Tokyo Revengers é um anime que saiu este ano, entre a temporada de primavera e verão e foi um sucesso imediato. Eu, desde o primeiro anúncio da série que fiquei com uma vontade miudinha de assistir a série. A série fala de Takemichi Hanagaki, um jovem adulto que repara na televisão que o seu primeiro amor Hinata Tachibana foi acidentalmente assassinada num incidente envolvido pela gang Tokyo Manji. Descontente com a sua vida, Takemichi tenta procurar uma solução para as suas inseguranças quando é empurrado para uma linha de um comboio. No entanto, em vez de morrer, ele é enviado para o passado (de 2017 para 2005). Com esse poder, Takemichi sente-se na responsabilidade de salvar Hinata e reescrever a sua história de vida, para resolver as suas inseguranças e o insucesso que teve no futuro. Para isso, o protagonista vai se infiltrar na gangue e tentar chegar ao topo da mesma.
Antes de qualquer análise, a polémica!
Tokyo Revengers sofreu alguns ataques, especialmente no ocidente, em relação a algumas temáticas. Uma delas é a utilização do suástica budista no símbolo da gangue e o outro é a utilização da temática bosozoku. Bosozoku são gangues de motoqueiros (normalmente frequentadas por menores), muito conhecidos por causar pequenos delitos, como roubos, lutas e vandalismo e tiveram origem no pós-Segundo Guerra Mundial e os seus fundadores tinham uma herança nacionalista muito forte. Juntando a suástica e o nacionalismo intrínseco nos Bosozoku, alguns internautas criticaram a série de apelar e romantizar algum tipo de autoritarismo e fascismo.
Eu creio que isso não é um problema na série, desde que se tenha atenção na utilização de certos símbolos presentes na série. A suástica é muito utilizada no Japão, nomeadamente na representação de templos budistas. Então, para os japoneses, trata-se de um símbolo normalíssimo e não é tão associado aos Nazi como no Ocidente. Além disso, a série disfarça e censura muito bem essas marcas mais polémicas na versão que recebemos pela Crunchyroll, fora do Japão. Ou seja, mesmo em zonas mais sensíveis da geopolítica mundial, acho que não é grave. Toda a utilização do símbolo é justificada. O líder da gangue chama-se Manjiro (conhecido por Mickey, o nome do fortíssimo líder da Tokyo Manji tem o nome escrito com o mesmo caracter kanji que a suástica, o manji) e a sede e local de nascença do grupo é um templo budista.
Quando a parte do Bosozoku. Mais uma vez, não vejo problema. Muita gente insiste que romantizar esse tipo de grupos é perigosa. Primeiro, é raríssimo alguém ser influenciado por uma obra a tal ponto de se tornar delinquente por causa da mesma. Além disso, os Bosozoku são grupos praticamente extintos. Há gangues que, neste momento, possuem um ou dois membros. Antigamente, entenderia a reação mais calorosa, uma vez que os Bosozoku eram mais numerosos e até serviam como iniciação à Yakusa (máfia japonesa), mas hoje em dia é raro.
Cabe ao espectador entender e relativizar esse tipo de referências e não sair internet afora a colocar suástica em todo o lado e promover gangues de adolescentes. Há que entender que são referências delicadas e têm de ser tratadas com atenção.
Um anime simples ainda funciona em 2021?
Estamos numa época em que temos obras como Evangelion, Berserk, HunterxHunter, Steins;Gate, obras tão emocionalmente complexas ou com plots tão bem construídos que deixam qualquer espectador mais crítico completamente babado. Tokyo Revengers não é nada disso. Como é que o protagonista conseguiu viajar no tempo? Não sei. As personagens têm objetivos concretos e bem explicados? Não. Que tipo de atos delinquentes que a Tokyo Manji pratica sem ser luta de gangues? Não faço a mínima ideia. Então como Tokyo Revengers funciona?
Simplemente porque é divertido. É divertido ver o Mickey a bater em meia centena de capangas de uma gangue rival. É divertido ver um falhado como o Takemichi subir na vida apenas com a sua convicção. É divertido ver reviravoltas, como o que acontece ao Baji (sem spoiler) na luta com a Valhalla. E não é preciso mais que isto para te entreter durante 25 minutos, uma vez por semana. A fórmula é simples. Uma estruturação de obra minimamente isoestática (pimba, referências do meu curso), para que a obra não caia nem numa banalidade fútil, nem em algo sem sentido. Personagens suficientemente carismáticas para te prenderes a elas (algo muito essencial nesta série em específico. Se não te interessares pela Hinata e pelo Takemichi, não vais querer saber do resto da jornada do “herói”) e o mais importante, coisas épicas a acontecerem na tua tela para achares que estás a ver algo incrível, mesmo sendo uma história de ação, com uma ficção cientifica mais ou menos presente, para adolescentes se identificarem com um protagonista falhado e triste, que quer subir na vida. Depois basta untares a forma com uma banda sonora e uma estética únicas e levares ao forno. E pronto, tens uma história de sucesso.
E sabem que mais? Tokyo Revengers convenceu-me que está tudo bem em gostar de algo assim. A série levou-me a pensar a crítica de anime de outra forma. Que nem tudo precisa de ser complexo ou bem escrito para ser bom. Que não tem mal em se gostar de uma espécie de morangos com açucar animado e com viagens no tempo. Levo para a minha vida de crítico de anime uma bagagem que não tinha. Que nem tudo precisa de ser tratado com a mesma exigência, com o mesmo foco. Às vezes faz bem reclinar na nossa cadeirinha e apreciar uma boa pancadaria.
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