Análises, Cinema

The Electrical Life of Louis Wain – Análise

The Electrical Life of Louis Wain, é um filme biográfico britânico de 2021, dirigido por Will Sharpe (jovem ator, escritor e diretor conhecido pelos seu trabalho em Flowers e Landscapers), baseado na história de Simon Stephenson (produtor conhecido pelos seus trabalhos em Luca e Paddington 2) e argumento de Stephenson e Sharpe. The Electrical Life of Louis Wain é um filme original do canal de streaming Amazon Prime Video, sendo distribuído também para cinema pela StudioCanal, com co-produção dos estúdios: StudioCanal, Film4 Productions, Shoebox Films e SunnyMarch.

O filme é estrelado por Benedict Cumberbatch (ator britânico mais conhecido pelos seus papéis como Alan Turing, no filme The Imitation Game, no qual teve uma nomeação ao Óscar de melhor ator, Sherlock Holmes na série televisiva Sherlock da BBC e como Dr. Stephen Strange no Universo Cinematográfico da Marvel, e mais recentemente em Spider-Man: No Way Home. Também deu a voz ao dragão Smaug na trilogia de The Hobbit, representou Khan em Star Trek: Into Darkness e Julian Assange em The Fifth Estate, Twelve Years a Slave, 1917, The Power of the Dog, entre outros), Claire Foy (atriz britânica que já foi galardoada com vários prémios, incluindo dois Primetime Emmy Awards, um Golden Globe Awards e dois Screen Actors Guild Awards. Dos seus trabalhos destacam-se Season of the Witch, Wreckers, Vampire Academy, Rosewater, The Lady in the Van, Breathe, Unsane, First Man e The Girl in the Spider’s Web), Andrea Riseborough (atriz inglesa que participou nos filmes Venus, Happy-Go-Lucky, Never Let Me Go, Brighton Rock, Made in Dagenham, W.E., Shadow Dancer, Disconnect, Welcome to the Punch, Oblivion, Birdman, Nocturnal Animals, Battle of the Sexes, The Death of Stalin e Mandy), Toby Jones (renomado ator inglês, tendo participado em muitas longas-metragens das quais se destaca Archive, Jurassic World: Fallen Kingdom, Atomic Blonde, Captain America: The First Avenger, Captain America: The Winter Soldier, The Hunger Games, The Hunger Games: Catching Fire, Harry Potter and the Chamber of Secrets, Harry Potter and the Deathly Hallows – Part 1 dando a voz a Dobby, Finding Neverland, etc.), entre outros.

O Homem dos 7 oficios…

Esta longa-metragem inicia-se em 1881, 18 meses após a morte do pai de Louis Wain (Benedict Cumberbatch). Após a morte de seu pai, este teve de assumir as responsabilidades da família por ser o único homem da família Wain. Louis sustenta cinco irmãs e a sua mãe, o jovem rapaz é conhecido por ser um “homem dos 7 ofícios”, pois dedica-se a aprender um pouco de tudo para ajudar em casa, até no boxe tenta ganhar dinheiro (mas sem sucesso).

Mas o seu maior dom é o desenho (desenhar, pintar, tudo que esteja ligado à arte do desenho), trabalhando esporadicamente como ilustrador para o jornal The Illustrated London News. Porém, o dono do jornal, Sir Ingram (Toby Jones), oferece-lhe um emprego a tempo integral, mas Wain, numa primeira fase recusa, pois necessita de tempo para as suas outras atividades, tais como a composição de músicas e escrita de peças teatrais.

Com toda a situação caótica instalada em sua casa, devido principalmente às 3 irmãs mais novas de Louis, Caroline (Andrea Riseborough) a irmã mais velha da família, decide contratar Emily Richardson (Claire Foy) como governanta, para esta ajudar a educar as suas irmãs. Num primeiro impacto, Louis sente-se atraído por Emily, por outro lado é a estranheza de Louis que cativa a atenção da governanta, algo que Caroline não vê com bons olhos.

De forma a garantir que as dívidas da família comecem a desaparecer, manter a continuidade dos serviços da governanta na casa dos Wain e principalmente preservar a boa reputação da família, Louis decide assumir o cargo a tempo integral no jornal.

Numa forma um pouco peculiar, Louis propõe um encontro com Emily, onde o objetivo é “puramente educar as crianças”, através de uma ida ao teatro com todos. No entanto, a meio da peça, o protagonista tem um ataque de pânico (algo relacionado com o pavor dos seus pesadelos) e foge para a casa de banho masculina. Preocupada com Louis, e sem pensar duas vezes, Emily entra na casa de banho e tenta acalmar Louis.

Contudo, nesta época uma mulher ser vista numa casa de banho masculina era um atentado ao pudor, independemente das razões para que o tenha feito. Na saída do espetáculo, a família é confrontada pela uma vizinha intrometida, a Sra. DuFrane (Dorothy Atkinson), que tenta insinuar as possibilidades do “encontro” na casa de banho, e num ápice todos os conhecidos, ficam a saber do sucedido pela “visão” da Sra. DuFrane.

Perante tais boatos, e da má reputação trazida para a família Wain pelo ocorrido (pela relação entre uma mulher de classe baixa e um homem de classe média-alta), Caroline só encontra uma solução para resolver a questão, despedir Emily. Porém, Louis confessa o seu amor pela governanta e assume o relacionamento com ela, contra tudo e todos (pois Emily é também mulher “bastante mais velha” que Louis), acabando por sair de casa para viver o seu grande amor.

