Análises, Cinema

Black Panther: Wakanda Forever – Análise

Black Panther: Wakanda Forever é um filme de 2022 baseado no personagem da Marvel Comics, Black Panther. Produzido pela Marvel Studios e distribuído pela Walt Disney Studios Motion Pictures, é a sequência de Black Panther e é o 30º filme da MCU. Esta aventura é dirigida por Ryan Coogler (diretor, produtor e argumentista americano mais conhecido Fruitvale Station, Creed e claro está, Black Panther), que co-escreveu o argumento com Joe Robert Cole (cineasta e ator americano mais conhecido pela série de televisão intitulada The People v. OJ Simpson e por co-escrever o filme Black Panther).

O filme é estrelado por Letitia Wright (atriz guianesa-britânica que iniciou a sua carreira em séries de televisão, tais como Top Boy, Coming Up, Chasing Shadows, Humans, Doctor Who e Black Mirror. A nível de filmes, na sua carreira destacam-se Urban Hymn e as longas-metragens da MCU Black Panther, Avengers: Infinity War, Avengers: Endgame), Lupita Nyong’o (atriz premiada de origem queniana- mexicana mais conhecida pelas suas interpretações em 12 Years a Slave, Eclipsed, a mais recente trilogia de Star Wars, The Jungle Book, Black Panther, Us, etc.), Danai Gurira (atriz e dramaturga americana-zimbabuense, mais conhecida pelo seu papel de Michonne na série The Walking Dead, e pelo seu trabalho na MCU Black Panther, Avengers: Infinity War e Avengers: Endgame), Winston Duke (ator tobagoniano, mais conhecido pelo seu papel como M’Baku nos filmes da Marvel Black Panther, Avengers: Infinity War, Avengers: Endgame além da sua interpretação na longa-metragem de Jordan Peele, Us), Florence Kasumba (atriz de origem ugandense-alemã mais conhecida por sua interpretação de Ayo nos filmes do Universo Cinematográfico Marvel films Captain America: Civil War, Black Panther, Avengers: Infinity War e na série The Falcon and the Winter Soldier. Também participou nas longas-metragens Wonder Woman e The Lion King), Dominique Thorne (atriz americana atriz que participou nos filmes If Beale Street Could Talk e Judas and the Black Messiah), Michaela Coel (roteirista e atriz britânica mais conhecida pelos seus trabalhos nas séries de televisão Chewing Gum, May Destroy You, Black Mirror e Black Earth Rising), Tenoch Huerta (ator mexicano, com vários filmes realizados na América Latina e na Espanha tais como Madres, Café paraíso, Sin nombre, El Infierno, Días de gracia, Colosio: El asesinato, Bel Canto, entre outros), Martin Freeman (ator britânico renomado, mais conhecido pelos seus trabalhos na triologia The Hobbit, Love Actually, Shaun of the Dead, The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy, Hot Fuzz, The World’s End, Captain America: Civil War e Black Panther), Julia Louis-Dreyfus (atriz, comediante e produtora americana mais conhecida pelos seus papéis nas séries de televisão Saturday Night Live, Seinfeld, The New Adventures of Old Christine, Veep e The Falcon and the Winter Soldier. A nível de filmes destacam-se na sua carreira Hannah and Her Sisters, National Lampoon’s Christmas Vacation, Deconstructing Harry, Enough Said, A Bug’s Life, Planes e Onward), Angela Bassett (atriz americana, já permeada com diversos prêmios por parte da indústria e nomeada para os Óscares. A sua carreira deu o salto com sua interpretação da cantora Tina Turner no filme biográfico What’s Love Got to Do with It. Destacam-se também os seus trabalhos em Malcolm X, Panther, Notorious, Black Panther, Avengers: Endgame, Wendell & Wild, etc.), entre outros.

Um luto, Uma homenagem, Um Novo Mundo…

O filme inicia com um ritmo acelerado e recheado de tensão, pois o rei de Wakanda, T’Challa está a sofrer com uma doença terminal, estando a lutar pela vida. Este arranque, em termos temporais parece ser quase num seguimento de Black Panther de 2018 (pois poucas ou nenhumas referências existem dos eventos prévios) tanto é que Wakanda ainda sofre com o que Killmonger (Michael B. Jordan) fez enquanto rei, onde destruiu todas as plantações de Heart-Shaped Herb (as plantas de forma de coração, que continham o poder místico, que permitiam o acesso ao mundo ancestral).

