“Pranchas da Praxe” é uma coletânea de curtas de BD escritas e desenhadas por Flávio C. Almeida, que participaram em concursos nacionais e internacionais ou que foram previamente publicadas.

Flávio C. Almeida é um autor e editor de banda desenhada de Moura. Tem algumas obras publicadas online, como a webcomic “Os Vigilantes”. Conta também com publicações no jornal escotista “O companheiro” e edições físicas publicadas pela sua editora, a FA.

A energia é ponto fulcral da coletânea

“Energia” é a palavra que ficou na minha mente depois de ler com atenção esta publicação. Há energia nos seus temas. Escuridão, bravura, coragem, determinação, curiosidade são algumas das temáticas que se destacam, bem como a bagagem do autor, que contribui com conhecimento de mitos, provérbios e frases de impacto.

Há energia, também, no traço. Para cada temática há um traço e uma coloração diferente, o que nos transmite sensações diferentes, obviamente. Quando envolve algum humor, Flávio C. Almeida apresenta um traço mais simples e infantil, quando envolve ação, um traço mais carregado e personagens com posturas mais imponentes, quando envolve algo mais motivacional ou biográfico, a coloração é mais diversificada e o desenho mais realista, quando envolve apenas uma sensação o (ou, lá está, energia), um traço mais abstrato e a preto e branco. Há medida descemos pelas páginas, começamos a ganhar habituação ao estilo do autor. Começamos a perceber do que se trata a próxima curta pelo estilo que ela apresenta. Eu acho isso positivo porque, não só tira o desenhista da zona de conforto, como atribuiu identidade às suas temáticas.

Uma grande torre inacabada

“Pranchas da Praxe” apresenta uma vasta gama de temas e narrativas diferentes para ler e observar. No entanto, à exceção das tais sensações e energias que referi anteriormente, é difícil apegar a algumas das histórias, visto que não estão acabadas. Eu percebo que o interesse da coletânea é precisamente catalogar pequenas tiras que entraram em concursos ou outros eventos, mas creio que seria interessante a publicação adensar-se e mostrar algo mais, visto ser uma obra publicada, com tempo e espaço para ser trabalhada e sem ter de obedecer aos prazos apertados dos eventos.

Eu quero saber mais sobre o Pedro, os T3, o piloto. Eu não sei nada da casa abandonada, do que se passou ao viajante do tempo.

Talvez seja falta de interpretação minha, ou a minha ansiedade a falar mais alto, mas creio que seria benéfico um maior desenvolvimento de algumas das tiras, porque senão acaba por desvalorizarem dentro do livro. Num livro, não sabemos bem o briefing dos eventos, o que teria ou não teria de ser feito por regulamento, apenas temos o livro e o autor a falar pelo livro. Num concurso pode fazer sentido, numa montra pode fazer sentido, numa publicação perde um pouco o impacto para um leitor mais comum, como eu.

Claro que não creio que seja um grande problema dizer a um autor “Preciso de ler mais da tua obra”, nem creio que seja um grande defeito, mas fica o apontamento.

No fim, “Pranchas da Praxe” surpreendeu-me pela positiva, uma vez que esperava algo mais confortável ou monótono, mas não. Vários estilos, temas e pensamentos desfilam no livro, o que acaba por ajudar o leitor a interessar-se pela coletânea. É um livro que, na sua edição digital, a que usei para escrever esta análise, custa apenas 9.99€. É ótimo para ir lendo uma tira por dia ou para estudar novos estilos.

7.0
Score

Pros

  • Estilo de arte e temas abrangentes

Cons

  • Falta de finalização de alguns dos temas

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