Análises, Cinema

The Fabelmans – Análise

The Fabelmans é um drama americano de dirigido por Steven Spielberg (diretor, escritor e produtor americano, já com diversos prémios cinematográficos na algibeira, não necessitando de muitas apresentações. Da imensidão dos seus trabalhos destaca-se aqui apenas alguns, tais como Jaws, E.T. the Extra-Terrestrial, a franquia de Indiana Jones, The Color Purple, Empire of the Sun, Saving Private Ryan, A.I. Artificial Intelligence, Jurassic Park, Schindler’s List, Amistad, Lincoln, entre outros tantos filmes de referência), que também co-escreveu e co-produziu com Tony Kushner (autor, dramaturgo e argumentista americano, mais conhecido pelos seus trabalhos em colaboração com Spielberg, tais como Munich, Lincoln, West Side Story, entre outros). Este filme é uma semiautobiográfica baseada na adolescência de Spielberg e nos primeiros anos como cineasta (um ideia que surgiu dos olhos da sua irmã que já há muito tempo tinha escrito parte desta história e sugerido a ideia ao realizador), tanto que este é dedicado às memórias dos pais de Spielberg, Leah Adler e Arnold Spielberg, que faleceram em 2017 e 2020, respetivamente.

Esta longa-metragem é estrelada por Gabriel LaBelle (jovem ator canadense-americano, que participou nos filmes Max 2: White House Hero, Dead Shack, The Predator, etc.), Michelle Williams (atriz americana, mais conhecida principalmente por estrelar em filmes sombrios ou trágicos, dos quais recebeu vários prémios e nomeações, tais como Brokeback Mountain, Wendy and Lucy, Shutter Island, Blue Valentine, My Week with Marilyn, Blackbird, Manchester by the Sea, entre outros), Paul Dano (ator americano que iniciou a sua carreira na Broadway. Participou já em diversos filmes onde o seu trabalho foi premiado ou reconhecido, tais como L.I.E., Little Miss Sunshine, There Will Be Blood, 12 Years a Slave, Prisoners, Love & Mercy, Okja, The Batman, etc.), Seth Rogen (ator, comediante e cineasta canadense-americano, mais conhecido pelos seus trabalhos nos filmes The 40-Year-Old Virgin, Knocked Up, Funny People, Pineapple Express, The Green Hornet, The Interview, The Disaster Artist, Long Shot, entre outros.), Judd Hirsch (ator americano veterano, conhecido pelas suas interpretações nos filmes Ordinary People, Running on Empty, franquia Independence Day, A Beautiful Mind, Uncut Gems, etc.), entre outros.

Luzes, Câmera, Ação…

O filme inicia numa noite de 1952 em Haddon Township, Nova Jersey, onde vemos o casal Mitzi (Michelle Williams) e Burt Fabelman (Paul Dano), a levar o seu filho mais velho Sammy (Mateo Zoryan Francis-Deford) ao cinema para ver o seu primeiro filme. Mas para isso teve de convencê-lo daquilo que iria ver, pois a criança mostrou-se receosa, então a família seguiu para o teatro, para ver mais especificamente The Greatest Show on Earth de Cecil B. DeMille.

Sam, fica completamente deslumbrado com o ecrã gigante à sua frente e com o realismo apresentado no filme, não parando uma única vez para piscar os olhos. O fascínio do pequeno Fabelman, leva-o a sonhar com as cenas que tinha visto no cinema, fazendo o querer recriar os mesmos momentos, assim a criança pede como desejo de Hanukkah (sendo Fabelmans uma família judaica, eles celebram o Hanukkah, algo semelhante ao Natal para os cristãos), um comboio assim como a respetiva pista, tudo para que ele possa recriar momentos inéditos do filme.

Com a ajuda de seus pais, o pequeno Sam consegue filmar o seu comboio a percorrer o trilho. Contudo, a criança queria mais, e o querer mais seria nada mais, nada menos que realmente realizar uma cena digna de um filme com a câmera de 8mm do seu pai, algo este repreendeu, não pelo uso da câmera, mas pela falta de cuidado que Sam demonstrara, mas a sua mãe Mitzi, estando muito ligada às artes adorou e secretamente ajudou Sam na sua missão, e assim a paixão, o sonho, o dom cresceram dentro daquele menino.

Os anos passam, e Sam cresce enquanto realizador e para tal, inventa estórias de bruxas, dragões, princesas, múmias, de tudo um pouco, juntamente com as suas 2 irmãs, Natalie e Lisa, que alinham facilmente nas criações de Sam. Passado 5 anos Burt, que trabalha como engenheiro elétrico, consegue juntamente com o seu melhor amigo Bennie Loewy (Seth Rogen) um novo emprego, numa empresa de renome. Porém, a mudança estava à porta, e todos juntos viajaram para Phoenix, no Arizona.

Mais anos passam e Sammy já não é uma criança que vimos inicialmente, mas é agora um rebelde adolescente (interpretado por Gabriel LaBelle), onde neste momento aproveita tudo para fazer filmes e inventar novas estórias. Por ele ser um jovem escuteiro, fica a saber da existência um concurso de fotografia que Grupo/Organização onde é escuteiro está a organizar, e tem como objetivo realizar um filme para todos, acabando por aprender novos métodos de gravação e até mesmo de edição e montagem (trabalho pós-produção e efeitos visuais), conseguindo recriar algo muito realista, fazendo com que poucos acreditarem no que estavam a ver. Contudo, o seu pai apenas via tudo isto como um hobby, no entanto lhe dá apoio e o incentiva a continuar com a sua brincadeira, mas, avisa-o que um dia o seu momento há-de chegar e que ele terá de se tornar um homem.

