais desafiante, será convencer o seu pai de que os lobos não são criaturas malignas, que apenas querem viver em paz e sem prejudicar ninguém.

A Mitologia…

WolfWalkers é uma animação que combina elementos da mitologia irlandesa (de forma similar aos trabalhos anteriores de Tomm Moore, que também inspirados no folclore, tais como The Kells Secret e Song of the Sea), transportando os espectadores para um mundo mágico e mítico, no qual alguns humanos têm a capacidade de se transformar em lobos e vice-versa.
Esta longa-metragem, apresenta caracterização magnífica e super expressiva, tal como Tomm já nos habituou, visto serem muito idênticos ao já apresentados nos dois filmes mencionados anteriormente, e como tal, o prórpio diretor acaba por fazer várias referências aos seres mágicos desses dois títulos (sendo easter eggs existentes nesta aventura).
Esta animação faz o uso brilhante das metáforas e dos conceitos míticos, como por exemplo, a libertação da alma humana do corpo ao dormir. Esta aventura também apresenta diversos contrastes de cores, tais como, a cidade cinza e deprimente cercada por paredes e medo, e fora deste local as florestas coloridas, encantadoras cheias de alma e alegria. Assim, é enfatizado, a submissão e a conformidade social, e como estas podem tornar os humanos destituídos de almas e de vontade própria, só conseguindo ganhar vida quando abrimos as portas para as almas e corações, sem ódios e resignações.
Estes detalhes, são mais notórios nas sequências de animação, que celebram a transição de um humano para um ser WolfWalker, através das formas e texturas de “lápis”, e é nestes momentos que existe um trabalho fenomenal da banda sonora que nos acompanha, fazendo vivenciar a liberdade que um WolfWalker tem. Para além destes momentos, a requintada musicalidade, transmite de forma eficiente e diferente emoções ao longo da narrativa.
Apesar de toda a estória envolvente ser algo especial e mágico, esta peca por vezes, devido às excessivas repetições e insistências em algumas temáticas, deixando pouca liberdade para o espetador explorar as suas próprias conclusões. O que leva, o desenvolvimento desta narrativa um pouco previsível.
É de se destacar, toda a construção de personagem de Robyn, mas principalmente de Mebh, e de como esta permite e ajuda no crescimento de maturidade de Robyn, fazendo com que esta lute a todo o custo pela sua liberdade e do seu pai.
Em suma, WolfWalkers é uma animação que irá encantar crianças e adultos, pois é nos apresentado um conto mítico sobre a importância da família, da amizade e de como realmente as nossas almas ganham vida, quando não temos os nossos corpos aprisionados à rotina e a sociedades repressivas. No entanto, a moral desta estória ganharia mais se estes temas não fossem apresentados de forma insistente. É um bom trabalho do diretor, no entanto, acaba por ficar aquém dos seus trabalhos de animação (já mencionados nesta análise) anteriores.

Partilhamos, convosco o trailer desta aventura pela floresta…

8.0
Score

Pros

  • Animação e design
  • Banda sonora
  • A personagem Mebh
  • Narrativa interessante

Cons

  • Repetição e insistência de algumas temáticas
  • Existem pequenos detalhes na narrativa, sem razão aparente
  • As personagens Bill e Lorde Protector

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