Apesar de tudo, mesmo de longe, Louis continua a apoiar monetariamente a sua família. Um certo dia, Emily fica doente, e é neste momento mais frágil de Emily, que o casal ouve um “choro”, vindo do jardim, num dia chuvoso, indo de imediato ao encontro de tal som, descobrem e acolhem um gatinho abandonado, dando-lhe o nome de Peter. Nesta era vitoriana ter um gato como animal de estimação era algo muito invulgar (sendo que os gatos estavam ligados a práticas profanas e a bruxaria). Louis para alegrar mais os dias da sua companheira, começa a pintar quadros realistas de Peter, mas com o passar do tempo as pinturas tornam-se mais incomuns à medida que o casal passa por momentos menos positivos.

Ele torna, nos seus desenhos, os gatos mais antropomórficos, com comportamentos humanos. Emily após ver estes desenhos encoraja o seu marido a mostrá-los ao Sir William, sendo assim estes posteriormente publicados na edição especial de Natal. Esta edição torna-se um sucesso, lançando o nome de Louis e da família Wain para a fama. Após várias tragédias na vida de Louis (como por exemplo a escassez de trabalho, pois com o passar do tempo, os desenhos vão sendo substituídos por fotografias), são sempre os gatos que lhe dão o conforto necessário, estando cada vez mais envolvido e perdido neste novo Mundo, distanciando-se da realidade dia após dia.

O Ilustrador de Gatos…

The Electrical Life of Louis Wain é uma longa-metragem biográfica de Louis Wain, o famoso ilustrador que deu vida aos gatos, e neste filme conseguimos ver o seu percurso, assim como a forma como conseguiu cativar as pessoas a aceitarem os gatos, sendo os seus desenhos a base da ilustração dos gatos em trabalhos futuros, incluindo nas animações que surgem anos mais tarde.

Destaca-se o bom trabalho do realizador Will Sharpe, contudo nem sempre tomou as melhores decisões na apresentação desta biografia, pois em certos momentos nota-se um desequilíbrio do avanço da narrativa, sendo que às vezes acelera muito e/ou torna-se bastante lenta, o que quebra o ritmo do filme. Além deste desequilíbrio, Sharpe quer várias vezes demonstrar o interior da cabeça do artística, assim como os seus conflitos, no entanto, por vezes a forma como isso passa para o espectador pode ser um pouco confuso, tudo devido às cores e utilizadas ou num formato de caleidoscópio em que a cena é apresentada.

Apesar destes problemas, é na edição, na cinematografia e nos cenários que assenta a beleza de The Electrical Life of Louis Wain, pois o filme está bem estruturado e montado, que facilmente percebemos o caminho da narrativa e o avanço desta. A cinematografia apresenta planos mais fechados quando quer transmitir uma maior emoção da cena, e planos extremamente abertos para mostrar a beleza do Mundo em redor de Louis. Mas os cenários são os que apresentam um maior destaque, pois estão bem pensados e estruturados, tornando esta longa-metragem numa harmonia visual incrível, pois por momentos os cenários transformam-se em quadros pintados, que são brilhantemente bem enquadrados no filme que estamos a ver.

A nível de interpretações, mais uma vez, Benedict Cumberbatch apresenta um trabalho sublime, (em comparação com por exemplo à sua interpretação em The Power of the Dog em que apresenta uma personagem bastante forte e com uma presença impetuosa) tendo uma interpretação recheada de pequenas subtilezas, mas extremamente bela e elegante. Mas nesta longa-metragem, a sua parceira de tela, Claire Foy, não fica nada atrás da interpretação de Benedict, pois quando contracenam os dois atores brilham de igual forma.

Outro ponto extremamente positivo deste filme é a caracterização e maquilhagem, pois conforme os anos passam, o envelhecimento de Louis Wain é magnífico, existindo uma transformação colossal do ator para se apresentar 50 anos mais velho. Além da caracterização, destaca-se também a banda sonora que nos acompanha ao longo do filme, transmitindo ao espectador todos os momentos e emoções vividas pelos personagens de forma divinal.

Em suma, The Electrical Life of Louis Wain é um filme excelentemente e bem conseguido, com interpretações geniais dos atores, principalmente de Benedict Cumberbatch e Claire Foy, sendo que qualquer um dos dois poderia estar nomeado aos prémios da Academia por este trabalho. Esta longa-metragem, apresenta também um trabalho técnico soberbo, quer a nível da cinematografia, cenários, caracterização e maquilhagem. Contudo, apresenta alguns problemas a nível de ritmo da narrativa, sendo este um pouco desequilibrado, tal como mencionado anteriormente, assim como a extravagância exacerbada, quando é apresentado o interior da cabeça do artística, no entanto, estes pequenos problemas são facilmente “abafados” pelos pontos positivos que o filme apresenta.

Partilhamos, convosco o trailer da biografia de Louis Wain, o ilustrador que deu vida aos gatos…

8.0
Score

Pros

  • Interpretação de Benedict Cumberbatch
  • Interpretação de Claire Foy
  • Caracterização e maquilhagem
  • Cenários soberbos (por momentos parecem autênticos "quadros pintados")
  • Edição e Cinematografia
  • Banda sonora

Cons

  • Algum desequilíbrio no avanço da narrativa
  • Quebra do ritmo da evolução da jornada do protagonista
  • Desenvolvimento abrupto de Louis na fase final da longa-metragem
  • Exibição da mente e visão do artista pode ser por vezes mal interpretada ou até confusa para alguns espectadores

Related posts