Análises, Cinema

King Richard – Análise

King Richard é um drama biográfico com direção de Reinaldo Marcus Green (jovem diretor, produtor e escritor americano, conhecido pelos seus trabalhos em Monsters and Men e Joe Bell) e escrito por Zach Baylin (jovem escritor americano que trabalhou em Side Effects). Este filme teve a sua estreia mundial no 48º Festival de Cinema de Telluride em 2 de setembro de 2021, e foi posteriormente lançado nos cinemas em 19 de novembro de 2021 (nos EUA), pela Warner Bros. Pictures e em simultâneo no serviço de streaming da HBO Max, sendo que esta “atualização” do canal de streaming HBO, apenas chegou a Portugal este mês de março e consequentemente tudo o que nele existe, incluindo este filme.

Esta longa-metragem possui um elenco jovem, sendo estrelado por Will Smith (ator e cantor veterano americano, que ficou mais conhecido após a sua participação na série The Fresh Prince of Bel-Air. Possui uma vasta lista de filmes no seu currículo, tais como as trilogias de Bad Boys e de Men in Black, Independence Day, Enemy of the State, Focus, I, Robot, Shark Tale, Hitch, I Am Legend, Hancock, Seven Pounds, The Pursuit of Happyness, etc.), Aunjanue Ellis (atriz americana que fez a sua estreia no mundo do cinema no filme Girls Town. É conhecida pelas suas interpretações em Men of Honor, The Caveman’s Valentine, Undercover Brother, Ray, The Express: The Ernie Davis Story, entre outros.), Jon Bernthal (ator americano, que ficou mais conhecido após a sua participação nas séries The Walking Dead e The Punisher. Participou também nos filmes Snitch, The Wolf of Wall Street, Fury, Sicario, The Accountant, Baby Driver, Ford v Ferrari, etc.), Saniyya Sidney (jovem atriz americana que possui já no seu currículo participações em Fences, Hidden Figures, Fast Color e The Passage), Demi Singleton (jovem atriz americana a dar os seus primeiros passos no Mundo do cinema, sendo mais conhecida pela sua participação na série Godfather of Harlem), Tony Goldwyn (ator, cantor, produtor, diretor e ativista político americano que fez a sua estreia no filme Friday the 13th Part VI: Jason Lives. Possui uma vasta lista de participações em diversos filmes, destacando-se Ghost, Nixon, The Last Samurai, The Mechanic, etc.), entre outros.

O Plano…

Esta longa-metragem conta a história de Richard Williams (Will Smith), um “treinador de ténis” rígido, determinado, destemido e com ideias muito afincadas, sendo o homem por de trás de um plano praticamente infalível, que trouxera ao mundo duas das maiores lendas da história da modalidade, falamos das irmãs Williams, Venus (Saniyya Sidney) e Serena (Demi Singleton).

Toda a história ocorre numa fase ainda muito precoce da carreira destes dois fenómenos, e mais focada no Richard Williams, pai das jovens. A família Williams vive em Compton, Califórnia, chefiada por Richard e a sua mulher Oracene (Aunjanue Ellis), com 5 filhas, Venus e Serena (duas irmãs geradas do casamento entre Richard e Oracene), e as restantes 3, Tunde (Mikayla LaShae Bartholomew), Isha (Danielle Lawson) e Lyndrea Price (Layla Crawford), filhas de Oracene do seu casamento anterior.

O protagonista, apresenta-se como “treinador de ténis” das duas jovens, Venus e Serena, com o objetivo de as tornar os maiores fenómenos da América, afirmando que desde o dia que elas nasceram preparou todo um plano, que toda a família deve seguir à risca para que as duas crianças poderão alcançar feitos nunca antes vistos. Contudo, este plano exige sacrifícios, de tais modos, que a imagem destes pais está manchada aos olhos das vizinhança, que os condenam por maus tratos às crianças. Para piorar toda esta situação, durante os treinos no campo de ténis comunitário de Compton, Richard e as suas filhas são constantemente assediados por um gangue local.

