Este verão chega-nos Luca, um trabalho produzido pela Walt Disney Pictures juntamente com a Pixar Animation Studios, e distribuído pela Walt Disney Studios Motion Pictures. Luca é uma animação cómica, trazida para os espectadores, sendo possível vê-la, para já, via streaming (pela Disney plus) dirigida por Enrico Casarosa (cineasta e ilustrador italiano mais conhecido pelos trabalhos de ilustração em animações como: Ice Age; Ratatouille; Up e Coco, em relação a direção e argumento é possível ver o seu primeiro trabalho na curta-animada La Luna), sendo esta a sua estreia na direção de longas-metragens, tendo ainda Dan Romer como compositor musical desta aventura (conhecido por trabalhos em filmes como: Wendy; Skin; em televisão nas séries The Good Doctor; Superman & Lois; mas também em videojogos como é o caso de Far Cry 5). Luca na sua produção, conta ainda com gigante nome associado à Pixar e Walt Disney, Pete Docter (conhecido por diversos tarablhos como argumentatista, tais como, Toy Story, Monsters, Inc., WALL-E; como diertor em animações como, Up, Inside Out e mais recentemente em Soul), como produtor executivo.

O elenco principal de voz de Luca é agradavelmente jovem, no formato inglês é constituído por Jacob Tremblay (jovem ator mais conhecido pelos seus trabalhos em Smurfs 2, Room, The Book of Henry, Wonder, entre outros), Jack Dylan Grazer (jovem ator mais reconhecido pela sua interpretação nos filmes It, It Chapter Two, Shazam!, etc.), Emma Berman (jovem atriz a dar os seus primeiros passos no mundo do cinema, tendo anteriormente apenas participado na série Go! Go! Cory Carson), Saverio Raimondo (ator, também a dar os seus primeiros passos no mundo do cinema, apenas sendo conhecido o seu filme anterior a esta animação Io e Angela, contudo é bastante conhecido no mundo da televisão e rádio, participando em diversos shows, numa vertente cómica), Maya Rudolph (atriz, comediante e cantora conhecida pelos seus papéis em Bridesmaids, Grown Ups, A Prairie Home Companion, MacGruber, Big Hero 6, The Lego Movie 2: The Second Part, entre outros), Marco Barricelli (renomado ator teatral, sendo este o primeiro trabalho no mundo do cinema), Jim Gaffigan (comediante mais conhecido pelos seus trabalhos de stand up comedy) entre outros.

No formato português, à semelhança do inglês é constituído por um elenco bastante jovem, dedicado a dobragens animadas e de séries de televisão, no caso dos mais adultos, este conta com a presença de atores mais dedicados ao mundo do teatro e da televisão (como novelas), mas dando sempre o seu cunho e voz, em participações de filmes animados. Em Luca o elenco principal, da versão portuguesa, é constituído por: Rodrigo Moreira Santos (Luca Paguro); Francisco Magalhães (Alberto Scorfano); Ema Maçarico (Giulia Marcovaldo); Guilherme Macedo (Ercole Visconti); Adriana Moniz (Daniela Paguro); Guilherme Barroso (Massimo Marcovaldo); João Vicente (Lorenzo Paguro); Manuel Encarnação (Ciccio); Isaac Carvalho (Guido); Teresa Faria (Avó Paguro), entre outros.

Aqui no mar…

Antes de nos ser introduzido o título desta aventura, a estória inicia-se com um pequeno tributo à curta-animada La Luna. Luca passa-se em Itália nos anos 1950, num mundo imaginário, onde existem seres, que vivem nas profundezas do mar, sendo conhecidos no Mundo dos humanos, como monstros marinhos.

