Durante o final do dia de ontem, a CaixaNerd teve o privilégio de ser convidada para estar presente numa “conferência de imprensa” online dedicada ao filme (curta-metragem) O Lobo Solitário ou The Lone Wolf, com o realizador Filipe Melo e o ator principal Adriano Luz.
Esta conversa foi moderada pelo diretor, produtor e escritor Vincent Lambe (diretor nomeado a um Óscar como melhor curta-metragem em 2019 com o filme Detainment), e esporadicamente foi fazendo as questões colocadas pela imprensa convidada a Filipe ou Adriano. Vincent iniciou esta entrevista abordando um pouco o filme, e pedindo a Filipe para descrever sumariamente o que podemos ver em O Lobo Solitário, assim como surgiu a ideia e qual a fonte de inspiração para esta curta-metragem. Filipe Melo refere sempre ouviu muito a rádio e era algo que gostava de fazer principalmente durante as viagens que realizava. Um dia surgiu-lhe uma rádio local e começou a ouvi-la, e foi nela que se baseou para realizar esta obra (uma rádio chamada Rádio Alenquer), e ao ouvir os programas noturnos da rádio, apercebeu-se que por vezes o locutor desempenhava um papel relevante para quem o ouvia, pois era como se de um pai se tratasse, pois para uma comunidade pequena onde toda a gente se conhece, havia uma relação muito próxima entre locutor e os ouvintes. Assim surgiu-lhe a ideia de tentar recriar este tipo de ambiente e criar algum tipo de relacionamento com o público ou até o mesmo um ambiente mais pesado entre personagens.
Filipe indicou que foi por causa dessa ideia que decidiu fazer um filme tipo one-shot, com a presença maioritária de um ator perante a câmara, onde seja possível (re)criar este tipo de ambiente, não só entre locutor e ouvintes, mas também entre espectador e personagens. Vincent gratificou Filipe pelo excelente trabalho de câmara e acabou por perguntar quais as dificuldades de trabalhar com a mesma para obter o pretendido. O diretor português afirmou que não é algo fácil de se fazer, pois sistematicamente tinham de alterar paredes, mesas, trocar de câmaras, e isto era um trabalho muito rigoroso e exigente, de modo a que o resultado fosse exatamente aquele que ele deseja e que nos foi apresentado.
Passando um pouco para o Adriano Luz, Vicent inicialmente acaba também gratificar todo o trabalho do ator, e deixa-lhe uma pergunta, sendo ele um ator com uma vasta experiência no teatro, se este percurso o ajudou no trabalho e preparação para este papel. Adriano afirmou que sim, que sem dúvidas o teatro o ajudou nesse sentido, sendo que é um ator que nasceu no teatro, mas não deixou de parte todo o trabalho que já teve em câmara (filmes, séries e telenovelas), pois no caso de O Lobo Solitário, a personagem que interpreta, Vítor, apenas ouve as pessoas ao telefone, e tal como o próprio diz: “tinha de namorar a câmara”, dedicando todas as suas expressões à câmara, criando uma espécie de relação entre o ator e a câmara, algo que não era possível se não tivesse uma “bagagem” dentro do Mundo do cinema.
Após alguns momentos de conversa, Vicent decide passar um pouco “a palavra” à audiência/imprensa, acabando por haver algumas perguntas sobre aspetos técnicos do filme, como por exemplo, como foi trabalhar com Dillon Bennett (diretor de sonografia, com trabalhos como: His Dark Materials; Black Mirror; Alien: Covenant; The Legend of Tarzan; Steve Jobs; entre outros), neste caso Filipe acaba por admitir que foi um acaso que o levou a trabalhar com Dillon, pois quando estava à procura de editor de som, teve uma conversa com um amigo sobre esse assunto, onde o seu amigo confidenciou-lhe que a sua esposa estava a trabalhar com um excelente editor de som. Assim foi como os dois se conheceram e Filipe demonstrou a sua gratidão para com o excelente trabalho que Dillon teve em O Lobo Solitário.
Estando nesta vertente técnica, houve espaço para a CaixaNerd também colocar uma pergunta relacionado com sonografia, neste caso, a CaixaNerd aproveitou para questionar, se já que Filipe Melo é também músico e compositor, se isso o ajudou a definir os momentos de silêncio total e/ou inserir uma música ambiente mais tensa nesta curta. Filipe acaba por confessar que já tinha bem estruturado o que queria fazer a nível musical, em conjunto com o seu amigo e vizinho Paulo Furtado (vocalista da banda The Legendary Tigerman).
Voltando um pouco à conversa entre Vincent, Filipe e Adriano, o moderador acaba por questionar a Filipe Melo o que o levou a convidar Adriano Luz para interpretar Vítor, e no caso de Adriano como foi aceitar esta proposta. Adriano respondeu imediatamente que ao saber que era Filipe que estava por trás desta obra, não pensou 2 vezes e aceitou imediatamente. Enquanto Filipe partilhou que queria muito trabalhar com atores profissionais portugueses, e assim surgiu naturalmente o nome de Adriano Luz. O realizador fez um pequeno destaque sobre o trabalho de Adriano, ressalvando o seu profissionalismo, pois durante uma cena ele esqueceu-se de dar uma indicação ao ator, porém Adriano trabalhou de forma exímia e mesmo sem a indicação, foi capaz de interpretar e fazer exatamente aquilo que Filipe imaginava mesmo sem o dizer.
Neste momento, foi possível a CaixaNerd fazer mais uma pergunta, neste caso algo mais direcionado para os dois, quer ator quer realizador: sendo um filme dedicado às emoções, o que ambos sentiram após toda a realização desta curta-metragem, a esta questão Filipe decidiu passar a “palavra” a Adriano, que destacou que foi algo que deu muito trabalho e foi cansativo (como por exemplo, houve um dia que existiram 21 takes, contudo existe o sentimento de satisfação), mas também que sem o trabalho não há resultados, mas também não há satisfação, e é isso mesmo que Adriano sentiu no final da produção do filme (que segundo eles os filmes não terminam, vão se acabando). Mas apesar deste sentimento, também dependia do veredito crítico de uma pessoa muito especial para ele, neste caso do seu filho, de 16 anos na altura, que lhe mostrou o filme, e este demonstrou-se muito satisfeito, algo que fez o pai se sentir realizado.
Por fim, e estando esta conferência de imprensa a terminar, a CaixaNerd foi ainda presenteada com a possibilidade de fazer mais uma pergunta, e esta foi algo mais direcionada ao realizador. Sendo esta curta-metragem algo com bastante potencial para mais, se Filipe teria em mente adaptar esta estória para uma longa-metragem, ou como poderia finalizar esta estória. Filipe acaba por responder de uma forma muito direta e objetiva, este filme foi projetado como sendo uma prova de conceito, e como tal é algo pensado para contar esta narrativa neste segmento de filme (curta-metragem). Assim sendo, a resposta foi não, não há intenção em pensar em O Lobo Solitário como uma longa-metragem.
Foi com agrado que a CaixaNerd esteve presente nesta conferência de imprensa a nível internacional, à conversa com o diretor Filipe Melo e o ator principal Adriano Luz de O Lobo Solitário, uma curta-metragem que vale muito a pena ser vista (no próximo dia 16 de janeiro, pelas 21h, o Teatro Maria Matos, onde será exibido de forma gratuita), sendo que está a concorrer aos nomeados dos Óscares 2023, e sinceramente esperamos que esteja entre os nomeados revelados no dia 24 de janeiro.
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