Análises, Cinema

Eternals – Análise

Eternals, a mais recente adaptação das comics books da Marvel, chega ao cinema pelas mãos da diretora Chloé Zhao (diretora chinesa a dar os seus primeiros passos na indústria, já galardoada com um óscar por melhor direção no seu filme Nomadland. Também conhecida pelos seus trabalhos em Songs My Brothers Taught Me e de The Rider), que também é uma das argumentistas deste filme. A nível de trabalhos destaca-se na cinematografia Ben Davis (veterano inglês, que contém no seu curriculo, filmes como: Hannibal Rising, Kick-Ass, Guardians of the Galaxy, Doctor Strange, Three Billboards Outside Ebbing, Missouri e mais recentemente Cry Macho) e na composição Ramin Djawadi (compositor germânico, distinguido pelos trabalhos em: Iron Man, Pacific Rim, Warcraft, etc, e nas séries: Prison Break, Game of Thrones, Westworld, entre outros).

Esta nova aventura do universo cinematográfico da Marvel, possui um elenco repleto de caras bem conhecidas do público, tais como: Angelina Jolie (atriz galardoada com um Óscar de melhor atriz secundária no filme Girl, Interrupted, reconhecida a nível mundial, pelos seus papéis como Lara Croft em Tomb Raider, Maleficent, Wanted, Come Away e também pelos seu trabalho de realização em Unbroken), Gemma Chan (atriz britânica, mais conhecida pelos seus papéis nas séries Bedlam, True Love, Humans, etc. No cinema, ela é lembrada pela sua interpretação em Exam, Jack Ryan: Shadow Recruit, e dando a voz a Namaari em Raya and the Last Dragon), Richard Madden (ator escocês mais conhecido pelo seu papel de Robb Stark na série da HBO, Game of Thrones. No cinema ainda desempenhou poucos papéis, sendo o mais conhecido o de Prince Kit no filme da Disney’s, Cinderella), Salma Hayek (famosa atriz e diretora de origem mexicana, conhecida pelas suas interpretações em Wild Wild West, Frida, Once Upon a Time in Mexico, After the Sunset, Ask the Dust, Bandidas, etc.), Kumail Nanjiani (ator conhecido pelas séries Silicon Valley, Adventure Time, Franklin & Bash e Newsreaders e pelo filme The Big Sick), Lauren Ridloff (atriz surda, mais conhecida pelos seus papéis em Wonderstruck e Sound of Metal), Brian Tyree Henry (ator conhecido por atuar na série do FX, Atlanta e nos filmes Widows, If Beale Street Could Talk, Godzilla vs. Kong e Spider-Man: Into the Spider-Verse), Lia McHugh (jovem atriz conhecida pelas suas interpretações nos filmes Totem, The Lodge e Into the Dark), Don Lee (ator conhecido pelos seus papéis em The Neighbor, Nameless Gangster: Rules of the Time, The Unjust, entre outros) e Barry Keoghan (jovem ator irlandês, conhecido pela sua participação em filmes como: King of the Travellers, Mammal, Dunkirk, etc., e de séries como: Love/Hate, Chernobyl, entre outras), sendo estes os atores que dão a cara às personagens que constituem o esquadrão Eternals.

Ressalva-se que o elenco conta com mais outros atores conhecidos do público em geral.

Quem são os Eternals ???

Há 5000 anos A.C., um grupo de guerreiros imortais, são enviados por uma entidade cósmica, um Celestial denominado, Arishem para salvarem um planeta (Terra) do perigo dos Deviants, uns de seres, provenientes das profundezas do espaço, que se assumem como predadores alfa.

Este grupo de heróis ancestrais, mais conhecidos por Eternals (Eternos), viajam desde do seu planeta Olympia para a Terra, de forma a enfrentar os Deviants e assim restaurar o equilíbrio no Universo. Assim que chegam à antiga Suméria/Mesopotâmia, dão de caras com o perigo iminente, mas num ápice o destroem. E devido a isto, são acolhidos pelos humanos como Deuses.

Após esta batalha, os Eternals (com Ajak no comando, e os seus seguidores: Ikaris, Sersi, Thena, Gilgamesh, Sprite, Kingo, Phastos, Makkari e Druig) mantiveram-se na Terra até ao presente, com apenas um propósito, manter a salvo o planeta e os seus habitantes dos Deviants, sem nunca interferir em qualquer outro assunto, que não envolvesse estes seres malévolos.

