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O descontentamento dos artistas – Iberanime 2023

O Iberanime este ano gerou algum burburinho nas redes sociais por uma das razões que atrai várias pessoas ao evento – a ala de artistas. Com diversos artistas, portugueses ou estrangeiros, profissionais ou amadores, novos ou não ao evento, o espaço atrai pessoas que os querem suportar, mas este ano o evento foi marcado pelas questões de respeito quanto a estes.

Pré-Evento

Artistas já se vinham a queixar em edições prévias, mas a controvérsia este ano foi mais alarmante e começou ainda antes do evento – o cartaz. As queixas do cartaz desta edição não foram pelo desenho ser vítima de tracing, apesar de ser um problema recorrente. Em vez de contratarem um artista, utilizaram AI para criar a arte do cartaz, assim como outros desenhos para publicitar o evento nas redes sociais.

Arte AI para uso comercial já é bastante polémico, e sendo um evento que se baseia na arte e nos seus diversos artistas, esta escolha gerou controvérsia. Várias pessoas acharam que era uma falta de respeito aos artistas que trazem várias pessoas ao evento. Isto foi o suficiente para mais tarde o Iberanime dar um passo atrás e contratar alguém para fazer a ilustração do novo cartaz. A ilustração de Edo Hamura (podem ver o seu Twitter aqui) foi parabenizada pela qualidade do desenho e pela iniciativa do Iberanime de ouvir as críticas. Porém, não foi o suficiente.

Mais tarde, houveram cada vez mais artistas a juntarem-se e a falarem sobre o seu descontentamento quanto à forma que o evento os trata. Falam especialmente de como dão o seu constante feedback na esperança que melhorem, mas que este tem tendência a ser ignorado. Outros dizem que o tamanho da ala dos artistas e a falta de atenção a estes é pela “falta de retorno que estas trazem ao evento”, argumentando que o problema não é a falta de dinheiro, mas sim a falta de interesse. A questão financeira também foi especialmente criticada e comparada com eventos similares em Portugal e em Espanha. Especula-se que o evento do Iberanime tem pedido cada vez mais dinheiro da parte dos artistas, tendo de pagar mais de 200 euros, eletricidade à parte, para ter uma banca que na maioria chegava a pouco menos de 1 metro de largura.

Após as inúmeras críticas, o Iberanime respondeu a um thread do twitter, que aponta as críticas principais, a dizer que as mensagens foram tidas em consideração e que estão a trabalhar para melhorar e evoluir. (podem ver aqui).

Dentro do Evento

Embora tenha usufruído de dois pavilhões da FIL, a ala dos artistas ocupou apenas uma parede do pavilhão mais pequeno. Todos em fila e sem espaço para os separar, só houve lugar para cerca de 30 bancas, muitas destas que tiveram de ser partilhadas por 2 ou 3 artistas ao mesmo tempo. Partilhar bancas já é uma ação comum no evento, tanto por não terem sido aceites, tanto por questões financeiras.

Mas não foram só os artistas que tiveram de ficar amontoados. O espaço em si já é pequeno o suficiente para haver constantes encontrões nas pessoas a andar pelo evento, mas não se compara à aglomeração que se encontrou à volta das bancas este ano. Era impossível estar confortavelmente a observar e a comprar alguma coisa quando haviam sempre pessoas a quererem ver mais de perto, especialmente quando as bancas são minúsculas. Por essa razão, se as pessoas não tivessem tido acesso ao mapa do evento, era difícil de se perceber que aquela era a ala dos artistas. As bancas não eram altas os suficientes para identificar imediatamente ao longe o que faziam ou vendiam (para além de ser proibido colocarem seja o que for nas paredes atrás, apesar de alguns o terem feito), e na horizontal não haviam um único espaço livre que desse para observar os vários desenhos e objetos.

Acredito que os artistas se possam sentir injustiçados por terem cada vez menos espaço e “piores condições”, enquanto que o evento continua a dar voz a tracers, resellers e arte composta por AI. Vários ficaram satisfeitos que a controvérsia tenha trazido atenção aos problemas que o Iberanime sofre há já alguns anos, mas não foram o suficiente para impedir a falta de atenção e o amontoamento de pessoas à volta da ala de artistas. Todos esperam que para o ano também os ouçam e que ajam perante esses problemas.

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