Listen, o filme português que permitiu a subida (por várias vezes) ao palco, da jovem diretora Ana Rocha de Sousa (pelas 4 premiações) no festival de cinema Internacional de Veneza deste ano.
Uma estória, inspirada em várias histórias verídicas de inúmeras famílias que perderam os seus filhos para o sistema de “adoção forçada” do Reino Unido.
Esta longa-metragem conta com a participação de atores como Lúcia Moniz, Rubén Garcia, Maisie Sly, James Felner, Kiran Sonia Sawar, Brian Bovell, entre outros.
Ao Clicar aqui, podem aceder instantaneamente ao artigo que a CaixaNerd dedicou a estas premiações. Podendo ler ou reler com mais detalhe, as informações referentes à diretora, atores e prémios arrecadados na 77ª edição do festival de cinema Internacional de Veneza.
Família…
Esta longa-metragem narra a vida de uma família imigrante no Reino Unido, que passam por algumas dificuldades. Os membros desta família, são nos apresentados enquanto seguimos a sua rotina matinal. Bela (Lúcia Moniz) e Jota (Rubén Garcia), um casal com três filhos: Diego (James Felner), o filho mais velho; Lu (Maisie Sly), uma menina com 7 anos que possui uma limitação auditiva (estado avançado de surdez); e Jessie, um recém nascido (o qual Bela ainda amamenta).
O filme, inicia com Bela a tentar reparar o aparelho auditivo da filha Lu antes de a levar à escola. Diego está na cama doente e Jota fica a tomar conta dele, enquanto prepara tudo para a visita dos serviços sociais ingleses.

Nesta fase inicial, seguimos maioritariamente Bela, uma mãe que faz de tudo pelo bem-estar dos seus filhos, chegando ao ponto de roubar comida numa mercearia, para dar algo de comer a Lu antes de a levar à escola. Neste momento, conseguimos ver o quanto Bela se preocupa com eles, pois está sempre muito atenta, especialmente a Lu (que não ouve o que a rodeia, pois não têm o seu aparelho auditivo), mesmo quando esta está apenas está a brincar com a sua máquina fotográfica de cartão (olhando várias vezes para o céu, como se de uma perspetiva futura se tratasse).
Já no seu trabalho, depois de ter deixado Lu na escola, Bela tem uma conversa com a sua mãe e menciona que Jota não tem ainda um trabalho oficial, isto é, trabalha sem declarações fiscais, sendo explorado pelo seu patrão que não lhe paga já alguns dias.
Na volta para casa, Bela vai buscar Lu à escola, sendo repreendida pela professora por deixar Lu andar sem o aparelho, sugerindo que algo se passa com a menina, pois esta apresenta diversas marcas negras no corpo (insinuando que os pais a maltratam). Depois de uma conversa com a filha, Bela percebe que a professora pode fazer queixa aos serviços sociais e apressam-se para chegar a casa e explicar tudo ao marido.
Ao chegar a casa, a protagonista está muito transtornada, pois tem medo do que possa acontecer (e só pensa em fugir), Jota tenta acalmar a mulher e os filhos, dizendo-lhes que nada devem temer, e que devem esperar pela visita dos serviços sociais (tal como estava previsto de acontecer). Contudo, os serviços sociais ingleses entram em casa de uma forma pouco amistosa com a família, levando com eles um mandato para lhes retirar de imediato os filhos, sem dar explicações, dizendo que serão contactados mais tarde.

O casal, vê-se com os 3 filhos retirados e sem notícias por alguns dias. Jota faz de tudo para entrar em contacto com os serviços sociais, de forma a tentar visitar as crianças. Quando consegue uma visita de 1 hora, estão limitados a falar apenas em inglês entre si, mesmo com Lu (apesar da sua limitação auditiva). Bela estando com as emoções “à flor da pele”, não aceita tal “idiotice”, e tenta explicar o porquê de ter de usar as suas mãos para falar com a sua filha. Devido a este conflito o assistente social (Brian Bovell) termina a visita passado poucos minutos. Também é explicado aos pais, que os filhos vão entrar num processo de adoção (e eles percebem que têm pouco tempo para tentar recuperá-los).
Perante esta situação, Bela sente-se destruída, como se uma parte dela estivesse a “morrer”, pois retiraram os seus filhos à força e sem explicações.
Durante todo o processo burocrático imposto pela assistência social do Reino Unido, que o casal tenta recuperar os filhos. Jota tem um papel importantíssimo (apresentando-se como o pilar da família), tentando sempre manter a calma, de modo a se focar na pesquisa de soluções para voltar a ter as crianças. Neste momento, começamos a ver um aumento dos conflitos entre o casal, pois Bela é muito mais emocional e Jota muito mais reativo, contudo ambos partilham o mesmo objetivo e é nisso que se focam.
Após várias tentativas, Jota consegue entrar em contacto com Ann Payne (interpretada por Sophia Myles) uma ex-assistente social, que luta contra o sistema de “adoção forçada” e tenta ajudar o máximo possível as famílias que estejam a passar por esta situação.
No decorrer da conversa com Ann Payne, esta informa o casal que depois das crianças entrarem no sistema de adoção, será muito difícil de as recuperar, principalmente Jessie (o recém-nascido), pois a procura por crianças daquela idade é enorme.
A partir deste momento, Bela e Jota percebem que a luta que têm pela frente é muito desgastante, pois precisam, acima de tudo, mudar a atitude, principalmente Bela, que não se pode apresentar como uma mulher desesperada e deprimida (mesmo que seja esse o seu estado de espírito), e que provavelmente precisarão “quase de um milagre” para as conseguir recuperar os seus filhos.
Será este casal irá recuperar os seus filhos? Será que vão conseguir “um milagre” que os ajude a provar que nunca fizeram nada de mal aos seus filhos, a não ser amá-los?