E assim, se mantiveram durante cerca de 6000 anos, já no presente, e supostamente após salvarem o Mundo do Deviants, cada um dos Eternals, seguiu o seu próprio rumo, mas sempre em alerta para o perigo. Encontramo-nos em Londres, onde Sersi (Gemma Chan) é professora de biologia num colégio, e no meio da sua aula, algo de estranho acontece, pois ocorre um terremoto sem estar previsto, evento que muitos tentam justificar como sendo um efeito do “blip” (o regresso de metade da população após os eventos em Avengers: Endgame).

Acabando por ignorar o que estava a acontecer, Sersi, juntamente com o seu amado Dane (Kit Harington) e a sua fiel amiga Sprite (Lia McHugh), vão dar um passeio noturno, sendo abordados por um Deviant, que parece ter evoluído em relação ao que eles enfrentaram no passado, apresentando-se mais perigoso e muito mais poderoso, acabando todos por serem socorridos por Ikaris (Richard Madden), que chega no momento certo para salvar o dia.

Apesar de os ter salvo, Ikaris não é recebido como esperava, pois existem conflitos pendentes por resolver, entre estes Eternals, o que nos leva a flashback do passado destes heróis enquanto viviam como Deuses entre os humanos, sendo mostrado as convicções que tinham e a relação entre eles. Pois, para além de tentarem salvar o planeta e os humanos, os Eternals, usavam todo o seu conhecimento e tecnologia, para de forma subtil incentivarem os humanos a evoluir.

Contudo, nem todos apoiavam a mesma ideia, uns sugeriram lhe fornecerem avanços tecnológicos rapidamente, ao que outros defendiam, que mentalmente podiam não estar preparados para tal evolução, e podia futuramente se tornar em algo catastrófico.

Com o avançar da narrativa, alguns conflitos ou conversas que surgem entre personagem, são um momento para retornarmos ao passado, e assim perceber como estes conflitos e alguns mitos surgiram, como é o caso do poderoso Gilgamesh (o grande poderoso rei da Suméria, que originou uma epopeia) ou Atena, tudo saído dos contos que Sprite, contava aos humanos dos feitos dos seus colegas, Gilgamesh (Don Lee) e Thena (Angelina Jolie).

Prevendo o possível perigo que está a surgir das profundezas da Terra, os 3 Eternals (Ikaris, Sersi e Sprite), decidem que este é momento certo para convocarem e se reunirem com a equipa de guerreiros, que outrora dizimaram os perigosos Deviants da Terra.

Assim, partem numa jornada em busca dos seus amigos, sendo o mais lógico, se apressarem no encontro com a líder Ajak (Salma Hayek), que os pode encaminhar à vitória, devido à sua capacidade de liderança e firmeza. Assim que chegam ao Sul de Dakota, e após encontrarem Ajak, algo inesperado acontece, pois Sersi acaba por absorver um poder, que a permite falar diretamente com o Celestial Arishem, que lhe mostra o verdadeiro propósito dos Eternals na Terra.

Após este evento, os nossos heróis percebem que têm em mãos um perigo ainda maior do que os Deviants, e pensam que este motivo será suficiente para colocarem de parte os conflitos gerados no passado entre eles, unindo forças para enfrentar o risco galáctico que está prestes a emergir (algo que possa ter despertado os Deviants). Assim, sem mais demoras, e no formato de transições entre passado e presente, vão ao encontro de Kingo (Kumail Nanjiani) em Mumbai, Phastos (Brian Tyree Henry) em Chicago, Makkari (Lauren Ridloff) que não sabem do paradeiro, Druig (Barry Keoghan) na Amazónia, Gilgamesh e Thena que vivem juntos na Austrália, pois Gilgamesh no passado jurou proteger Thena a todo o custo, nem que isso o levasse à morte, pois Thena tem uma personalidade muito complicada, por vezes perdendo a consciência acabando dominada por uma segunda personalidade que possui. Contudo, todos estes reencontros acabam por despertar todos os conflitos que tinham sido enterrados no passado (flashbacks), e que os fizeram se separar. Mas, para conseguirem combater todos o mal que está à espreita (Deviants e não só), os Eternals têm de ser capazes de superar todo o egoísmo e conflitos existentes.

O horizonte cósmico…

Eternals é um filme com um contexto muito complexo, para o que é habitual no Universo Cinematográfico da Marvel. Apesar da realizadora de tentar tornar toda esta narrativa simples e linear, a montagem acaba-se por apresentar estranha e até mesmo desorganizada. Mas, numa ótica da mensagem transmitida, assim como nos conflitos que os próprios heróis estão a passar, que acabam por ser uma consequência de algo que viram ou até por ser um paralelismo dos conflitos dos humanos, acaba por funcionar razoavelmente bem. Ainda assim, seria necessário um pouco mais de tempo para se desenvolver de forma mais eficaz todas as mensagens desejadas.

