Análises, Cinema

Encanto – Análise

Encanto é uma animação musical digital produzido e distribuído pela Walt Disney, dirigido por Byron Howard (diretor e produtor norte-americano, mais conhecido pelos seus trabalhos em Lilo & Stitch, Bolt, Tangled, Zootopia, etc.) e Jared Bush (diretor e produtor norte-americano, mais conhecido pelos seus trabalhos em Zootopia, Moana, entre outros), co-dirigido por Charise Castro Smith (produtora e co-diretora americana que fez sua estreia no cinema no filme Encanto e também co-dirigiu Zootopia), e tendo como argumento original escrito por Bush, Castro Smith e Lin-Manuel Miranda (ator, rapper, compositor, dramaturgo, cantor, produtor, diretor e letrista norte-americano de origem porto-riquenha mais conhecido por escrever e estrelar os musicais Hamilton e In The Heights. Recentemente também fez a sua estreia na direção com o filme tick, tick… Boom!).

Este filme possui no seu elenco de voz Stephanie Beatriz (atriz argentina, mais conhecida por interpretar Detetive Rosa Diaz na série televisiva Brooklyn Nine-Nine, estrelou como Bonnie no drama independente Short Term 12, participou nas animações Ice Age: Collision Course e The Lego Movie 2: The Second Part), John Leguizamo (ator, produtor, escritor americano de origem colombiana, que participou nos filmes: Super Mario Bros; To Wong Foo, Thanks for Everything! Julie Newmar; no qual foi nomeado a um Globo de Ouro por melhor ator secundário; Romeo + Juliet; Collateral Damage; The Counselor. Contudo, o seu trabalho mais conhecido pelo público mais jovem, é de certo é nos filmes da franquia Ice Age, na qual deu a voz ao famoso preguiça Sid), Wilmer Valderrama (ator e produtor americano, mais conhecido pelas suas participações em séries televisivas tais como That ’70s Show, From Dusk till Dawn: The Series e NCIS. A nível de voz, destacam-se os seus trabalhos nas animações Charming, Trouble e Onward), Diane Guerrero (modelo e atriz americana mais conhecida pelas suas interpretações nas séries de TV Orange, Jane the Virgin e Doom Patrol), Rhenzy Feliz (jovem ator americano mais conhecido pela sua interpretação de Alex Wilder na série da Marvel Runaways), Alan Tudyk (ator americano conhecido pelas suas interpretações nos filmes Serenity, Dodgeball: A True Underdog Story, I, Robot, A Knight’s Tale, Transformers: Dark of the Moon, 42, Maze Runner: The Scorch Trials, Rogue One, etc. A nível de trabalho de voz nas animações destaca-se Wreck-It Ralph, no qual deu vida ao King Candy tendo ganho um Annie Award), entre outros.

O Vale de Encanto…

Esta animação conta-nos a estória de uma família extraordinária, os Madrigais, que vivem escondidos nas montanhas da Colômbia, numa “Casita” mágica, num lugar vibrante e maravilhoso chamado de Encanto.

Encanto, inicia precisamente neste ponto, em que Alma Madrigal (María Cecilia Botero) conta uma pequena estória à pequena Mirabel (Noemi Josefina Flores) momentos antes desta entrar na cerimónia para obter o seu poder mágico proveniente da Noemi Josefina Floresela que originou Encanto e a família Madrigal.

Uns anos mais tarde, já Mirabel (Stephanie Beatriz) uma jovem adolescente, numa introdução bastante arrojada e animada, recheada de musicalidade apresenta-nos toda a sua família, desde a avó Alma Madrigal, passando pelos seus pais Julieta (Angie Cepeda) e Agustín (Wilmer Valderrama), as suas irmãs Isabela (Diane Guerrero) e Luisa (Jessica Darrow), percorrendo os seus tios e primos, com um especial destaque para o pequenito Antonio (Ravi-Cabot Conyers) que está prestes a celebrar a sua ascensão e recebendo assim o seu poder mágico (ou seja, sua passagem para “jovem adulto”).