Todos estes eventos, refletem-se numa procura ainda mais desesperada de Richard por um treinador profissional que treine as suas filhas de graça, mas, enquanto tal não acontece, Richard e Brandy treinam Venus e Serena diariamente, trabalhando também em simultâneo, ele como segurança e ela como enfermeira, respetivamente. Porém Richard não desiste, e faz de tudo para tentar encontrar um treinador profissional para as suas filhas, criando folhetos e vídeos para divulgar suas habilidades, mas sem sucesso.

Cansado de não obter o feedback desejado pelos treinadores, Richard decide levar as suas crianças diretamente a um clube de ténis de renome e assim apresentá-las diretamente a Paul Cohen (Tony Goldwyn), que está naquele momento a treinar John McEnroe e Pete Sampras. Apesar de suas reservas iniciais, Cohen concorda em assistir por uns minutos o que Venus e Serena são capazes de fazer dentro de um campo de ténis, e para sua surpresa fica impressionado com o talento que as irmãs apresentam. Mas para tristeza de Richard e principalmente de Serena, Cohen não aceita treinar as duas de graça, selecionado apenas a que obteve maior destaque e que tem uma maior possibilidade de se tornar profissional, neste caso Venus.

Serena fica desapontada com a notícia, no entanto, a sua mãe incentiva-a a continuar a treinar e a tornar-se melhor. Richard acompanha os treinos de Venus com Paul e filma-os, para que em casa todos possam aprender também com eles. Apesar de várias controvérsias, Cohen quer que Venus participe em torneios de juniores de forma a que esta comece a ser reconhecida e com isto surjam patrocínios para financiar o seu treino.

Perante o sucesso que Venus tem, Serena não quer ficar atrás da sua irmã e por isso inscreve-se nos torneios (algo que Richard não gostou, mas que não pode deixar-se de sentir orgulhoso pela “garra” da filha), e tal como a irmã cresce de jogo para jogo, sendo as duas dois “monstros” no terreno.

Com o passar do tempo, toda a pressão do desporto começa a cair sobre Richard e como deveria assinar contratos de publicidade e patrocínios, principalmente para Venus. Porém, este não é o plano do protagonista, pois o seu plano baseia-se em capacidade do esforço, do sacrifício e acima de tudo da humildade (algo que sempre refere com as suas histórias de criança), pois não basta as suas filhas ser uma cara bonita no desporto, têm de ser acima de tudo profissionais. Por isso, esta situação faz com que este veja tudo isso com maus olhos e achar que tudo seja um motivo fácil para que elas se distraiam e percam o foco no seu plano original. Assim, Richard apenas vê apenas uma solução, pedir mais um sacrifício a toda a família e tentar encontrar um novo treinador que leve as jovens para um clube, e que possam ficar lá a treinar, sem perder o foco e sem perder a educação e o ensino. Apesar de todos conhecermos as lendas que as irmãs Williams se tornaram no circuito de ténis, foi tudo devido ao plano que Richard preparou? E todos os sacrifícios efetuados pela família permitiram que todos alcançassem o tão desejado sucesso? Talvez este filme biográfico apresenta algumas destas respostas, e como tal, se têm HBO Max é uma longa-metragem que recomendamos que vejam.

O Sonho…

Esta biografia dramática foca-se principalmente na história de vida de Richard Williams e como este comandou o percurso inicial de Venus e de Serena (algo demonstrado um pouco como segundo plano). O diretor Reinaldo Marcus Green apresenta esta longa-metragem tentando focar sempre momentos especiais destas duas irmãs, que continuam a ser uma referência do ténis, mesmo após 30 anos do início das suas carreiras. Este filme possui um fascínio inegável para o público, especialmente para quem aprecia este desporto.

Porém, não é um filme perfeito, mas atormenta, graças ao tema forte e às caracterizações e boas atuações. A evolução da narrativa ao longo do filme vai-se perdendo, pois sendo o foco principal Richard, toda a história é contada à volta das irmãs, com especial atenção em Venus, como esta luta contra o ceticismo e arrogância dos outros perante o seu sonho, que acaba por ser rica em humor, mas, com um desespero silencioso presente a cada “não” recebido por Richard.