A Luta…
Durante toda as desventuras deste casal, destaca-se a interpretação magnífica de Lúcia Moniz, que conseguiu, de forma exemplar, captar o espectador para a sua luta, e transparecer os seus sentimentos, tocando no nosso coração e fazendo como fossemos nós a viver aquela situação. Rubén Garcia também fez um excelente trabalho de interpretação ao representar a sua personagem, que é o apoio de Bela, sendo o “yang” que a personagem principal precisa, mantendo sempre a esperança que algo de bom pode acontecer, nos momentos que Bela se sente pior.
Contudo, algumas personagens necessitavam de ter uma maior “entrega” dos atores, tais como: Maisie Sly que por ser ainda muito jovem, não conseguiu transparecer muitas das emoções envolventes nos momentos mais críticos do filme; o assistente social, interpretado por Brian Bovell, mantém quase sempre a mesma expressão, mesmo quando por vezes a sua personagem requeria uma imposição mais afincada por parte do ator.
Listen, apresenta uma premissa simples, mas muito bem construída, por isso destaca-se o incrível trabalho da diretora Ana Rocha de Sousa, que exibe de forma crua este filme, ou seja, uma “realidade sem filtros”. Devido ao seu bom trabalho, também facilmente nos identificamos com esta família emigrante, pela realidade que vivem e forma como estão inseridos no mundo.
A banda sonora e o trabalho de sonografia, que nos acompanham durante os 73 minutos (duração bem adequada ao enredo) desta película, ajudam-nos a imergir com facilidade para dentro do mundo desta família e ajudam a experienciar as diversas situações inerentes do filme como sendo nossas.
A cinematografia está bem realizada, pois através dos seus planos do horizonte (uma metáfora sobre o caminho a percorrer até ao final) ao captar um avião no céu ao longe nos transmite “uma visão do futuro” (pois a primeira opção de Bela quando lhe querem retirar os filhos é precisamente se meter num avião e fugir com eles para Portugal).
Ainda dentro desta temática, destaca-se o trabalho captado na “máquina fotográfica de brincar” de Lu, que nos dá a ideia da sua visão do mundo, visto ser uma menina com uma limitação auditiva, ou seja, não consegue ouvir e tem de se focar mais no que é importante, sendo todo turvo ao seu redor, tal como vimos quando olhamos pela lente da sua câmara, acabando por também ser uma metáfora ao próprio filme, quando perdemos algo este passa a ser o nosso foco e o restante é secundário.
No entanto, alguns dos cortes utilizados (para mudar de cena, quebram o ritmo desta longa-metragem e acabam também por quebrar as emoções que estamos a sentir naquele momento.
Em suma, é um excelente filme que chega às salas de cinema português, com uma estória muito bem conseguida e com interpretações de alta qualidade. Creio que é um dos melhores filmes portugueses dos últimos anos. Mas como a própria realizadora já referenciou em entrevistas passadas: “Não é um filme em que vamos sair do cinema em festa”, pois consegue mexer muito com as emoções de quem o vê.
Deixámo-vos o trailer desta obra portuguesa da realizadora Ana Rocha de Sousa…

8.0 Score
Pros
- Interpretação fenomenal de Lúcia Moniz
- Excelente Sonografia (assim como a banda sonora)
- Premissa simples, mas bem construída
- Trabalho de Ana Rocha de Sousa (diretora), da forma como apresenta o filme
- Cinematografia
Cons
- Algumas personagens, exigiam uma melhor interpretação por parte dos atores
- Por vezes, os cortes utilizados para mudança de cena, quebram o ritmo e emoção envolvente
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