A forma como Chloé Zhao nos entrega esta longa-metragem é marcante, pois tenta-se distanciar da vulgar “fórmula” da Marvel, esforçando-se para tornar estes heróis com problemas mais realistas, numa visão de seres superpoderosos e salvadores de Mundos. O feito da realizadora é mais notável quando temos um número de personagens em cena menor ou quando existem momentos de maior intimidade entre personagens. Mas, quando juntamos isto à forma como Eternals é pensado e construído, sem dúvida que percebemos o desapego da típica fórmula dos filmes Marvel, sendo bastante diferente do que estamos habituados a ver no cinema. No entanto, este rumo talvez seja uma solução para os filmes da Marvel não caírem na repetição do formato e acabarem por ser previsíveis e aborrecidos.

De forma geral, o elenco tem boas interpretações, a experiência de Angelina Jolie e Salma Hayek, conseguem um trabalhos muito seguros. Destaca-se também pela positiva o trabalho de Gemma Chan e Richard Madden. Contudo, a jovem atriz Lia McHugh fica um pouco aquém dos colegas, talvez pela sua falta de experiência. Apesar de boas interpretações, a forma como é feita a construção de personagens (com saltos temporais, simplificação de alguns contextos dentro da premissa), faz com que o espectador tenha dificuldade de se ligar às personagens.

Pois com demasiadas personagens no ecrã, resulta num problema esperado, nem todas elas têm o mesmo desenvolvimento desejado. Além do que, o formato da piada habitual da Marvel não funciona, sendo que existem personagens têm um humor forçado, algo que acaba por ter um tempo de antena maior do que determinadas personagens, que têm questões mais críticas ou linhas de pensamento que mereciam ser mais bem exploradas (neste caso, é a “fórmula” Marvel que quer manter nos seus filmes, que não funcionou bem).

As cenas de ação, são bem construídas e produzidas, com bons efeitos, contudo, ainda nos primeiros passos desta aventura, sente-se uma falta de motivação ou objetivo das personagens, ficando assim muito em aberto as suas convicções.

Em suma, Eternals, é um bom filme, talvez muito ambicioso na estrutura envolvente e na narrativa apresentada, mas, apesar de todos estes riscos, é o faz de Eternals um dos maiores e bem finalizados filmes da MCU. Quanto às interpretações, como mencionado anteriormente, de forma geral são bem conseguidas, a banda sonora que nos acompanha também tem um bom destaque. Contudo, o tempo de filme é demasiado grande, talvez por existirem quase “2 argumentos em simultâneo”, um em formato macro e outro em micro (mais em torno das personagens, desenvolvimento e conflitos), que depois colidem num só, apesar de existir muita coerência na narrativa, como “existem esses 2 argumentos”, torna a premissa demasiado complexa, e em alguns momentos, parece que os argumentistas perderam um pouco o rumo e a visão da estória.

De forma geral, Eternals é talvez o filme mais bonito da série de filmes da MCU, muito se deve a toda a profundidade nos cenários, que o torna muito imersivo, as texturas pálidas e frias quando são necessárias, dando um contexto muito pessoal, e que ajudam na construção desta narrativa, com heróis vivenciando problemas e conflitos internos, onde a solução não é fácil, e estes não se resolvem numa batalha, ou mesmo após alguma redenção, existem remorsos pelos atos que optaram, ao contrário do esperado, não fica tudo bem “com beijinhos e abraços”.

Partilhamos, convosco o trailer desta recente adaptação para cinema de mais uma das obras da Marvel…

6.0
Score

Pros

  • Interpretações sólidas de Angelina Jolie e Salma Hayek
  • Bom destaque para as interpretações de Gemma Chan e Richard Madden
  • Planos abertos e profundidade do cenários, tornam a experiência mais imersiva
  • Distanciamento da fórmula Marvel
  • "Fórmula" de Chloé Zhao
  • Apesar dos riscos tomados, é um dos filmes mais bonito da MCU

Cons

  • Interpretação de Lia McHugh
  • Demasiadas personagens para desenvolver, acaba por haver dificuldade nos ligar a elas
  • Por vezes, a narrativa divergiu
  • Motivos e convicções das personagens, demoram a desenvolver-se
  • Tempo total do filme

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