A obsessão de Sammy pela câmera não pára, no entanto, tudo isto cresce em contorno com os dramas familiares vividos, pois Burt envolvesse cada vez mais em trabalho, começando-se a afastar da família, Mitzi assim que a vida avança e com as diversas tragédias familiares pelas quais passa, vai perdendo a sua paixão pelas artes e até mesmo um pouco do amor próprio, e no meio desta embrulhada toda apenas Sam vê o que rodeia, como um realizador que tem de ver em grande plano todo o desenvolvimento de um filme.

Num dos momentos mais críticos da vida dos Fabelmans, Burt sugere a Sam que realize um filme sobre a sua família e que o ofereça a Mitzi, como presente para que esta se sinta melhor. Apesar de não querer é a visita de um membro da família que reacende toda a paixão que o jovem realizador tem no filmes e assim, faz talvez o seu filme mais emocionante até à data, contudo a visão pormenorizada que em, permite-lhe ver algo escondido por detrás das luzes, da câmera, da estória, até mesmo da fita de gravação, algo que o deixa bastante intrigado e revoltado com o mundo. Para piorar toda a situação Burt decide aceitar um novo emprego e para isso terão de se mudar novamente, mas toda a família fica bastante revoltada com a mudança, Mitzi quebra totalmente e deixa-se levar pelo vícios, as irmão Natalie e Lisa fazem tudo por obrigação atirando tudo à cara do pai, e Sam sendo judeu sofre bullying pelos colegas da nova escola.

Sam vive então o maior drama de toda a sua vida, a quebra familiar é constante, a paixão pelo cinema está cada vez mais a morrer, o protagonista chega a entrar em conflito consigo mesmo, por momentos nem sabendo que é. Mas as oportunidades devem se agarrar, e nesta situação o jovem tem ao seu alcance uma, para isso terá de fazer os vilões serem heróis, e os protagonista serem secundários, afastando-se um pouco da luz da ribalta e do centro da estória e deixar assim a estória ser contada.

Sam e a Câmera…

The Fabelmans é uma estória original sobre o jovem aspirante a cineasta, Sammy Fabelman, que explora o poder dos filmes e como estes o ajudam-no a ver a verdade sobre a sua vida, a sua família disfuncional e de todos aqueles que vivem ao seu redor. Mas, acima de tudo, este filme é uma ode profundamente pessoal à família e ao cinema de Steven Spielberg, e é algo que o espectador nunca se vai conseguir afastar, pois todas as cenas, todos os takes, todos os momentos têm um propósito, e é impossível ficarmos indiferentes, aquela é notoriamente a vida de Spielberg e a história que nos quer contar, pois em todo o filme, nós somos apenas espectadores de uma vida que passou e que não podemos controlar, mas simplesmente apreciar.

A estória de Sammy pode ser familiar para os fãs que já conhecem a história de origem e vida do diretor. A narrativa é lenta e cuidadosamente minuciosa, co-escrita com Tony Kushner, que consegue fazer transições suaves entre a comédia e o drama de forma a “ficarmos presos” à longa-metragem. A nível de imagem, Janusz Kamiński fez um cinematografia rica e deliciosa para os olhos, cheias de imagens panorâmicas e zooms. Todas as cenas são belas e meticulosas, transmitindo um sentimento melancólico, terno, às vezes nebuloso, evidenciando o amor do diretor pela sua família e a sua paixão singular pelo cinema que o moldou. Tudo isto é complementado com as composições musicais de John Williams, que contribui com uma pontuação sublime e brilhante. Tudo isto faz com que este filme seja muito mais do que a história pessoal de Spielberg, pois é um testemunho fervoroso e sincero da eterna atração dos filmes, feito pelos principais “mágicos” desta belíssima arte, que é o cinema.

A nível de atuação, Michelle Williams tem uma interpretação tão refinada e devastadora como a mãe de Sammy, Mitzi, uma mulher feroz e frágil cujos próprios sonhos frustrados a levaram a uma vida que ela não reconhece. Enquanto Paul Dano tem um trabalho fenomenal, ao interpretar um marido cuidadoso, um homem de família exemplar e um profissional excelente, tentando fazer sempre o que ele acha que é melhor para a sua família, além disso Dano estando em cena, mesmo que não esteja a fazer nada a sua presença é “pesada” pois nota-se, não se escondendo e apenas com um gesto, uma palavra a cena é completamente sua. Claro está que não poderíamos também deixar de falar da magnífica interpretação de Gabriel LaBelle, que nos consegue cativar através da sua força e olhar, fazendo com que queiramos o acompanhar a sua jornada. As interpretações das personagens secundárias também são boas, mas não ao nível dos atores principais, especialmente as realizadas pelos atores mais jovens.

Em suma, The Fabelmans é uma desconstrução da família suburbana americana, mais precisamente da família de Steven Spielberg feita por ele próprio, pois é um relato muito pessoal, mostrando que este é um contador de estórias nato. The Fabelmans convida o público a entrar na casa e na cabeça do diretor mais conhecido e apreciado do Mundo, onde até mesmo o trauma, o anti-semitismo, as dificuldades financeiras, o divórcio, entre outras, são partilhados de uma forma cativante. Tudo isto é complementado por uma cinematografia, sonografia e interpretações brilhantes, especialmente do núcleo central,deixando-nos presos à tela por 2h e fazer sair do filme a querer mais.

Partilhamos, convosco o trailer deste mais recente filme de Steven Spielberg, uma verdadeira história pessoal, chamada The Fabelmans

8.0
Score

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