Mais uma época se passou e mais uma temporada de “Formula One: Drive to Survive”, a série do Netflix que resume documentalmente o ano desportivo do desporto motorizado mais famoso do mundo. Eu, fã da modalidade, todos os anos sento-me no sofá para ver que histórias serão contadas, quais detalhes dos bastidores serão revelados e que polémicas serão relembradas. Esta será a análise da temporada quatro da série documental, mas desta vez com a ajuda do Francisco Melo, speaker de motorsport conhecido da nossa praça (trabalha como freelancer, muitas vezes contratado para speaker no autódromo do Estoril), já trabalhou diretamente para o Paddock Club da F1 (presencialmente e virtualmente) e conhecida “enciclopédia” da Fórmula 1.

Formato
Tem de haver um arranjo bom o suficiente para ser coerente para o espectador, especialmente para o que não viu a temporada (afinal, a obra também é para eles). Não me parece que, desta vez, o formato foi perfeitamente colocado. Há uma tentativa de evitar a ordem cronológica, dividindo a obra por temas, um por episódio, dez episódios. A ideia é semelhante às das temporadas passadas, no entanto, nesta temporada pareceu mais confuso. Houve corridas repetidas mais do que uma vez, não há qualquer forma de organização temporal: um episódio fala das férias de verão (meio da época) e logo no seguinte fala-se das primeiras corridas do ano. Para o espectador que não acompanhou a modalidade (a quem a narrativa criada é direcionada) até pode ser interessante, no entanto, para quem acompanhou, deixa tudo mais confuso. Parece que evitam falar do desporto propriamente dito e tentam criar uma história paralela à realidade.
Francisco Melo, acerca do formato: Em relação ao formato, acho que, como tudo na vida, tem de ser ir atualizando. Primeiramente, acho que falham em não falar de todas as equipas. Na temporada passada, por exemplo, a venda da Williams nem foi falada. Deveriam falar e todas as equipas e deveria haver uma obrigação contratual para que todos os pilotos participassem no documentário. Por outro lado, alguns pilotos têm razões de queixa. Verstappen diz que, na primeira temporada, teve declarações retiradas do contexto.

Narrativa
Apesar de ser uma série documental, “Formula One: Drive to Survive” não deixa de ter uma orientação narrativa. É muito fácil, finalmente em assuntos tão passionais, como desporto (mesmo motorizado), cair em erro e acabar por colocar um “lado” como bom e outro como mau.
Apesar da dramatização exagerada em certas situações ( a relação não muito calorosa entre Lando Norris e Daniel Ricciardo, que, na verdade, é muito mais simpática), a série está bastante equilibrada. A série tentou dramatizar o suficiente para dar alguma emoção e prender o espectador, mas não demasiado a fundo para não se afundar em polémicas. Aliás, tenta mesmo evitá-las. Os atritos entre os dois candidatos ao título foram bastante amenizados, a influência dos erros dos comissários de prova e da sua arbitragem foi deixada muito mais em aberto do que o consenso geral do público. Acho que a narrativa (dentro do formato proposto, já referido) decidiu explorar mais o âmago e o interior de cada interveniente protagonista de cada tema.
Francisco Melo, acerca das polémicas e da sua apresentação na série: A Netflix, por eles, quereria mostrar todas as polémicas. Se não tocou em algumas das rivalidades, deverá ter sido, por um lado, por pressão da própria F1, por outro, para apresentar um produto mais limpo e espetacular, para não afastar os fãs.

Montagem
Este é o ponto que eu mais gosto da série. A edição dentro dos episódios é bastante boa. A forma como a equipa de reportagem conseguem captar as mais engraçadas e interessantes reações do paddock tornam a experiência muito enriquecedora. Como eles passam bastante tempo a filmar, tudo fica muito bem representado e documentado. Juntando essas imagens de bastidores, com as entrevistas, os rádios, os pontos jornalísticos é possível uma compreensão imediata para todo o tipo de público. Os cortes rápidos durante as corridas e os efeitos sonoros deixam tudo mais interessante. A série funciona como um grande culminar de emoção desportiva em pequenas doses entre 40 e 50 minutos. Mesmo para quem viu todas as corridas, parece que a série nos teletransporta para o momento exato daquela ultrapassagem, daquele toque, daquele confronto… Neste aspeto estão de parabéns.
Francisco Melo, acerca do comportamento dos intervenientes durante a série: Há sem dúvida uma mudança de mentalidade após a explosão da série. O Guenther Steiner é o engenheiro mais adorado por toda gente, graças à sua naturalidade. Horner, é casado com uma “Spice Girl”, tem uma equipa de marketing enorme por trás, tem um grande coaching para as câmeras.

Bónus: Aspetos externos
Esta obra cumpre o seu papel. Afinal, não é à toa que ela é lançada por esta altura. Trata-se da semana de véspera do início da nova temporada da competição. O objetivo da mesma é convencer quem não assiste as provas a fazê-lo e deixar animado quem as assiste. E para isso põe a adrenalina e o drama acima da documentação real dos acontecimentos puramente desportivos. Não sei até que ponto é que desportivamente, isso possa ser positivo, mas comercialmente é. A competição nunca foi tão popular, cada vez mais pessoas se juntaram ao movimento. Por isso, bom ou mau, o documentário cumpre o seu papel e irá continuar certamente. No geral, é uma série que não me ofende e que é bem competente, mas é claramente pouco artística e pouco documental e muito mais comercial, o que faz com que em termos de matéria, não é a coisa mais competente do mundo, no entanto, tecnicamente, é uma série muito bem conseguida.
Para aceder à entrevista completa com o nosso convidado, basta apenas subscrever o nosso Ko-Fi, por apenas 3 euros. Ou para uma versão, mais resumida, foi lançado também um vídeo para o nosso canal do Youtube, com os depoimentos em vídeo do mesmo.

6.0 Score
Pros
- Muito conteúdo exclusivo
- Edição emocionante
Cons
- Baralhação no formato
- Fugiram de algumas polémicas importantes
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