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A Plague Tale: Requiem (PC) – Análise

A Plague Tale: Requiem é o segundo título da franquia A Plague Tale, sucedendo Innocence, jogo que saiu em 2019. Neste mais recente título ao ser uma sequela, passa-se imediatamente após os eventos do primeiro jogo, mais precisamente cerca de 6 meses. Para quem possa não se recordar ou até mesmo não conhecer o jogo, a franquia A plague Tale, está enquadrada em meados do século XIV, onde as personagens principais são Amicia De Rune e o seu irmão Hugo, jovens com ascendência nobre que vivem numa região no sudoeste de França, os eventos do primeiro jogo passam-se exatamente aquando da Guerra dos Cem Anos, em que as tropas inglesas invadiram França e também no auge da peste negra, devido a todos estes problemas existentes os jovens acabam por ficar sozinhos “perdidos” num “mundo novo”, que devem explorar para encontrar um “porto seguro”.

Tal como o seu antecessor, A Plague Tale: Requiem tem um estilo narrativo focado em momentos cinematográficos muito baseado em outros jogos, principalmente The Last of Us e Uncharted, sendo aqueles que são os mais sonantes dentro deste estilo. Está aventura possui um elenco de voz bastante interessante, sendo Charlotte McBurney que interpreta Amicia; Logan Hannan que representa Hugo; Lucy Briggs-Owen dá voz à mãe dos protagonistas; Kit Connor interpreta Lucas; Harry Myers representa Arnaud e Alistair Petrie dá voz ao Count Victor of Arles, entre outros atores.

As Emoções e os Traumas…

A Plague Tale: Requiem, como já anteriormente mencionado, inicia cerca de 6 meses após os acontecimentos do título anterior. Neste momento Amicia e Hugo vivem momentos de paz e serenidade, brincando pelos belos campos (destacando-se de imediato o art design deste mundo) com o seu amigo Lucas. E é no meio destas brincadeiras que se desenrola o tutorial do jogo, que nos permite conhecer as “artimanhas” que teremos de dominar quando mais forem necessárias.

Apesar de toda esta tranquilidade, ao explorarem umas ruínas, acabam por se deparar com uma aldeia que acaba de ser atacada, no meio da confusão, e apesar de ainda ser a fase de intro, começamos a perceber como irá ocorrer toda aventura (pois tal como o primeiro jogo, este tem como base o stealth), e escondidos entre a vegetação alta, muros, casas ou até carruagens, temos de escapar daqueles que nos querem atormentar. Contudo, Hugo que parecia ter a doença controlada (pois Hugo tem um problema de saúde misterioso desde nascença, sendo conhecida como mácula), esta volta a despertar.

Assim que Hugo acorda, após ter desmaiado devido ao stress e o despertar da doença sentida nos confrontos anteriores, está junto à sua irmã, e ambos voltam a estar reunidos novamente com Lucas, que os tenta levar até uma nova cidade na esperança de encontrarem uma cura para a mácula de Hugo. Contudo, não é apenas este problema, de saúde de Hugo, que os “persegue” até à nova cidade, mas também, novos desafios devido à instabilidade social existente na época, além do caos causado pela peste negra devido aos ratos.

Na esperança de encontrarem uma cura para Hugo, os alquimistas que tentam ajudar a criança na ótica de Amicia, não passam de uns trastes que apenas o querem estudar e fazê-lo de cobaia, acabando esta por criar uma “raiva” interna, devido aos traumas vividos no passado. Assim esta jovem, sente que deve agir por conta própria e arriscar em algo um pouco irreal, mas que poderá ser a “luz ao fundo do túnel” ou talvez possa descobrir a resposta que procura, acabando por confiar nos sonhos recorrentes de Hugo, sobre uma ilha.

