Análises, Cinema

The Trial of the Chicago 7 (Netflix) – Análise

The Trial of the Chicago 7 é um filme dirigido por Aaron Sorkin (conhecido pelos seu trabalho em A Few Good Men, The American President, The Social Network, Steve Jobs, Moneyball, entre outros, ou em séries como, The West Wing e Studio 60 on the Sunset Strip). The Trial of the Chicago 7, é uma longa-metragem baseada numa história verídica, sobre um protesto pacífico na Convenção Nacional Democrata de 1968, que se transformou num violento confronto entre protestantes e a polícia.

Esta longa-metragem é estrelada por Sacha Baron Cohen (ator reconhecido pelos seus personagens cómicos, tais como Borat, Ali G, Brüno e General Aladeen), Jeremy Strong (mais conhecido pela sua interpretação na série Succession, mas com o seu contributo em filmes como, Lincoln, The Judge, Selma, The Big Short, entre outros), Eddie Redmayne (ator galardoado pelo seu desempenho The Theory of Everything, The Danish Girl, é reconhecido mais recentemente pelo seu trabalho, no mundo fantástico de Harry Potter, em Fantastic Beasts), John Carroll Lynch (ator renomado pelos seus papéis em Fargo, Face/Off, Gran Torino, Shutter Island, Ted 2, The Invitation e Zodiac), Joseph Gordon-Levitt (ator conhecido pelas suas interpretações em Things I Hate About You, 500 Days of Summer, Inception, The Dark Knight Rises e Lincoln), apesar destes serem os grandes protagonista deste filme, este elenco de renome não se fica por aqui, contendo a participação de atores como, Mark Rylance, Frank Langella, Michael Keaton, entre outros.

Este drama biográfico, inicialmente previsto sair em cinema pela produtora Paramount Pictures, que devido à pandemia instalada no mundo, vendeu os direitos de distribuição à Netflix, que agarrou com grande apreço este cargo, visto publicar na sua plataforma com poucas semanas de “atraso” em relação à data prevista para o cinema.

O Julgamento…

O filme, inicia com um enquadramento histórico sobre a posição dos Estados Unidos da América no Vietnam, e a guerra que estava instalada neste país. Assim como, marcos históricos como a morte de Martin Luther King Jr. e as convenções e movimentos políticos que tinha em cima da “mesa”.

Pois tudo isto, desencadeia uma moção protestante de diversos partidos e/ou mentes políticas, que querem expor, perante uma convenção nacional democrata que se iria realizar em Chicago, as suas ideias e sentimentos sobre o caminho que os EUA estavam a tomar, assim como as suas ideias políticas. Observamos o líder da SDS (Estudantes por uma Sociedade Democrata) Tom Hayden (Eddie Redmayne) e o seu ajudante Rennie Davis (Alex Sharp) a mobilizarem os apoiantes do partido a os seguirem no protesto que estavam a preparar. David Dellinger (John Carroll Lynch) líder de um partido de oposição à guerra no Vietnam (MOBE) a partir sozinho para a convenção, onde afirma que irá lutar com palavras e nunca com violência. E também nos é apresentando o partido Yippie (Youth International Party – Partido Internacional da Juventude), liderado pelo próprio fundador Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen) e co-fundador Jerry Rubin (Jeremy Strong), também em preparação para participarem nos protestos na Convenção de Chicago, mas de uma forma mais festiva e pacifista. E por fim, é nos apresentado Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II) presidente nacional das Panteras Negras, que queria-se apresentar nesta Convenção para lutar pelo direito das pessoas de raça negra (afrodescendentes), fazendo um discurso acima de tudo, de forma serena e tranquila, recusando até levar uma arma de fogo que lhe tinha sido proposta (para sua proteção, visto ter ocorrido meses antes o assassinato de Martin Luther King Jr.).

Contudo, esta longa-metragem desenrola-se alguns meses após a ocorrência dos protestos (que inicialmente vimos os líderes de cada partido a preparem), e a história centra-se, no julgamento dos organizadores destes protestos, que foram acusados de conspiração. O caso surgiu após o protesto na Convenção Nacional Democrata de 1968, em Chicago, liderado por: Tom Hayden e Rennie Davis, os jovens universitários, que representam a “indignação educada” da classe média; Abbie Hoffman e Jerry Rubin que eram os “Hippies selvagens”, que tinham o objetivo de trazer um “caos feliz” para as ruas; David Dellinger, o pacifista suburbano de meia-idade; dois ativistas e académicos menos conhecidos, John Froines e Lee Weiner.

Além destes 7, também foi julgado, por razões políticas, Bobby Seale (perfazendo o oitavo réu), que sempre se opôs à sua inclusão com os outros julgados, visto não estar envolvido na manifestação, como a acusação queria fazer transparecer (e acabou por conseguir ser separado do caso, tornando assim o Chicago Eight – Oito de Chicago em Chicago Seven – Sete de Chicago).

Ao longo do julgamento, que é liderado pelo juíz Julius Hoffman (Frank Langella), sendo a acusação realizada pelo jovem e ambicioso, o promotor Richard Schultz (Joseph Gordon Levitt) e a defesa pelo William Kunstler (Mark Rylance), verificamos que este evento é tendencioso, pois o juiz não esconde o seu desprezo pelos réus e a sua vontade de fazer com que a “balança da justiça” seja a favor do governo.

