Análises, Cinema

The Father – Análise

The Father é um filme dramático, que conta a estória de Anthony, um homem idoso que sofre de demência progressiva. Com direção de Florian Zeller (diretor francês, mais conhecido pelos seus trabalhos de escritor, maioritariamente de peças de teatro, mas também de livros do género de novela, e também como argumentista de cinema, tem como principais obras: L’Autre; The Mother; The Truth; The Height of the Storm; entre outros). Esta longa-metragem, conta com argumento de Florian Zeller e do argumentista e escritor de peças teatrais, nascido em Portugal Sir Christopher James Hampton, em que ambos adaptaram a obra teatral Le Père, do próprio realizador Florian Zeller.

The Father, apresenta um elenco (apesar de curto) com nomes de peso, incluindo Sir Anthony Hopkins (o veterano ator, que escusa apresentações, com um palmarés de longa-metragens, tais como, Hamlet, The Elephant Man, The Dawning, interpretando o famoso Doctor Hannibal Lecter em The Silence of the Lambs, Hannibal e Red Dragon, Chaplin, Nixon, The Mask of Zorro e mais recentemente o Odin, em diversos filmes da Marvel Cinematic Universe. Destaca-se também com um Óscar para melhor ator em Silence of the Lambs), Olivia Colman (atriz britânica de renome, com várias indicações e premiações, conta também com um Óscar no seu currículo, com a interpretação de Rainha Anne, no filme The Favourite, mas também é conhecida por outros títulos, tais como, Hot Fuzz, The Iron Lady, Murder on the Orient Express, entre outros), Mark Gatiss (ator multifacetado, também é escritor, diretor, produtor, conhecido por interpretações em filmes mas também em televisão. Participou nas séries Doctor Who, Sherlock, entre outras, e nos filmes Shaun of the Dead; Match Point; Victor Frankenstein, etc.), Rufus Sewell (um ator britânico, também já galardoado, e conhecido pelo seu trabalho em longas-metragens tais como, Twenty-One, Dark City, The Legend of Zorro, The Tourist, entre outros), Imogen Poots (a mais jovem do elenco, contudo também reconhecida pelos seus papéis em 28 Weeks Later, Centurion, Need for Speed, entre outros), entre outros atores.

O Apartamento…

The Father passa-se na sua maioria dentro de um apartamento (daí ser uma boa transposição de teatro para cinema), e inicia com Anne (Olivia Colman) a ir visitar o seu pai Anthony (Sir Anthony Hopkins). Ao chegar ao apartamento do pai, este começa a queixar-se, que desconfia que a assistente Angela lhe roubou o relógio, e como tal quer despedi-la. Durante a conversa Anne dá a entender a Anthony que sabe do seu “cofre”, e pergunta-lhe se ele não o poderia ter lá guardado. É neste momento que começamos a entrar na mente de Anthony e perceber que ele sofre de demência progressiva, pois ele vai buscar o relógio e senta-se noutro local ignorando por completo a conversa anterior que teve com a sua filha.

Durante a “nova” conversa, Anne diz ao pai que está de partida, que vai passar uns tempos fora de Londres (por estar apaixonada), e que não quer deixar o pai sozinho. Por isso ela encontra uma nova assistente para cuidar dele durante a sua ausência. E nesta conversa, percebemos o quão grave é a situação de Anthony, pois não se lembra de alguma vez ter falado deste tema, sendo que Anne insiste que tem falado nisso há vários dias. Neste instante conseguimos perceber o desespero na expressão de Anthony que não sabe o que se está a passar com ele.

Após Anthony chegar com as suas compras, dá de caras com um homem que não reconhece, dizendo que se chama de Paul (esta primeira versão de Paul é Mark Gatiss), e que vive naquele apartamento, o que para Anthony é uma surpresa visto que o apartamento é seu, e não se lembra de existir nenhum Paul. Contudo, Paul conta a Anthony que é o marido de Anne, que estão casados há 10 anos, e que devido à situação do sogro, o casal trouxe-o para o seu apartamento, ou seja, indicando que o apartamento é de Anne e Paul e não de Anthony.

Após esta notícia chocante para o protagonista, Anne chega a casa, contudo quando o seu pai a vê, não a reconhece, pois Anne está diferente aparentando ser outra pessoa (neste momento Anne, é interpretada por Olivia Williams), Anthony estando completamente confuso com toda a situação, senta-se enquanto a filha arruma as compras que trazia. No entanto, este volta a ser um momento crítico, revelando que a cabeça de Anthony não está saudável, pois quando Anne fala com o seu pai, para esclarecer o que se passa, este pergunta-lhe pelo marido Paul, ao que Anne responde que não é casada, e que não estava mais ninguém em casa.

Momentos após todos estes eventos, Anne (interpretada novamente por Olivia Colman), chega a casa com Laura (Imogen Poots), uma jovem muita bem parecida que é apresentada Anthony, que numa forma extremamente lúcida (aparentemente) e divertida, dá as boas vindas a Laura, falando sobre a sua filha mais nova Lucy, que era uma artista e que tinha pintado um quadro para ele. Mas com o desenrolar da conversa, Anthony torna-se menos simpático, acusando a filha Anne de todos os problemas que ele tem. Por fim, este assume que está bem e que sabe cuidar-se, não precisando da ajuda de ninguém.