Luca Paguro (Jacob Tremblay) é um jovem pastor de cardumes de peixes, que se sente atraído pelo desconhecido (mas ao mesmo tempo receoso), sendo bastante imaginativo e curioso pela vida à superfície. Quando questiona a sua família, sobre os barcos e de onde estes vêm, os seus pais, Daniela (Maya Rudolph) e Lorenzo (Jim Gaffigan) alertam-lo dos perigos existentes e proíbem-lo de pensar sequer em aventurar-se para tal local. Num dia, aparentemente igual a tantos outros, Luca entusiasma-se com alguns objetos provenientes do Mundo dos humanos, e assim, cruza-se com Alberto Scorfano (Jack Dylan Grazer), um jovem aventureiro que vem resgatar (para a sua coleção) ao fundo do mar, todo o tipo de objetos estranhos (sendo de humanos ou não), que estão caídos no campo de algas de Luca.

Rapidamente o nosso protagonista cria uma empatia e constrói uma amizade com Alberto, que o incentiva a explorar e a olhar o Mundo, para além do mar que conhece (instigando-o, por vezes silenciar a voz que não o deixa “voar” – fazendo referência é usado muito a expressão: “Silenzio, Bruno!“). Ao seguir o seu novo amigo até à superfície, para surpresa do nosso herói, quando os monstros marinhos saem da água e ficam secos, assumem a forma humana. Quando a sua mãe e o seu pai descobrem que Luca esteve na superfície castigam-no, tentando enviá-lo para o fundo do oceano com o seu tio Ugo (Sacha Baron Cohen).

Luca decide então fugir e se aventurar com Alberto pelo Mundo dos humanos (mesmo sabendo que podem colocar-se em risco), na esperança de encontrar ali a “invenção mais fantástica” de sempre, a Vespa (uma mota clássica dos anos em que nos encontramos), que os irá permitir explorar o Mundo.

Além do fundo do mar…

Quando chegam à vila de Portorosso, imediatamente dão de caras com um jovem narcisista (indicando-nos ser o vilão da estória), Ercole Visconti (Saverio Raimondo), que chega à vila na sua magnifica Vespa vermelha, deixando os nossos dois jovens heróis maravilhados. Este com o seu “gangue”, confronta-os, ficando a saber que Ercole é o pentacampeão de triatlo da Taça anual de Portorosso. No momento, em que Ercole estava prestes a desvendar o segredo dos nossos protagonista, estes são salvos por Giulia (Emma Berman), uma jovem peculiar, com uma energia avassaladora (determinada em acabar com o “Reinado de Terror” de Ercole) que passa as férias com o seu pai (Marco Barricelli), e que acima de tudo, ambiciona ganhar a Taça, de forma a ser aceite pelos habitantes locais. Ela refere que com o dinheiro do prêmio eles poderão comprar uma velha Vespa.

Então os nossos três jovens decidem formar uma equipa de triatlo, em conjunto determiama as tarefas de cada um, Giulia terá de nadar, Alberto de comer a “pasta” (em que o género da massa é aleatório, variando de ano para ano) e Luca fazer a corrida de bicicleta.

Mas “guardar do Mundo terreste o segredo” dos nossos queridos jovens monstros marinhos, e em simultâneo realizar todos os seus sonhos, revela-se um grande desafio, pois, além de ter de enfrentar Ercole, Luca tem de se esconder dos seus pais (que se aventuraram a ir para Portorosso à procura dele), combaterem Machiavelli, o gato de Giulia que é bastante desconfiado, e que coloca sempre à prova os jovens protagonistas, e por inquietante que seja para Luca, este ainda se vê obrigado a lidar com os ciúmes que Alberto tem da sua amizade com Giulia.

Com todos estes desafios, em que tudo parece estar contra Luca, e com uma grande probabilidade de correr mal, serão que os nossos jovens irão conseguir ultrapassar as advertências do mundo humano, os conflitos entre amigos e ainda os problemas familiares que estão a passar, e vencerem a Taça anual de Portorosso?

