Análises, Cinema

Elvis (HBO MAX) – Análise

Elvis é um filme do género musical dramático e biográfico de 2022, dirigido e co-escrito por Baz Luhrmann (um cineasta australiano conhecido por trabalhos na indústria do cinema tais como Romeo + Juliet, Moulin Rouge!, Australia, e, mais recentemente, The Great Gatsby), que foi apresentado no Festival de Cinema de Cannes 2022 e trazido às salas de cinema australianas e americanas pela produtora Warner Bros. Pictures, porém em Portugal está longa-metragem chegou-nos pelo serviço de streaming HBO Max.

Elvis tem como estrelas principais, Tom Hanks (o icónico ator americano, conhecido mundialmente pelo seus trabalhos, tendo já arrecadado 2 Óscares pela Academia de um total de 6 nomeações, contando ainda com mais de 50 premiações dos maiores prémios da indústria de cinema. Hanks tem uma manopla enorme de participações em filmes que todos nós conhecemos, como por exemplo: The Money Pit, Philadelphia, Forrest Gump, Cast Away, ainda participou na série de filmes que seguiram os livros de Dan Brown, seguindo a estória do professor Robert Langdon em The Da Vinci Code e nas suas sequelas, Cloud Atlas, e mais recentemente em Pinocchio. Além destes, fez participações em animações tais como na série de filmes Toy Story, Cars, entre outras atuações) e Austin Butler (jovem ator americano, mais conhecido pelo seu trabalho na série The Shannara Chronicles, além de outras atuações em Zoey 101, Life Unexpected. Já no cinema participou em The Intruders, Dude, The Dead Don’t Die e Once Upon a Time in Hollywood. Também já existe a confirmação que ele terá participação na sequela de Dune de Denis Villeneuve).

Além destes dois atores, esta longa-metragem conta ainda no seu elenco com Olivia DeJonge (jovem atriz australiana, com pequenos passos dados na indústria sendo mais conhecida pelas suas interpretações em The Visit, Josie & Jack, The Society e The Staircase), Richard Roxburgh (diretor, produtor, ator e escritor australiano conhecido mundialmente pelos seus trabalhos em, Mission: Impossible 2, Moulin Rouge!, Van Helsing, Hacksaw Ridge, The Hunting, entre outros), Helen Thomson (atriz australiana conhecida mais pelas suas interpretações nas séries, Bad Cop, Bad Cop, Rake e Stupid, Stupid Man), Kodi Smit-McPhee (jovem ator australiano conhecido pelas suas interpretações nos filmes The Road, Let Me In, Dawn of the Planet of the Apes, Young Ones, Slow West e mais recentemente em The Power of the Dog, que lhe permitiu a nomeação para o Óscar de melhor ator secundário. Também é reconhecido pelo seu papel de Nightcrawler, nos mais recentes filmes X-Men, X-Men: Apocalypse e X-Men: Dark Phoenix.), Kelvin Harrison Jr. (jovem ator americano conhecido pelos seus papéis em Mudbound, Monster, The Trial of the Chicago 7 e mais recentemente em Cyrano, existindo ainda destaque para a sua participação em Mufasa: The Lion King), entre outros. Destaca-se e homenageia-se nesta análise a atriz Shonka Dukureh, que infelizmente, faleceu em julho deste ano por causas naturais.

O Aparecimento de uma Estrela…

Elvis conta-nos a história, daquele que seria conhecido como o Rei do Rock and Roll, mas desta vez, esta longa-metragem dá-nos uma perspetiva um pouco diferente dos outros filmes com o mesmo tema, pois tem como figura central o seu agente, o “Coronel” Tom Parker (Tom Hanks), que se envolveu em diversas polémicas após a morte do artista, já que foi acusado de ter se apoderado da fortuna de Elvis a partir de contratos fraudulentos.

O filme inicia em 1997 com Tom Parker a sofrer um ataque cardíaco e a ser levado para o hospital, onde observa o hotel Intercontinental em Las Vegas de longe, começando a ter memórias do seu auge como agente, remetendo-nos para os anos 50, que foi quando conheceu Elvis (Austin Butler). Na década dos anos 50, Tom geria um grupo de pessoas que trabalhavam num circo, além de também gerir um pequeno grupo de músicos country e a banda liderada por Hank Snow (David Wenham). É num desses dias que o jovem cantor Jimmie (Kodi Smit-McPhee) apresenta ao grupo, algo que está a ser tocado em todas as rádios, apresentado como um fenómeno nunca antes visto, uma música de Blues a ser protagonizada por um homem branco (já que este género de música era associado à raça negra, e nesta época iniciava-se a luta pelos direitos humanos dos negros).