Assim sendo, decidem por “pés a caminho” e durante toda a aventura surgem inúmeros perigos, desde soldados, mercenários e os próprios ratos da peste, que acabam por tornar esta tarefa ao jogador complicada, visto este ter de contornar todos estes perigos e desafios, sem ser detectado. Durante a viagem, os irmãos acabam por ser cercados por um bando de ratos famintos e nesse momento de stress, as emoções de Hugo emergem e este acaba por despertar uma capacidade misteriosa, subitamente esta criança começa a controlar os ratos que os estão a atacar.

Esta habilidade aparenta estar ligado a algo divino ou relacionada com com a doença de Hugo. Porém, estando o perigo sempre à espreita, um dos líderes dos mercenários presencia todo o momento sobrenatural vivenciado pela criança, acabando estranhamente por resgatar Hugo e Amicia, alegando que os irá proteger durante a sua jornada. Mas Arnaud (o mercenário), tem outros planos, mostrando um estranho entusiasmo para chegar à cidade de Provença (cidade que os irmãos anseiam ir, devido aos sonhos de Hugo).

Em A Plague Tale: Requiem, toda a narrativa é envolvente, onde existe uma urgência em todos os atos de Amicia, Hugo e das restantes personagens, que estes encontram pelo caminho. Existem muitos conflitos, que de forma direta ou indireta, afetam os nossos protagonistas, no entanto, a missão de Amicia é salvar e curar o seu irmão, além de ter de lidar com todos os seus traumas do passado. Já Hugo ainda está à descoberta do seu próprio propósito, sendo ele ainda uma pequena criança, querendo apenas se livrar da sua Mácula. Mas, no fundo, a sua maior “doença” é o descontrolo emocional que tem, tal como Amicia, devido às experiências passadas. As restantes personagens são quem os ajuda a construir todo este mundo de Requiem, e os jogadores acabam por “ter nas mãos” a missão de tentar resolver e salvar toda a gente.

Um Novo Mundo…

A Plague Tale: Requiem, juntamente com outro jogo aqui analisado (Metal: Hellsinger) são as maiores surpresas do ano dentro do mundo dos videojogos. Requiem apesar de ser o segundo título, é notável a evolução do anterior para este, acabando por mostrar aquilo que Innocence poderia ter sido com um budget equivalente. A forma criativa como a franquia de A Plague Tale utiliza de forma bastante criativa tanto a Idade Média, como os tempos da peste negra assim, e consegue-o fazer brilhantemente criando um desenvolvimento com uma premissa bastante interessante, pois combinar a alquimia (ou medicina da altura) existente para criar melhoramentos em armas ou criar novos tipos de munições, assim como, a própria peste dos ratos que parece de certa forma ligada ao mundo que estamos, o que impulsa todo um mistério à volta destas pequenas criaturas (não se focando apenas no conhecimento adquirido, de como surgiu a peste negra).

A franquia de A Plague Tale, no primeiro título já nos tinha dado um cheirinho da qualidade gráfica e de art design que a Asobo Studio era capaz de trazer aos jogadores, mas em Requiem esta qualidade supera qualquer uma das expectativas em relação ao realismo, representação da época, design do ambiente, sendo absurdo (no sentido positivo) aquilo que Requiem nos apresenta. Destaca-se toda a qualidade de art design de tudo o que nos rodeia, mas também, o design das personagens, tornando este no jogo mais bonito do ano até ao momento.

A nível de trabalho de som, este videojogo apresenta-se com uma banda sonora, extremamente bem adequada quer à época, cultura e ambiente negro vivido não só pelos protagonistas Amicia e Hugo, mas de todo mundo no auge da peste negra, elevando este a momentos sentidos em cinema (muito semelhantes ao que The Last of Us Part II fez no passado). Já em relação à edição som, Requiem está muito bem trabalho, sendo possível sentir todos os sons que a natureza imita, assim como, a peste sombria que nos segue, neste caso os “ratos famintos”.

