Análises, Cinema

Wendell & Wild – Análise

Wendell & Wild é um filme de comédia e terror em stop-motion 2022 dirigido por Henry Selick (diretor de cinema, produtor, argumentista, designer de produção e animador americano mais conhecido por dirigir os filmes de animação em stop-motion tais como The Nightmare Before Christmas, James and the Giant Peach e Coraline) a partir dum argumento escrito por Selick e Jordan Peele (ator, comediante e cineasta americano mais conhecido por seu trabalho no cinema e na televisão nos gêneros de comédia e terror, sendo alguns dos seus trabalhos mais renomados Get Out, Us e Nope), que também são os produtores produtores desta longa-metragem animada, baseado no livro inédito de Selick e Clay McLeod Chapman (autor americano dos romances Whisper Down the Lane, The Remaking, entre outros) com o mesmo nome.

Destaca-se que esta é a primeira longa-metragem de Selick desde Coraline (2009) e estreou no 47º Festival Internacional de Cinema de Toronto a 11 de setembro de 2022, sendo posteriormente lançado nos cinemas a 21 de outubro de 2022 e depois em streaming na Netflix a 28 de outubro de 2022 (cumprindo assim as regras para poder ser nomeado e participar nos Óscares). Ressalva-se também que esta animação é dedicada a Mark Musumeci, um consultor que trabalhou em quase todos os filmes stop-motion anteriores de Selick (desde The Nightmare Before Christmas), que faleceu durante a produção.

Esta animação é estrelada por Keegan-Michael Key (ator, comediante, roteirista e produtor americano que já realizou diversos trabalhos com Jordan Peele para a televisão. Este ator já teve diversos papéis coadjuvantes em vários filmes, incluindo Horrible Bosses 2, Pitch Perfect 2, Don’t Think Twice e Dolemite Is My Name. Ele também deu a voz a diversas animais, tais como The Lego Movie, a franquia Hotel Transylvania, Storks , The Angry Birds Movie, The Star, The Lion King remake, Toy Story 4 e mais recentemente para o remake de Pinóquio), Peele, Angela Bassett (atriz americana, já permeada com diversos prêmios por parte da indústria e nomeada para os Óscares. A sua carreira deu o salto com sua interpretação da cantora Tina Turner no filme biográfico What’s Love Got to Do with It. Destacam-se também os seus trabalhos em Malcolm X, Panther, Notorious, Black Panther, Avengers: Endgame, entre outros), Lyric Ross (jovem atriz americana mais conhecida pelo seu papel de Deja Pearson na série dramática da NBC This Is Us), James Hong (ator, produtor e diretor americano com uma longa carreira na indústria, pois iniciou a trabalhar nela em 1950, tendo no seu curriculum mais de 650 créditos no cinema e na televisão. Na televisão destacam-se os seus trabalhos nas séries The New Adventures of Charlie Chan, Bonanza, Perry Mason, I Spy, Kung Fu, etc.. No Mundo do cinema ele destaca-se as suas interpretações na franquia Chinatown, Blade Runner, Wayne’s World 2, Balls of Fury, Everything Everywhere All at Once, entre outros.), Ving Rhames (ator americano, mais conhecido pelos seus papéis nos filmes da franquia da Mission: Impossible, Pulp Fiction, Striptease, Con Air, Bringing Out the Dead e Dawn of the Dead, etc.), entre outros.

Bem-vindos a Rust Bank…

A animação inicia com a jovem Kat Elliot (Lyric Ross) a divertir-se num parque de diversões com os seus pais Delroy (Gary Gatewood) e Wilma (Gabrielle Dennis), que são os donos duma cervejaria na cidade de Rust Bank. De regresso a casa durante uma noite de tempestade, Kat se assusta com um verme de duas cabeças que sai da sua maçã doce, causando uma tragédia na vida desta jovem.

Passados 5 anos, verificamos o impacto que teve aquele momento trágico na vida de Kat, pois esta torna-se numa delinquente juvenil, amargurada, traumatizada, tendo esporadicamente ataques de pânico. Devido ao seu comportamento rebelde, Kat é institucionalizada num colégio para meninas existente em Rust Bank, liderada pelo padre Best (James Hong).

Enquanto no submundo, vemos os irmãos demónios Wendell (Keegan-Michael Key) e Wild (Jordan Peele) a passar os seus dias a colocar creme de cabelo rejuvenescedor na cabeça do seu pai, o temível demónio Buffalo Belzer (Ving Rhames), de forma a evitar que este fique careca, enquanto sonham em fazer um parque de diversões revolucionário. Para conseguir realizar o seu sonho, os irmãos planeam a sua fuga do inferno e das garras do seu pai, de forma a construir o seu parque de diversões, porém para conseguir isso tem de ser invocados para o Mundo dos vivos e vêem em Kat uma oportunidade para tal.