Para além desta visão do juiz, que parece já ter a sentença definida, ele demonstra que não quer conhecer os detalhes do caso, nem ouvir a opinião dos jurados. Os próprios julgados começam a perceber (principalmente incentivados pela mente de Abbie, e também devido às testemunhas utilizadas pela acusação), que tudo isto, não se tratar de um julgamento “normal” pelos confrontos que aconteceram meses antes, mas sim um julgamento político, querendo dar a ilusão que as mentes políticas “mais abertas” são um perigo para sociedade, pois apenas querem gerar conflitos e promover guerras civis ou motins.

Com isto, o julgamento torna-se numa espécie de “circo”, tanto em termos de quão ironicamente Abbie e Rubin tratam os procedimentos (visto se apresentarem indignados com o como é conduzida esta audiência, custando-lhes diversas ações disciplinares), quanto na forma como o juiz Hoffman o conduz, pois acusa diversas vezes Bobby Seale de desrespeito pelo tribunal, pois fala sem se fazer representar por um advogado (pois está recuperar de cirurgia), uma ausência que foi reconhecida pelo juiz Hoffman (mas que a usa sempre para repreender Bobby).

Para além, destas situações caricatas, o juiz apresenta possuir indícios de senilidade ou até mesmo de insanidade, visto não se recordar de eventos recentes, ou mudando todas as condições dos acusados, de audiência para audiência, tornando cada vez mais difícil o trabalho da defesa, o que os leva a estes terem várias repreensões e ações de desrespeito contra o tribunal.

O desenrolar desta história, é dada com momentos de flashbacks durante os inquéritos aos réus e testemunhas (invocadas maioritariamente pela acusação). Com base nestes flashbacks, é possível termos a ideia como o protesto foi planeado pelos diferentes partidos, mas principalmente a origem dos confrontos, que levou a este desfecho. Pois dentro dos 7 em julgamento, os próprios têm ideias diferentes, acabando por se acusarem uns aos outros pelo sucedido, pois por vezes palavras retiradas fora do contexto ou a omissão de algumas palavras num discurso, são o suficiente para fazer mover uma multidão em massa (que estavam sobre tensão, e com um mindset agressivo, devido aos eventos anteriores de violência por parte da polícia) para iniciar um ataque. Neste momento, o advogado da defesa William Kunstler, decide mudar um pouco de estratégia, visto conhecer o verdadeiro culpado pelos incentivos do confronto pelo o qual os seus clientes são acusados.

Contudo, a defesa faz de tudo para combater esta situação, conseguindo nos últimos momentos um “trunfo” que poderá reverter todo o julgamento a seu favor, no entanto, poderá não ser suficiente para combater uma acusação que está associada ao governo Americano e um juiz que está condicionado pela sua mente retrógrada e debilitada, e que na sua opinião o fecho deste julgamento já está definido mesmo antes de ter iniciado.

A Sentença…

Este filme da Netflix possui um elenco forte e deslumbrante, que consegue retratar bem os ativistas anti-guerra da administração Nixon, assim como, todas as partes envolvidas neste famoso julgamento, que se arrastou por meses. Esta longa-metragem é um drama baseado em factos reais (e não um documentário), e como qualquer boa obra de ficção, esta aborda apenas as verdades essenciais, de forma a transmitir a mensagem de forma eficaz.

Quanto à cinematografia, esta é acompanhada por uma excelente edição, que traduz numa forma brilhante de contar esta história, não ficando presa apenas dentro do tribunal, dando por vezes um abanão ao ritmo da narrativa, ao mostrar o caos nas ruas e as multidões furiosas a gritar, através da mistura de cenas reais com as encenadas. No entanto, alguns destes “malabarismos”, incluindo disputas entre as personalidades e os inevitáveis ​​flashbacks do que aconteceu, poderiam ser mais bem trabalhados (pois, por vezes são incluídas numa forma muito abrupta e repentina).

A banda sonora também é um bom fator para nos fazer emergir nos ambientes e momentos oportunos, contudo a nível de edição de som, em alguns momentos, durante os protestos é difícil de perceber exatamente o que está a acontecer, deixando os confrontos um pouco confusos a nível sonoro.

As interpretações de todo o elenco nesta longa-metragem são excelentes, mas o maior destaque, é sem sombra de dúvidas, para os atores Frank Langella e Sacha Baron Cohen, que tornam todo este julgamento, num verdadeiro “circo”, tal como é suposto ser representado, mas mais do que isso, têm um impacto muito expressivo no expectador.

Para um tópico “sério”, The Trial of the Chicago 7 é algo inesperado, e por vezes até mesmo divertido, no entanto, seja qual for o caso, o filme é oportuno, fazendo-nos relembrar as questões associadas à liberdade de expressão. Acima de tudo, é uma história extremamente relevante, contada com inteligência, mas com certos pontos “cegos”, onde a retórica e a tendência de sobrecarregar uma narrativa já carregada de peso.

Em suma, este título é um filme agradável, e uma boa aposta do canal de streaming Netflix, que sem surpresas já que lhe valeu nomeações a diversos prémios da indústria, e tendo já vencido vários em diversas categorias. Apresentando-se também como um dos favoritos para os Óscares em algumas categorias, principalmente devido ao desempenho de Sacha Baron Cohen.

Partilhamos, convosco o trailer deste drama biográfico…

8.0
Score

Pros

  • Interpretação excelente de todo o elenco
  • Mas, maior destaque para os atores Frank Langella e Sacha Baron Cohen
  • Narrativa (ajuda na interpretação dos atores)
  • Tempo adequado (com um ritmo coerente)
  • Cinematografia e edição do filme

Cons

  • Sonografia
  • Em alguns momentos a figuração não parece estar enquadrada nos anos 60
  • Existem pequenos pontos na história sem ligação aparente à narrativa
  • Assim, como alguns dos flashbacks são incluídos de uma forma abrupta

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