Análises, Jogos

NieR Replicant ver. 1.22474487139… (PS4) – Análise

Um Mundo Reciclado

A primeira vez que me deparei com NieR Replicant, ou neste caso presumo que fosse a versão Gestalt, no ocidente conhecida apenas por Nier, foi com uma gameplay de um Youtuber que seguia bastante, em 2013. O jogo intrigou-me desde o início, mas infelizmente o Youtuber não jogou muito, e eu, não tendo PlayStation 3 na altura, acabei por deixar a coisa passar, mas ficando sempre aquela vontade de o jogar eventualmente. Uns anos mais tarde, NieR Automata foi lançado, sendo um dos jogos mais aclamados da década, e trouxe consigo uma nova luz a esta franquia, que na verdade vai ainda mais além do que NieR Replicant, sendo estes um spin-off da série Drakengard (que, para quem viu a nossa cobertura da E3 deste ano sabe que eu quero muito jogá-la, e que esta é quase impossível de encontrar em Portugal, por isso Yoko Taro, se estiveres a ler isto, e que tal um remake de Drakengard a seguir?).
Apesar de querer muito jogar Automata e ter a oportunidade de o fazer, recusei fazê-lo até poder experienciar Replicant primeiro, e, quando a notícia de que este estava a ter um remake saiu, eu soube que este era o momento para finalmente mergulhar nesta série fantástica que me assombrava há tantos anos. Com isso descobri também que parte do elenco do jogo em inglês são actores de voz que eu conheço (membros da série de D&D Critical Role) e isso deu-me ainda mais vontade de entrar nesta aventura que já sabia que me ia contagiar.
NieR Replicant ver. 1.22474487139… (que aparentemente é a raiz quadrada de 1.5) é o remake de NieR Replicant, título na PlayStation 3, ou NieR Gestalt para a XBox 360, no Japão, sendo este último o utilizado para a versão ocidental, um JRPG de ação, dirigido por Yoko Taro (que adoptou o visual de uma das personagens do jogo como sua imagem de marca) e Ito Saki, produzido por Takuya Iwasaki e Yosuke Saito, desenvolvido pela Toylogic e publicado pela Square Enix. Como referido anteriormente, este jogo é um spin-off da série Drakengard, e insere-se depois do quinto fim do primeiro Drakengard.

A Última Lágrima

Começamos este jogo no verão de 2053, onde parece estar a nevar, e somos apresentados à nossa personagem principal, que não tem nome oficial, mas é apelidado de Nier pela comunidade. Nier é aliciado por um livro, que quer que este o aceite, oferecendo-lhe poder, mas Nier recusa. Somos atacados por umas criaturas de sombra, que nos dá um tutorial de batalha, e ficamos também a conhecer Yonah, a irmã de Nier, que parece estar debilitada e com fome. Ao falar com Yonah vemos que está tem um livro idêntico ao que nos estava a tentar aliciar, e dizemos-lhe que não queremos que ela lhe toque, aconteça o que acontecer, e de seguida somos novamente atacados pelo mesmos monstros, e desta vez, não os conseguimos derrotar, acabando por aceitar o poder que o livro nos promete. Este poder são ataques mágicos, e segue-se uma batalha com vários dos monstros onde temos um tutorial de como utilizar as magias e quais os seus poderes, e de como no fundo uma batalha se desenrola. Após os derrotarmos a todos, Nier volta a ir ter com Yonah, e, ao partilharem uma bolacha, esta começa a tossir violentamente, mostrando umas marcas pretas que parecem fumo no seu corpo, revelando que Yonah tocou no livro. De seguida somos transportados 1412 anos no futuro, onde vemos exactamente as duas mesmas personagens, Nier e Yonah, com exactamente a mesma idade, desta vez numa acolhedora vila. E aqui começa verdadeiramente a nossa aventura, onde tentamos descobrir a cura para a doença de Yonah, conhecida como Black Scrawl, e como esta está relacionada com os monstros, chamados de Shades, e os livros, Grimoire Noir e Grimoire Weiss, e nos deparamos com várias personagens icónicas não só deste jogo, como é o caso de Keiné, como da série Nier, como é o caso de Popola, Devola e Emil.