Uma estória de lealdade e amizade…

Com este filme, podemos ver uma forma criativa do realizador Enrico Casarosa nos contar a sua própria história, enquanto jovem que nasceu em Itália, na cidade de Génova, e como mais tarde quis sair de Itália e correr atrás do seu futuro nos Estados Unidos da América, acabando por nos mostrar que as saudades que temos ao estar noutro sítio, que não a nossa casa, nunca devemos nos esquecer das nossas origens, e por isso esta longa-metragem também acaba por ser uma homenagem ao seu país natal, Itália. Assim sendo, a vila de Portorosso é inspirada numa vila situada no norte de Itália denominada Cinque Terre.

Esta animação, não é intencionalmente foto-realista e estilizada, especialmente com figuras humanas. O nível técnico do filme é excelente, podendo se verificar através da iluminação subaquática, até ao engenhoso desenho das personagens e das suas diferentes transições, de monstros marinhos para humanos (algo que o realizador sempre se quis manter fiel ao que tinha imaginado, sem querer recorrer a técnicas mais inovadoras).

Com isto Luca consegue exalar luz, energia e uma beleza, aparentemente simples, conseguindo alcançar sensações únicas de incrível encanto. A animação e a musicalidade que nos acompanha, mostram a habilidade e o talento dos seus criadores. Estas encontram-se bem coordenadas, criando momentos particularmente agradáveis, de tributo à cultura italiana e sequências bem fluídas. Alguns desses elementos parecem estar inseridos como uma homenagem pura, outros são mais apropriados às cenas. A Vespa é a principal das muitas referências à cultura italiana espalhadas pelo filme.

Quanto à narrativa e o enredo, estes foram realizados de forma que o público de todas as idades possa encontrar algo para se emocionar e se divertir. O nosso herói descobre a amizade e a cumplicidade com Alberto e Giulia, num turbilhão de vitalidade e risco infantil. Apesar do seu humor simples, explora um novo Mundo, onde a aceitação da diversidade é um tema central, onde os monstros marinhos tentam se integrar com os humanos. Apesar de uma premissa e narrativa simples, este argumento é bem construído, não deixando escapar pormenores, ou até momentos na estórias que fiquem soltos, mostrando que existe um propósito no que vimos e no que nos é dito, tal como é o caso da avó do protagonista, referir que já tinha visitado a terra dos humanos, e posteriormente dizer que visita esta vila uma vez por semana.

Contudo, poderia haver mais algum destaque, ou até mesmo explorar algumas personagens secundárias, assim como as suas estórias (tal como a família de Giulia, ou até mesmo de Ugo). Assim, poderia existir mais algum detalhe no mundo marítimo, pois nem todas as criaturas marítimas falam.

A nível de interpretação de vozes dos atores (versão inglesa), é de destacar o desempenho de todos os atores. Até mesmo os personagens coadjuvantes, que conseguem trazer alguns momentos cómicos bem conseguidos, no entanto, estes poderiam ser mais bem explorados. No caso da versão portuguesa, os atores também desempenham uma boa dobragem, aproximando-se por vezes ao estilo da versão original, o que torna este trabalho de voz muito interessante e fiel à ideia do diretor.

Em suma, Luca é uma bela estória de lealdade e amizade, bem construída, onde também se ensina, de forma simples, a respeitar e amar o que é diferente e único. Enrico Casarosa com o seu trabalho consegue transmitir um sentimento doce, efervescente e simples. Apesar de não apresentar uma narrativa e elementos técnicos inovadores, é uma animação, acima de tudo, bem conseguida.

Partilhamos, convosco o trailer desta animação para aquecer o vosso coração neste verão…

8.0
Score

Pros

  • Premissa simples, mas bem conseguida
  • Musicalidade e Banda Sonora bem adequadas
  • Design das personagens, principalmente das "criaturas marinhas"
  • Bastante animado e caloroso

Cons

  • Algumas personagens secundárias poderiam ser mais exploradas
  • O próprio mundo aquático poderia ter maior detalhe a nível de contexto das criaturas

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