Em termos de estória e narrativa, Requiem apresenta-nos uma premissa bastante interessante, já que tenta dar uma espécie de “twist” ao desenlace da peste negra na Idade Média. No entanto, o desenrolar desta premissa torna-se um pouco desequilibrado, pois o desenvolvimento da narrativa nem sempre tomou o melhor rumo, tal como interação de personagens e principalmente a personalidade das personagens, visto que este jogo tem uma componente forte na construção de personagem. Em Requiem, sendo um dos principais focos da narrativa, o desenvolvimento de personagens e de como estas ultrapassam os seus medos, traumas e lidam com as suas emoções, este recente jogo fica um pouco a desejar nesse aspecto, já que “aquilo” que está presente nas próprias personagens e construção destas, que é o seu carácter, é extremamente volátil, pois as personagens mantém uma postura forte e tem ideias muito fixas, mas uma simples conversa (sem grande esforço) é o suficiente para que estas tomem outro rumo, que tinham acabado de afirmar que não o fariam.

Apesar de estar a mencionar estes aspectos, parece estranho não referenciar a jogabilidade, já que estamos a falar de um jogo, mas sim, Requiem entrega-nos uma jogabilidade rica, apesar de mantermos as mesmas ferramentas que no seu antecessor Innocence, assim como o estilo de jogabilidade, este recente título da franquia vai acrescentando alguns pormenores que melhoram a experiência como é o caso do crossbow e/ou o sistema de crafting que nos apresenta. No entanto, as mecânicas tornam-se um pouco redundantes quando entramos em boss fights, que parece não existir um bom “casamento” entre as mecânicas usadas e o estilo de jogo nestas batalhas. Esta jogabilidade também apresenta as suas debilidades, já que a fórmula utiliza para “encontrarmos” munições/armas é apenas termos paciência e rondarmos o mapa, que facilmente adquirimos tudo o que precisamos, sendo que podemos encontrar estes exatamente nos mesmo locais, o que facilita bastante tudo, mas também retirar alguma da imersividade que os criadores tentam dar ao jogo.
Apesar de alguns pontos menos positivos, a progressão na estória com base em puzzles continua a funcionar bem, e é algo bem construído que faz com que o jogador tenha aqui algum desafio (apesar de algo um pouco “repetitivo” em relação ao título anterior, funciona bastante bem e é divertido).

Em suma, A Plague Tale: Requiem, é certamente umas das maiores surpresas do ano, tal como mencionado anteriormente o nível gráfico, assim como o nível e detalhe do art design é majestoso, remetendo-nos facilmente à época em que se passa, e tudo isto torna-o talvez no jogo mais bonito do ano. A banda sonora e edição, estão divinais, algo que permite uma imersão ao jogador soberba, que de outra forma não seria possível, assim como o voice acting está muito bem executado (podendo existir alguns problemas de voice sync, mas nada que atrapalhe a jogabilidade). Requiem, apresenta-nos uma premissa bastante interessante, sendo por vezes previsível, mas isto não é problema quando a estrutura e o desenvolvimento da narrativa são bons, contudo é neste ponto que Requiem não atinge o seu esplendor, pois o desenvolvimento da narrativa nem sempre o melhor, principalmente devido ao carácter e personalidade das personagens que são extremamente voláteis, sendo este o ponto menos positivo deste título. Contudo destaca-se que Requiem certamente se irá bater pelo título de GOTY, mas se o desenvolvimento da narrativa estive ao nível de outros aspectos técnicos, este “underdog” nas premiações iria certamente “roubar” a estatueta (mas o mundo dos jogos não é feito de estatuetas, mas sim de diversão, e Requiem entrega isso ao jogador). A Plague Tale: Requiem está disponível no Xbox Game Pass, ou na Steam pelo preço de 49.99 euros, e assim podem experienciar a aventura de Amicia e Hugo pelas terras negras de França.

Deixamos-vos o trailer desta aventura da Idade Média dominada pelos ratos da peste negra…

8.0
Score

Pros

  • Permissa interssante
  • Art Design do mundo é genial
  • Nível gráfico majestoso
  • Direção Artística
  • Banda Sonora
  • Design das personagens

Cons

  • Narrativa nem sempre é consistente
  • O carácter das personagens é volátil
  • Por vezes as mecânicas não "casam" bem com o estilo de jogo

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