Kainé no fim da primeira parte do jogo NieR Replicant ver. 1.22

O mundo de NieR Replicant, apesar de ter áreas simples, é um que nos envolve desde logo, com cenários que nos fazem querer explorar e ao mesmo tempo estar parados só a admirar. Cada área serve um propósito na história, e apesar de andarmos constantemente para trás e para a frente (o que é até uma piada no próprio jogo), especialmente se fizermos todos os side quests, as áreas não cansam, sendo que em determinadas fases do jogo os inimigos que encontramos mudam, também para ajudar nessa monotonia.
Quanto à história, NieR Replicant conta uma história intrigante, que cria mais perguntas que aquelas que responde de cada vez, à moda de um RPG Japonês. Apesar do plot básico ser explicado da primeira vez que se acaba o jogo, só completando todos os fins (5 num todo) é que percebemos de uma forma mais clara todos os acontecimentos. Mas ainda assim há muita coisa que não é explicada no jogo, e que precisamos de perceber alguns dos acontecimentos de Drakengard ou ler o livro do jogo, Grimoire Nier (que saiu apenas no Japão), para perceber de uma melhor forma.
De qualquer das formas, aconselho a jogar todos os fins, simplesmente porque nos dão uma perspectiva melhor das personagens que nos rodeiam. Aconselho também a fazer todos os side quests. Não só porque alguns são necessários para se poder fazer todos os fins, mas também porque são de forma geral fáceis de concluir, e acrescentam ao mundo, fazendo-nos explorar melhor zonas que poderíamos passar de forma mais rápida concluindo só o jogo, e conhecer todos os NPCs do jogo torna o mundo mais real.

Shadowlord com Yonah nos braços no fim da primeira parte do jogo NieR Replicant ver. 1.22

Quando os Anciãos Cantam

Em termos de jogabilidade, este é um jogo que flui muito facilmente. O sistema de batalha hack and slash é simples e rápido de executar, criando batalhas aceleradas, com zonas onde, usando diferentes tipos de câmara, faz-nos sentir que estamos noutro tipo de jogo, apesar de na prática a batalha ser exactamente igual.
Um ponto menos positivo é nas batalhas importantes, onde temos de esperar que as personagens falem, durante a batalha, para realmente provocar dano, sendo que isso não só quebra o ritmo da batalha, como estas falas em algumas situações só são acionadas depois de um determinado tempo, e não conseguimos perceber se estamos mesmo a fazer dano ou não. Isto é especialmente incomodativo nalguns bosses específicos que têm achievements onde os temos de derrotar em determinado tempo, e por mais rápidos que sejamos, estamos sempre dependentes de timings específicos do jogo.
Outra parte do gameplay que acho que poderia ser melhorada, são as partes de história onde temos de ler. Isto são alguns momentos específicos, como as missões da Forest of Myth, e as histórias das personagens que nos acompanham, Kainé e Emil. Especialmente esta última parte, considero que perde muito do impacto pela forma como nos é mostrada, ou melhor, não nos é mostrada. Se compararmos estes bocados, com por exemplo a parte do Laboratório, sinto que esta última teve muito mais impacto que toda a história de Kainé, que se tivesse sido contada com um misto de cutscenes e jogabilidade, teria tido um impacto muito mais profundo, como aliás o último fim o faz de uma forma muito eficaz. Isto porque estamos a falar de um jogo onde todas as personagens tem uma história muito trágica, que se traduz lindamente na música, que está presente nestas partes de texto e ajuda a criar o ambiente emocional, mas sendo que não há imagem, esse ambiente perde-se bastante.
Em relação à música, esta é talvez a melhor coisa do jogo. É genialmente composta por Keiichi Okabe, sendo o tema principal a melancolia, mas sempre com um ponto de esperança e grandiosidade por trás, e a humanidade da voz, de Emi Evans, que é quem escreveu também as letras das músicas, numa língua inventada. Tudo isto junto cria uma atmosfera que não só complementa o jogo de uma forma coesiva, como é em si uma jornada emocional, em alguns pontos até mais do que o próprio jogo consegue mostrar.
Por último, referir que o voice acting é também o que torna este jogo tão humano. Aliado à música, e especialmente nas cutscenes, este é também feito de uma forma que não só nos liga às personagens, como nos faz sentir o que elas estão a sentir, e puxando pela exasperação, esperança, ou urgência das situações.

Combate contra mini-boss em NieR Replicant ver. 1.22

Em conclusão NieR Replicant ver. 1.22474487139… é uma obra prima que acho que todos devem experienciar, especialmente quem se apaixonou por NieR Automata, pois não só ajuda a perceber esse mundo um pouco melhor, como nos transporta para uma história melancólica e no fundo cheia de esperança pela humanidade, com personagens por quem nos apaixonamos no primeiro momento que as vemos, e só as queremos proteger com todo o nosso poder, mesmo que estas sejam mais poderosas que nós, e uma banda sonora que nos faz realmente sentir.

9.0
Score

Pros

  • Gameplay fácil e intuitiva
  • História cativante
  • Personagens envolventes
  • Banda Sonora genial

Cons

  • Partes da historia em texto corrido
  • Esperar por timings de falas em batalhas

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