Já Richard Williams, é apresentado como um homem determinado e controlador, que luta para obter reconhecimento para as suas duas filhas, algo que ele deseja tanto para si, quanto para elas. Williams fala repetidamente sobre as humilhações que passou ao longo da sua vida, especialmente por ter crescido na zona Sul, numa época em que a Ku Klux Klan era ainda uma ameaça. Porém, morando agora com a sua esposa e as cinco filhas em Compton, Califórnia, ele carrega um peso nos seus ombros, enquanto, luta para encontrar sucesso para as suas filhas.

King Richard, possui uma história simples, mas que se torna repetitiva e longa demais devido à forma como é apresentada, visto que os conflitos de Richard com quem se opõe aos seus sonhos e vontades são frequentemente mostrados, e momentos sobre a história de vida de Richard acaba por ser ignorada, só conhecemos algumas passagens deste para ter a personalidade que tem, assim como a sua vida antes de Oracene. Além do mais, apesar da sua extensão, há elementos que são tratados de forma muito superficial, como as batalhas de Richard com os elementos da gangue de Compton.

Destaca-se ainda que este filme não consegue decidir o que fazer com o lado mais difícil e sombrio de Richard Williams. Como foi realmente viver com Richard Williams (obstinado, rigoroso, disciplinador, controlador, etc.)? Isso permanece um mistério.

Em termos de interpretações, destaca-se que Will Smith faz uma excelente atuação, especialmente nestas primeiras cenas, que misturam a frustração de Richard, o ressentimento fervente e o amor pela sua família. Aunjanue Ellis também brilha com a sua interpretação, exibindo sensatez, e força para desafiar o seu marido, quando este se deixa levar pelo seu ego, conseguindo assim equilibrar com calor e sabedoria discreta, quando está em cena juntamente com Will Smith.

Jon Bernthal e Tony Goldwyn trazem humor e uma mistura credível de exasperação e resignação, nas suas batalhas frustrantes e constantes com a mentalidade fechada e irreversível de Williams. Contudo, as jovens atrizes Saniyya Sidney e Demi Singleton, apesar de demonstrarem coragem e ternura nas suas interpretações, por vezes desaparecem para um segundo plano, especialmente quando um ator veterano está em cena.

A cinematografia é bastante simples, com apenas alguns elementos para tentar recriar a época dos anos 90, mas é com uma sonografia calorosa, que permite todo este ambiente ser convidativo e inspirador, sempre enfatizando o potencial sobre a pressão e a esperança sobre o desespero. Essa é uma das muitas razões pelas quais King Richard é um filme fácil de assistir.

Em suma, King Richard é um filme do pai por detrás da entrada de Venus, e posteriormente de Serena, no ténis profissional. Segue algumas fórmulas típicas das longas-metragens sobre desporto, mas consegue ser ao mesmo tempo memorável, especialmente devido às interpretações de Will Smith e Aunjanue Ellis, juntamente com as de Jon Bernthal e Tony Goldwyn, que fazem o alívio cómico, porém as jovens atrizes Saniyya Sidney e Demi Singleton ficam muitas vezes em segundo plano (algo que é bastante normal visto a natureza do filme, assim como a ainda recém carreiras das duas atrizes). A narrativa é simples, mas repetitiva, além de não desenvolver adequadamente temáticas mais “pesadas” que são mencionadas de forma superficial no filme. A cinematografia e sonografia são inspiradoras, fazendo no final que King Richard seja mais fácil de se assistir. Ressalva-se que este filme já ganhou diversos prémios cinematográficos e que está nomeado em diversas categorias para os Óscares, como um dos melhores filmes de 2021 e interpretações principais (Will Smith) e secundárias (Aunjanue Ellis).

Partilhamos, convosco o trailer desta longa-metragem biográfica que podem assitir na HBO Max

7.0
Score

Pros

  • Interpretações de Will Smith e Aunjanue Ellis
  • Banda Sonora
  • Interação entre pai/treinador e filhas/jogadores bem estruturado
  • Agradável de se ver
  • Filme vai agradar especialmente aos fãs do ténis

Cons

  • Narrativa repetitiva que vai perdendo intensidade (ao longo que avança)
  • Alguns temas relevantes para o desenrolar da história pouco explorados
  • Filme um pouco extenso

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