Durante a sua ida para o colégio, Kat fica a saber que houve um incêndio na cervejaria (em princípio devido a um ato criminoso), que causou o colapso económico da sua cidade. Ao chegar ao colégio, Kat evita fazer amizades, inclusive com um trio de colegas que a recebem à sua chegada. Durante esta recepção, ela salva Siobhan Klaxon (Tamara Smart), cujos pais possuem a empresa prisional Klaxon Korp. Kat também conhece Raúl (Sam Zelaya), um menino trans que também já foi amigo de Siobhan, quando era ainda menina.

Durante uma aula ministrada pela Irmã Helley (Angela Bassett), Kat ganha uma marca na sua mão parecida com uma boca de uma caveira. Perante isto, a irmã Helly aconselha a jovem a esconder a marca em questão. Porém, esta marca é detectada pelos irmãos Wendell e Wild, identificando Kat como a sua “donzela do inferno”, e eles aparecem a ela no seu sonho, prometendo a ela realizar o seu sonho caso ela os invoque para o Mundo dos vivos.

Perante o assédio dos demónios Kat os convoca com a ajuda de Raúl. No entanto, os irmãos aparecem noutra parte do cemitério, fazendo Kat acreditar que ela foi enganada por estes seres infernais. Com isto, qual será o impacto Wendell e Wild na cidade Rust Bank? Será que Kat irá realizar o seu sonho, mas a que preço? Para desvendar estes mistérios a animação terão de ver.

A Invocação…

Wendell & Wild, tenta ser uma estória de Halloween (com algum terror e thriller à mistura, mesmo para uma animação) com o seu estilo próprio. Esta configuração da estória é imaginativa, ousada, porém o ritmo da narrativa por vezes não é o mais adequado, limitando a evolução da mesma como o desejável, dificultando especialmente os momentos de alívio cómico. Em Wendell & Wild é possível vislumbrar a combinação de estilos de Henry Selick e Jordan Peele, nesta adaptação da Netflix, sendo o resultado uma maravilha a nível de stop-motion e de imagem, com típico design “negro” e humor macabro ao qual estes criativos já nos habituaram. O estilo de animação inclui o hiper-realismo dos planos de fundo e detalhes emocionantes, acompanhada com uma banda sonora sublime, tornando toda esta experiência adequada para o Halloween.

Tal como mencionado, a narrativa apresenta um ritmo inadequado, pois temos a sensação que estamos perante dois enredos distintos, pois quando estamos a ver a estória de Kat quase não há ligação a de Wendell & Wild, parecendo dois mundos completamente desencontrados, e no momento que estes colidem, surge uma estranheza na narrativa, pois como a construção entre estes possíveis personagens é tão “transparente”, que parece que as estórias não se conectam. Este é o problema mais “gritante” desta animação, pois apesar da qualidade técnica de animação (stop-motion) que nos é apresentada, a narrativa fica muito aquém do esperado.

Em relação ao trabalho de voz apresentado em Wendell & Wild, destaca-se o trabalho da dupla de demónios, Jordan Peele e Keegan-Michael Key, que são os que mais ” lutam” para agarrar o público, acabando assim por levar este filme a “um bom porto” apesar dos problemas já mencionados. Porém, o mesmo não se pode dizer do elenco mais jovem, inclusive da protagonista, que praticamente não passa as emoções que a personagem tenta transmitir, algo que também tem algum peso na qualidade da animação.

Em suma, Wendell & Wild, devido ao ritmo inadequado da narrativa, temos a sensação que estamos perante dois enredos de filmes distintos, onde os vilões/antagonistas são fracos roçando por vezes o patético, especialmente quando os querem fazer personificar pessoas reais, numa tentativa de crítica social. Além do mais as interpretações não ajudam, especialmente da protagonista e do núcleo mais jovem. No entanto, apesar de todas as suas fraquezas, Wendell & Wild é inegavelmente um banquete visual, onde o stop-motion é pura arte, e um trabalho meticuloso com personagens detalhadas. As melhores piadas e sustos também são principalmente a nível visual. Destaca-se também o reencontro entre Selick e o compositor francês Bruno Coulais, cujos riffs jazzísticos e peças de coro assombrosas ajudaram está animação, onde também é possível detectar a homenagem ao punk old-school. Mesmo com as falhas existentes Wendell & Wild não deve ser “condenado ao submundo”, sendo um filme adequado para ver no Halloween, porém não é da mesma qualidade que outros trabalhos icônicos de Selick.

Partilhamos, convosco o trailer desta animação de Halloween Wendell & wild

7.0
Score

Pros

  • Um banquete visual do stop-motion
  • Estória é imaginativa e ousada
  • Banda sonora sublime
  • A direção de Henry Selick

Cons

  • Ritmo da narrativa inadequado
  • Prestação de vozes aquém do esperado da protagonista e do elenco mais jovem
  • Vilões/antagonistas fracos

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