E este é um momento crítico, pois T’Challa às portas da morte, a esperança reside em Shuri (Letitia Wright) conseguir sintetizar uma planta com propriedades iguais às destruídas no passado, para poder salvar o seu irmão. Contudo empenhou-se tanto em sintetizar de forma artificial esta planta, que não está com T’Challa nos últimos momentos, e no instante que pensa ter o que precisa para o salvar, recebe a triste notícia do seu falecimento.

Antes de prosseguir, destaca-se de imediato a intro personalizada para este título, em que toda é uma excelente homenagem, não só à personagem T’Challa (que vemos cair nos momentos iniciais), mas principalmente Homenagem e Luto ao Homem por detrás da máscara de Black Panther, Chadwick Boseman.

Um ano depois do falecimento de T’Challa, Wakanda permanece sem um líder, pois o seu povo ainda não consegue suportar a sua perda, assim como falta do espírito protetor da Pantera. Porém, Ramonda (Angela Bassett) assume o manto de rainha e tem agora que lidar com o melhor e pior do que o seu filho, T’Challa expôs ao mundo, a existência de Wakanda e do seu Vibranium. Pois sem líder firme, compreensível e bondoso como T’Challa, a rainha Ramonda apresenta-se numa postura mais imponente perante todos os restantes países, já que ela não gostava muito desta exposição ao Mundo, e desde logo necessita de mostrar todo esta soberania, principalmente devido às exigências feitas por países como França, EUA, entre outros, que querem a partilha de conhecimento e do material Vibranium.

Ramonda, estando sob pressão por parte de outros países, mostra-se fria e declara que todos os países apenas querem poder descartando os interesses de Wakanda ou países mais desfavorecidos, mostrando a todos, que haveria guerra imediata se algum deles tivesse o poder que Wakanda tem.

Apesar de todo o problema gerado durante a conferência mundial e o aumento da tensão entre todos, os Estado Unidos da América não desistem da sua busca, tentando novos meios, novas tecnologias nesta descoberta para este metal tão desejado. No entanto, encontram algo que não estavam à espera, no fundo do oceano acham um material que se assemelha com Vibranium, sabendo que estão num território que não é dominado por Wakanda, estes nada poderão fazer sobre este achado.

Contudo, isto despertou algo desconhecido nas profundezas dos mares, e novos inimigos surgem, atacando sem piedade todos os que se aproximam deste material. Devido à tensão gerada os países, estea entram em conflito, afirmando que os wakandianos atacaram fora do seu território, sendo declarados como inimigos. Mas nada tem haver com estes humanos, pois o que surge dos mares é mais antigo e ancestral do que todos podiam esperar. Estes “novos seres” são do território de Talokan (uma recriação e reinterpretação do que poderia ser o mundo perdido Atlântida).

Enquanto tudo isto decorre, Ramonda implora a Shuri que continue sua pesquisa sobre a erva em forma de coração, na esperança de criar um novo protetor para Wakanda, mas esta recusa, pois sendo uma mulher das cada vez mais acredita menos num mundo espiritual e numa nova proteção da Pantera, acreditando que ninguém poderá substituir o seu irmão, mantendo a sua fase de luto e afirmando que a Black Panther é uma figura do passado.

Neste momento, quando Ramonda já não tem mais soluções para que a sua filha possa voltar a ser quem era, pede-lhe para que confie em si e tenta encaminhá-la num ritual cerimonioso de luto, mas este é interrompido pelo rei de Talokanm, K’uk’ulkan (deus serpente emplumado) ou mais conhecido pelos seus inimigos por Namor (Tenoch Huerta), que surge para falar com a rainha Ramonda e a princesa Shuri, pois sendo ele rei de um povo protegido, misterioso e secreto, a exposição ao Mundo de Wakanda (uma região idêntica a Talokan), deixou a sua sociedade em perigo.

Namor, culpa T’Challa e os wakandianos, pela contínua corrida ao vibranium pelos seres da superfície, que fizeram que houvessem encontros em lugares protegidos entre seres das profundezas dos mares e humanos. Após contar-lhes um pouco da sua estória, Namor faz um ultimato a Wakanda (pela invasão que o seu reino sofreu), tendo as nossas protagonistas a responsabilidade de encontrar o cientista que desenhou e desenvolveu a máquina que está a detectar os materiais estranhos, que levou os humanos ao encontro com os seres dos mares e entregá-lo a ele (para que mais nenhuma seja criada), ou ele atacará Wakanda.