Ao ser uma música associada à raça negra, mas cantada por um homem branco existe de imediato um sucesso inerente que Tom visualiza num ápice, querendo conhecer o homem por detrás daquela voz. Assim sendo, o “Coronel” Tom Parker leva a sua equipa a participar num evento que Elvis irá atuar, podendo observar o músico e também tentar ser contratualizado como o seu agente.

Toda a montagem desta cena é brilhante, pois é-nos criado a sensação entusiasmo e ansiedade para vermos e ouvirmos Elvis, mas sempre que tal está para acontecer o momento é-nos cortado, até ao instante em que o artista entra em cena, e aí apenas ficamos arrepiados e apreciamos o que estamos a ver. Pois é a mesma sensação que Tom Parker tem quando o vê em palco, e para espanto de todos, todas as mulheres libertam gritos de “liberdade” pelo que lhes é apresentado na sua frente.

Após esta atuação de excelência, Tom tenta convencer Presley para que este o deixe tornar-se seu agente, e numa manipulação do “destino” ele consegue o quer, e finalmente consegue conversar com a estrela, e assim como o próprio diz, tudo é um negócio de vigarice, iniciando assim a dupla que levaria a estrela ao sucesso.

Apesar de todo o sucesso que Elvis está a ter, a América está a passar por uma fase muito complicada no ceio civil do país, já que os confrontos entre negros e brancos pela luta pelos direitos humanos é cada vez mais agressiva e constante, o que leva ao líderes governamentais exigirem a Tom que faça de tudo para que Elvis deixe de se comportar como os negros, assim como deixe de cantar o seu próprio género musical, tudo para tentar manter a segregação racial no país.

Nesta fase Elvis passa por um conflito interno complicado, pois existe a pressão dos pais Gladys (Helen Thomson) e Vernon (Richard Roxburgh) sobre o que deve fazer, além de Tom não o deixar sozinho para que este não faça “loucuras” e leve as suas fortunas por “água abaixo”. Mas Elvis acaba por se refugiar uns tempos e se aconselhar junto daqueles que o compreendem, como é o caso do seu amigo e artista B. B. King (protagonizado por Kelvin Harrison Jr.), assim como Big Mama Thornton (protagonizada por Shonka Dukureh).

Elvis enquanto artista tem de tomar a decisão mais difícil da sua vida, já que a decisão que acaba por tomar (visto ser uma facto realista) leva-o a sofrer consequências inesperadas, e enquanto isso Tom não deixa de vender a sua “vigarice” fazendo de tudo para Elvis fique para sempre seu refém e aprisionado a mundo controlado pelo “Coronel” Tom Parker.

O Homem Branco com Alma de Negro…

Elvis, é sem dúvida um dos melhores filmes do ano de 2022, abordando a obra e vida de um dos maiores artistas musicais de todos os tempos, conseguindo homenagear excelentemente os seus feitos e inspirações. Neste drama biográfico, contado em forma de musical, Baz Luhrmann conduz todo o segmento do filme, tocando nos pontos mais sensíveis e abordando aqueles mais polémicos, mas executa o seu trabalho de forma exímia, tornando esta longa-metragem numa mistura de algo que já vimos em Romeu + Julieta com Moulin Rouge! e até mesmo Australia, sendo possível observar aquele o toque pessoal do diretor.

A nível da narrativa, esta é bem equilibrada, já que nos remete à década de 50 altura em que Tom Parker conheceu Elvis Presley, seguindo depois a vida de Elvis de forma mais focada acompanhando os seus sucessos, dissabores, e, por fim, caindo nos vícios de ambos que acabam por levar à rotura desta dupla. Já que abordamos a forma como a narrativa progrediu, deve-se referir ainda que no que toca ao guarda-roupa este está bem enquadrado às décadas em que esta longa-metragem se passa.

Elvis a nível técnico apresenta-nos algo simples, quando comparamos com produções de ficção científica por exemplo, mas extremamente bem executadas, principalmente a nível de edição e cenários, que é algo realizado com mestria, sendo o resultado final soberbo. O que nos leva a dizer que com algo simples também é possível torná-lo complexo, já que uma execução desta qualidade não é fácil de ser concretizada. Destaca-se ainda que as transições, não só entre cenas, mas também entre décadas, é um vislumbre para os olhos do espectador, já que em momentos parece que estamos a visualizar os cartazes dos anúncios dessa altura, algo muito bem pensado e mais uma vez, bem executado.