No dia seguinte, existe um revés em toda a narrativa, quase levando-nos a reviver o que aconteceu no dia em que Anthony encontrou Paul no apartamento, mas neste momento, Anthony quando sai do quarto, parece já conhecer Paul (desta vez sendo interpretado por Rufus Sewell), contudo, começa logo a desconfiar das ações deste, pois vê no seu pulso um relógio muito semelhante ao seu, que ele não encontra em lado nenhum (como o habitual).

Ele questiona Paul para saber como ele adquiriu o relógio. No entanto, a conversa depressa muda de rumo, começando a entrar no diálogo que os dois tiveram anteriormente, quase como se o dia fosse o mesmo, mas desta vez com perspetivas diferentes. Devido a todos os problemas gerados por Anthony, a sua filha Anne não vê outra solução senão levar o seu pai a um médico especialista, de forma a que este a ajude a resolver toda esta situação da melhor forma.

Toda a estória é intrigante, e por vezes um pouco “confusa”, tal como a cabeça de Anthony, e é com o decorrer do filme que percebemos de quem é verdadeiramente o apartamento, assim como todas as personagens que surgem a Anthony, mas o mais interessante é que entendemos como está a funcionar a cabeça de um idoso com demência progressiva, e que talvez esta já esteja a dominar por completo Anthony, podendo tornar alguns momentos, ou até mesmo tudo que vimos, em algo imaginário, que nunca existiu.

Que Perspetiva é real ???

The Father é um filme com uma narrativa fantástica e com um excelente argumento (com diálogos fenomenais), que foi bem transposto para o cinema (sendo originalmente uma peça de teatro). Esta longa-metragem, desenvolve-se em torno de várias perspetivas, podendo ser (por vezes) confuso para os espectadores mais desatentos, ou para aqueles que não apreciem este género, pois, por assim dizer, em cada momento do filme existem 3 pontos de vista distintos, o de Anthony, a da filha e/ou marido, e por último a verdadeira (que por vezes surge quando Anthony está sozinho).

Destaca-se a brilhante interpretação do génio (experiente e veterano) Sir Philip Anthony Hopkins, que por si só torna este filme seu, “roubando” toda a atenção e destaque, mesmo contracenando com vários atores de renome, e faz tudo isto de uma forma maravilhosa, mas com uma mestria e uma genialidade sublime. Além da forma estonteante como Sir Anthony Hopkins se entrega ao papel, também se destacam as interpretações das atrizes Olivia Colman e Imogen Poots, que por mais excelente trabalho que façam, ficam sempre atrás do brilho do ator protagonista. Contudo, os restantes atores, apresentam interpretações sem “sumo” ou “sabor”, que dos nomes já referidos anteriormente, surgem quase como simples figurantes, sendo que, em determinados momentos, seria exigido mais empenho e determinação (pois era suposto ajudarem na construção do rumo da estória), de forma a passar ao espectador ao “algo mais”.

No que diz respeito aos aspectos técnicos, a edição de The Father é um ponto fulcral para contar esta estória, pois como mencionado anteriormente, existem várias perspetivas da mesma cena ou trecho, e só com uma edição eximia seria possível levar este filme a um “bom porto” (tal como acontece), contudo, existem pequenos momentos em que esta edição, os planos utilizados e até mesmo os cenários, ficam um pouco fora de contexto, levando por vezes a tirar determinadas conclusões que não são reais (mas, pode realmente ser algo propositado), e por esse motivo, podiam ser melhorados, de forma a aperfeiçoar este título.

A banda sonora, está bem inserida em The Father, ajudando-nos a “mergulhar” no mundo da cabeça da personagem Anthony, além disso, passa-nos todo o sentimento vivido por este, tornando todos os momentos mais emotivos, pois numa combinação fabulosa, entre banda sonora e expressões geradas pelo ator Sir Anthony Hopkins, é suficiente para contar toda a estória do filme, e nos ligarmos de tal forma à personagem que este interpreta, que sentimos e vivenciamos, tudo o que ele está a passar.

Em suma, The Father, é um filme brilhante, com uma surpreendente estória bem adaptada ao cinema, gerada por várias perspectivas, que nos ajudam a entender toda a confusão vivida por um doente com demência progressiva. Existem interpretações brilhantes, mas tal como referido, é o génio Sir Anthony Hopkins a estrela principal em The Father. Esta longa-metragem apresenta vários aspetos técnicos fulcrais, e de forma geral, bem estruturados (existindo apenas alguns pequenos percalços), para o desenvolvimento de toda a narrativa, com uma banda sonora adequada à estória apresentada.

Com isto, não foi com surpresa que este título teve 6 indicações aos Óscares de 2021, e é com justiça que vence 2 deles, sendo o de melhor argumento adaptado e de melhor ator principal, apesar de por vezes ser considerado um “outsider” nesta categoria (principalmente devido à tragédia sofrida por Chadwick Boseman), mas independentemente disso, é notável a interpretação de Sir Anthony Hopkins, e não podemos ignorar o seu génio.

Por fim, peço desculpa, por esta análise ter saído atrasada, em relação à sua estreia em cinema.

Partilhamos, convosco o trailer de The Father

8.0
Score

Pros

  • Interpretação brilhante de Anthony Hopkins (ele é o filme)
  • Boa Interpretação de Olivia Colman e de Imogen Poots
  • Narrativa (com diálogos fenomenais)
  • Excelente transposição para o cinema
  • Edição

Cons

  • Contudo a edição (planos e cenários), em determinados momentos podia ser melhorada (dependendo da perspectiva que estamos a ver)
  • Restantes interpretações secundárias, sem "sumo"

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