Apesar de toda esta festividade, os mais jovens da aldeia insistem para que Mirabel lhe digam qual é o seu poder, é quando se apercebem que a nossa heroína não obteve qualquer magia na sua cerimónia, fazendo dela quase como a “ovelha negra” da família (como se de um ser imperfeito se tratasse).

Mirabel, devido a este fato, origina em toda a família um “mau presságio”, pois será a vez de Antonio e todas as dúvidas surgem se o mesmo poderá acontecer com o pequeno, pois nunca antes de Mirabel tinha acontecido tal infortúnio. Mas, para piorar toda a frustração sentida por Mirabel, por não ter nenhuma magia, como os outros elementos da sua família, todos em seu redor a tratam de forma diferente por causa disso, sendo mesmo por vezes ridicularizada pelas crianças que dizem que talvez a sua habilidade seja a negação por não ser especial.

Apesar de todo o esforço da nossa protagonista para ser reconhecida pela família, pelo o que é ou pelo o que faz, nada disto tem resultados positivos, pois todos a veem como uma menina mimada que apenas quer atenção e como alguém que só atrapalha.

Durante a noite, e já perto da cerimónia Mirabel conversa com Antonio no quarto que ambos partilham (sendo o quarto das crianças – diferenciando aqueles que têm dons dos que ainda não têm), dizendo-lhe que estará sempre com o seu primo e que o ajudará no que precisar.

Existindo toda esta empatia entre os dois, Antonio não quer fazer a sua jornada pela descoberta do dom sozinho, acabando por pedir que Mirabel o leve até à vela. Assim sendo, e apesar de correr tudo bem, pois Antonio ganha o dom de falar com animais, Mirabel apercebe-se que algo está errado com a “Casita”, pois esta começa a rachar. Contudo, inicialmente os seus avisos sobre o que está a ocorrer com a “Casita” são menosprezados pelos outros.

Pois, Mirabel é vista como menina mimada, por isso todos assumem que ela está apenas com ciúmes do primo e queria virar todas as atenções para si. Perante isto, a jovem, resolve investigar a potencial causa deste incidente, questionando alguns dos seus familiares. Ela chega à conclusão que quem poderá saber algo mais sobre tal acontecimento é o seu tio Bruno (John Leguizamo), um familiar com a dádiva de ver o futuro, mas este dom era visto como algo maléfico que o levou a afastar-se de toda a família.

No entanto, persistente como é, Mirabel consegue sorrateiramente entrar no antigo quarto do seu tio, e acaba por encontrar algo inesperado e nunca antes visto por alguém, pois Mirabel descobre a última previsão de Bruno, um dos motivos que o fez abandonar a família Madrigal.

Sem saber o que fazer, Mirabel tenta perceber o que poderá querer dizer tal visão, mas não é o momento para tal, pois nesse mesmo dia a sua irmã mais velha, Isabela, tinha o jantar mais importante da sua vida, pois seria pedida em casamento por um belíssimo aldeão. Devido a estar demasiado inquieta com toda a situação da previsão, Mirabel observa novamente a “Casita” a sofrer danos irreparáveis, e tenta acelerar todo o evento de forma a que todos saiam em segurança.

Tal ação da jovem só piora a situação, pois quanto mais inquieta fica, mais a “Casita” se danifica e sem perceber muito bem como revela a previsão de Bruno a toda a família, onde nela se pode observar a “Casita” a desmoronar, o que leva todos a crer que toda a culpa do que está a acontecer é de Mirabel.

Perante isto, a mesma não vê outra solução a não ser tentar reparar todos os danos causados e mais do que isso, impedir que o seu lar fique destruído. Todo o Mundo Mágico de Encanto está em perigo, estando nas mãos de Mirabel, a única Madrigal comum, a missão de salvar a sua família excecional.

A Família Madrigal…

O que há de admirável nesta 60ª animação da Disney, é como Encanto é positivo sobre a vida, com enfoque na união familiar, que ao contrário dos filmes do género anteriores. Neste filme não existe nenhum “grande vilão”, a não ser o “mal” inicial que fez da “Abuela” Alma viúva e o preconceito de todos (que acham que as pessoas por terem um dom são melhores e que não gostam de saber das verdades, quando estas não são como elas as queriam). Destaca-se também que Mirabel é uma personagem principal maravilhosa, de bom coração e diferente do habitual da Disney (pois além de não possuir nenhum dom percetível ou príncipe encantado, sendo demasiado comum e ela ainda possui óculos, evidenciando mesmo que não é “perfeita” ou “superforte”).