No entanto, o ritmo de Elvis é um pouco desequilibrado, havendo momentos que fica a sensação que beneficiariam com um pouco de mais tempo para desenvolver os acontecimentos, e outros que não precisariam de ter tanto detalhe, o que levou a esses acontecimentos se tornarem um pouco pesados no final. Contudo, de forma geral, são uns pequenos pormenores que podem sentir durante toda a longa-metragem.

Sendo um musical, e estando a falar de Elvis, um dos aspetos importantes a falar é banda sonora e sonografia, e estes dois não ficam aquém do esperado. A nível de banda sonora que nos acompanha nestes cerca de 150 minutos, está sempre focada na época, além de ser dado musicalidade de fundo sempre associado ao estado de Elvis, num primeiro momento é possível sentir de fundo o ritmo da música Hey Mama (mesmo sem esta ainda ser tocada), e numa fase mais dianteira, o ritmo é sempre marcado pela musicalidade de Can’t Help Falling in Love (numa sonoridade um pouco diferente, mais soft, lenta, ao som de um piano que toca de fundo sobre a música que está a passar em alguns momentos), algo que foi brilhantemente bem adaptado.

A nível de interpretações, estas são de forma geral extremamente bem conseguidas, os atores Tom Hanks e Austin Butler que protagonizam esta longa-metragem, fazem um trabalho exímio criando bons momentos de tensão entre os dois, além de observarmos a capacidade de Austin recriar Elvis, vendo o crescendo do músico, e no caso de Tom Hanks é possível observar todas as expressões de vigarice de Tom Parker, assim como a forma como manipulava tudo à sua volta. Porém, a jovem atriz Olivia DeJonge não consegue estar a par do seu parceiro romântico no filme, Austin, sendo a sua interpretação sempre abafada, além de passar poucas emoções nos momentos críticos da relação. Já Helen Thomson e Richard Roxburgh apesar do pouco tempo de tela, conseguem entregar bem as suas interpretações. Destaca-se ainda a atriz que deu corpo e voz à icónica Big Mama Thornton, Shonka Dukureh, que nos momentos mais direcionados à cultura negra da altura consegue expressar muito bem todos esses momentos, e com pena que este tenha sido o seu último trabalho.

Em suma, Elvis é um dos filmes do ano, com uma história contada de uma perspetiva um pouco diferente do habitual, mas que funciona muito bem, tornando toda esta longa-metragem numa excelente homenagem ao artista. O trabalho de Baz Luhrmann é muito bem conseguido, misturando um pouco do seu cunho pessoal, dando a sensação de uma “mistura” dos seus outros trabalhos anteriores.
A nível de interpretações, de forma geral, estas são bem conseguidas, contudo destaca-se as magníficas interpretações de Tom Hanks e Austin Butler. Já Olivia DeJonge ficou aquém do restante elenco. No que diz respeito ao trabalho técnico, a banda sonora é exímia e bem enquadrada no filme, tal como mencionado anteriormente, assim como a edição e cenários que tornam Elvis brilhante. Destaca-se ainda pela positiva a recriação das épocas onde se desenrola a história, contudo, esta por vezes apresenta um ritmo desajustado ao momento que está a ser mostrado.
Apesar de haver o sentimento que Elvis poderá ser mais um filme como tantos outros biográficos de um determinado artista, é na forma como a narrativa se desenvolve e na perspetiva dada, que o destaca dos outros, além do mais, a mistura de momentos do filme com momentos reais capturados ao vivo de Elvis Presley, tornam Elvis numa excelente homenagem ao artista que dificilmente esqueceremos.

Partilhamos, convosco o trailer deste mais recente filme biográfico do Rei do Rock and Roll, Elvis

8.0
Score

Pros

  • Interpretação de Tom Hanks e Austin Butler
  • Direção de Baz Luhrmann
  • Banda Sonora
  • A edição e os cenários são soberbos
  • Excelente recriação das décadas onde se situa a longa-metragem
  • Perspetiva da história contada
  • Combinação e mistura de momentos do filme com momentos reais de Elvis Presley
  • Excelente homenagem ao artista

Cons

  • Ritmo do filme, por vezes desequilibrado
  • Interpretação de Olivia DeJonge

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