Wakanda vê-se envolvida por conflitos territoriais, com os países como os EUA ou países da Europa, na partilha do conhecimento e Vibranium, e um novo conflito com as criaturas das profundezas que se querem proteger. Ramonda e Shuri têm nas mãos o maior desafio que o seu protetor já poderia ter enfrentado (é observado algum do conflito de ideias, visto anteriormente entre T’Chaka e T’Challa, em que um defendia o secretismo em relação a Wakanda, e outro priorizava a exposição desta), mas, desta vez não existe um dos reis do passado para proteger Wakanda, e sem a existência de Black Panther, Wakanda tem pela frente o maior perigo que poderia enfrentar. Porém, a solução parece óbvia, a união de povos será a resposta para este problema, mas, a falta de um verdadeiro líder, pode ser o maior problema de todos. Para saber mais o filme terão de ver…

Black Panther? É o que falta a Wakanda Forever ???

Há 4 anos atrás, Black Panther criou uma nova mitologia atraente em torno de Wakanda, apresentando um reino africano imaginário cheio de elevada tecnologia, ferocidade e bravura nas batalhas, retidão moral e os únicos a possuírem um metal imensamente poderoso, chamado Vibranium. Com a morte chocante da estrela do filme, Chadwick Boseman, deixou um vazio nesta nova franquia extremamente popular e de sucesso (a primeira longa-metragem está no sexto lugar na lista de filmes de maior bilheteria nos EUA) e criou um enigma de narrativa para o MCU: como fazer uma nova aventura sem seu amado protagonista?

O início do filme começa de forma estrondosa e emocional, realizando a merecida homenagem ao falecido Chadwick Boseman, não deixando ninguém indiferente à mesma. O luto cerimonial do rei T’Challa é maravilhosamente representado nos figurinos, pela belíssima cinematografia acompanhada pela banda sonora de forma brilhante, deixando-nos arrepiados. Isto nos prende e emociona, especialmente quando o logótipo da Marvel aparece no meio do silêncio após vermos várias imagens dedicadas a Boseman.

Percebe-se que foi o intuito do diretor Ryan Coogler, partilhar o luto e a homenagem da MCU para com Chadwick e Black Panther, pois toda a cinematografia, cenários, sonoplastia (edição de som principalmente), tem um toque muito característico, dando quase ao espectador que Chadwick estará ali connosco.

Após a introdução, vemos Wakanda à procura de um novo rumo e estabilidade, tal como referido, esta narrativa parece seguir imediatamente após o primeiro título de 2018, quase que ignorando os eventos decorridos durante estes 4 anos. Isto porque, com toda a exposição de Wakanda, apenas vimos os conflitos entre as várias nações, em busca do conhecimento e de obterem a qualquer custo o famoso minério Vibranium. Já numa outra ponta do Mundo, observamos a beldade do reino subaquático isolado do resto, Talokan, onde a vida é próspera e existe uma paz, harmonia e estabilidade, que neste momento falta a Wakanda. Mas, é aqui que existe um paralelismo entre as duas civilizações, assim como a semelhança existente, quando Wakanda era secreta (pois o brilho único de Talokan, remete-nos a Wakanda em 2018). Contudo, é devido a toda a exposição deixada no filme anterior, que esta civilização está em perigo, o que leva à beira de um conflito mundial.

Apesar de toda a premissa ser bastante interessante, e em especial atenção à recriação e/ou reinterpretação da Atlântida e Namor (que são excelentemente bem pensadas e estruturadas), a restante narrativa assenta numa base, onde sentimos que falta algo, fazendo com que todo o filme seja “manco”, dando a sensação que o filme é focado em T’Challa e no seu Black Panther, mas, depois ele nunca está lá, e todos nós sentimos essa falta (sim, como homenagem, tributo e luto funciona, mas, depois no decorrer da estória, deixa de fazer sentido, porque nada é construído, tudo é apenas uma base, sem pilares e sem algo para ser enaltecido).

Tal como mencionado, neste novo filme, é-nos apresentado o reino de Talokan, (que tem o seu o nome e o visual cultural inspirados na mitologia asteca, maia e inca, sendo um momento de homenagem a estas civilizações indígenas) que é um regalo para os olhos com a beleza que nos é apresentada. Porém, podiam ter sido utilizados mais seres marinhos nesta nação subaquática.