Quase todos os membros da família Madrigal são abençoados com um dom único, contudo o foco é no único membro da família que não tem uma habilidade evidente, Mirabel, a irmã mais nova de Luisa (que possui superforça) e Isabela (que faz crescer flores e plantas em seu redor), que quer desesperadamente provar, que mesmo sem um poder, que pode ser útil para a sua família e para a sua comunidade.

A narrativa pode parecer leve, no entanto ela é muito simbólica, podendo “passar ao lado” de alguns as diversas mensagens que este filme queria partilhar. Por exemplo, ao longo do filme ficamos a perceber que a Casita é uma entidade viva que respira, movendo peças de si mesma aparentemente por vezes apenas por capricho ou para ajudar os seus habitantes. Esta personagem sem voz, faz o paralelismo relativo à relação familiar que deve ser construída sobre uma base sólida de confiança protegendo os seus, mesmo estes sendo diferentes, porque senão, os desentendimentos levam à rotura e ao caos.

A animação é incrivelmente bela com cenários coloridos, complementada com as músicas (que provavelmente poderão ficar na cabeça depois de ver esta animação) originais do filme foram compostas por Lin-Manuel Miranda, são alegres e divertidas, que em simultâneo ajudam a manter o ritmo da narrativa. O número musical de abertura é inegavelmente incrível, com Mirabel apresentando cada membro de sua família e suas habilidades especiais. Os outros números, centrados nas irmãs de Mirabel, onde estas demonstram que ter poderes é complicado, pois todos ficam dependentes das mesmas, tendo de ser sempre fortes ou perfeitas, mesmo quando o seu estado de espírito não é esse. Isto é claro que também se deve ao elenco versátil e excelente que esta animação possui.

Além do mais, Encanto é uma animação musical que presta homenagem à Colômbia e a uma das obras de um dos artistas mais conhecidos deste país, Cem anos de solidão, de Gabriel Garcia Márquez, sendo percetíveis as homenagens através do próprio nome “Encanto” e “Macondo”, onde ambas as cidades são fundadas, no meio da selva, por famílias relevantes, Madrigal e Buendia de Marquez, respetivamente. Claro que os Cem anos de solidão foca mais os temas políticos e a história sangrenta do imperialismo na América Latina, no entanto, esta animação apresenta de forma mais subtil estes eventos no início do filme e na partilha do passado da avó à neta (que é sublime).

Em suma, Encanto é uma abordagem mágica e alegre da Disney sobre os “super-heróis”, em que o verdadeiro poder se centra na família e na reconciliação da mesma. Este é uma homenagem à Colômbia, com uma narrativa simples e recheada de simbologia e uma moral forte por detrás da estória apresentada. Possui ainda uma banda sonora que complementa de forma magnífica, em que cada música é especial à sua maneira, sendo uma forma bastante inteligente de fazer avançar a narrativa, mas também caracterizar todas as personagens. Ficando mais bela, quando toda a mistura de sonoridades se complementam umas às outras, pois em determinados momentos é mais do que uma música a ser interpretada, mas quando todas se ligam, demonstrando que cada uma é um trecho de uma obra grandiosa, assimilando assim a família Madrigal. Os cenários coloridos e cheios de vida desta animação, tornam Encanto extremamente apelativo e divertido para crianças e adultos.

Partilhamos, convosco, o trailer Encanto a 60ª animação da Disney

8.0
Score

Pros

  • Narrativa simples, mas muito simbólica
  • Banda sonora
  • É genial a forma como a musicalidade é utilizada
  • Cenários coloridos e recheados de viva (mostrando a magia de Encanto)
  • Toda a simbologia e homenagem à Colômbia

Cons

  • Pouco destaque para as personagens secundárias

Related posts