A trajetória da trama transforma Shuri em imatura, mesquinha e egoísta, parecendo que tudo o que faz é por “birra”, sendo exatamente o oposto da Rainha Ramonda e do líder Jabari, M’Baku, que assumem majestosamente uma consistência indiscutível, suportando todo o peso emocional do filme, enquanto Wakanda tenta se afirmar na política global durante o seu luto.

A nível de interpretações, Tenoch Huerta consegue uma boa interpretação de Namor, contudo, esta personagem perde consistência nos minutos finais. Já Winston Duke e Angela Bassett carregam o filme, devido às personagens consistentes e interpretações perfeitas, encaixando perfeitamente no que as personagens pediam. A interpretação de Letitia Wright deixa muito a desejar, parecendo que está noutro filme, o sentimento, emoção e paixão não estão presentes. Ressalva-se que o restante elenco tem uma interpretação dentro do que nos habitou no antecessor deste título.

A nível visual e sonoro, esta longa-metragem é belíssima, tendo bons elementos visuais, caracterização, cinematografia e cenários. Ainda assim, esta adição da MCU oferece para reflexão um dos melhores filmes da Fase 4 (até à data). Contudo, a banda sonora (protagonizada por Rihanna), com exceção de toda a parte instrumental, é apenas adequada à personagem Shuri, ou seja, sem paixão nem envolvência naquilo que Wakanda Forever pedia.

O que tornou Black Panther tão icónico e um marco cultural foi a capacidade de Coogler de evitar batalhas estereotipadas de CGI épicas, típicas da MCU, dando antes como foco a rivalidade entre T’Challa, de Boseman e Killmonger, de Michael B. Jordan, que tinha uma complexidade e emocionalismo envolvente. Assim sendo, este primeiro filme nos deu um herói imperfeito, mas nobre, e um inimigo que era genuinamente simpático e com que o público se poderia identificar, fazendo com que o confronto final fosse mais pessoal e relevante, visto que nos importávamos com os dois. Coogler tenta realizar uma dinâmica similar com Shuri e Namor e por momentos é bem sucedido, mas depressa a narrativa toma um rumo totalmente diferente, tornando todo este paralelismo vazio. Apesar de um CGI brilhante, as fantasias existentes em determinadas personagens, como é o caso de Riri Williams, Aneka e Okoye, não estão bem enquadradas nesta sequela, parecendo até que não se encaixam nos comuns filmes da MCU.

Em suma, Black Panther: Wakanda Forever, é um potencial desperdiçado, tinha tudo para ser bastante superior ao anterior, pela premissa que foi entregue, mas uma narrativa que se perde no que quer dar, ou seja, demasiada focado no luto, perda e homenagem, acaba por apenas ser uma base do esplendor daquilo que Wakanda Forever poderia ser. A nível técnico, é sem dúvida, um dos filmes mais bonitos que poderão ver este ano, principalmente nas salas de grande ecrã. Esta aventura presta uma homenagem comovente à morte do personagem do rei T’Challa de uma maneira que também reconhece a perda real da vida de Boseman. Com isto, vemos que esta sequência enfrentou uma tragédia na vida real e um enorme obstáculo narrativo com a perda da sua estrela e isso é visível no resultado final, pois a narrativa é interessante mas falha nos momentos mais relevantes, além da trama dar reviravoltas artificiais dos eventos. Este filme possui um bom elenco, porém apenas destaca-se a interpretação do recém-chegado Tenoch Huerta Mejía ao mundo da MCU, como o anti-herói. Contudo, o mesmo não se pode dizer da protagonista deste filme, que fica muito aquém do desejado. O amor e carinho por Boseman é sentido do começo ao fim desta longa metragem, fazendo-nos sentir a sua falta em Black Panther: Wakanda Forever. Por fim, destaca-se ainda que o último ato parece uma traição aos espectadores, fazendo com que o clímax seja vazio e sintamos ainda mais falta de Boseman para liderar esta aventura.

Partilhamos, convosco o trailer deste mais recente filme da MCU Black Panther: Wakanda Forever

7.0
Score

Pros

  • Cinematografia e Cenários
  • Interpretação de Tenoch Huerta Mejía, Winston Duke e Angela Bassett
  • Introdução de Namor (e backstory)
  • Sonografia (principalmente Edição de Som)
  • Premissa interessante
  • Uma Homenagem brilhante
  • Bom CGI

Cons

  • Desenvolvimento da narrativa
  • Inconsistência de personagens
  • Shuri parece uma adolescente mimada (dá a sensação que só faz "birra")
  • Interpretação de Letitia Wright
  • Algumas "fantasias" não se enquadram na MCU

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