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Cobra Kai – Season 1 (Netflix) – Análise

Com a 4 temporada a chegar, para quem não viu as anteriores, a CaixaNerd decidiu fazer uma análise das mesmas, para os fãs da série e dos filmes desta saga, e para os mais desatentos que ainda não conhecem a mesma.

Cobra Kai é uma série de drama e ação com base em artes marciais, desenvolvida por Josh Heald, Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg, que segue a estória 30 anos após os eventos do primeiro filme da trilogia, The Karate Kid. Esta primeira temporada é da autoria das produções do Youtube Premium (considerada uma websérie), sendo mais tarde adquirida pelo canal de streaming Netflix (que participou na produção da segunda temporada, sendo a partir desse ponto totalmente do canal de streaming). O elenco desta série é repleta de promissoras “caras novas”, como por exemplo, Xolo Maridueña, Tanner Buchanan, Mary Mouser, entre outros. No entanto, podemos contar com o elenco original do filme por detrás desta primeira temporada, The Karate Kid, prevendo assim que os mesmos atores nos acompanhem nesta nova aventura, tais como, William Zabka e Ralph Macchio.

All Valley…

A série Cobra Kai, vem no seguimento de uma trilogia clássica cult dos anos 80, The Karate Kid. Esta decorre cerca de 30 após os eventos do primeiro filme original, sendo de imediato mostrado um paralelismo da série com essa primeira longa-metragem, pois Cobra Kai, com o acesso torneio de All Valley Sub-18 de Karate, onde a final foi disputada entre Daniel LaRusso (Ralph Macchio) e Johnny Lawrence (William Zabka), de onde o primeiro sai vitorioso.

Johnny Lawrence agora com cerca de 50 anos, ainda vive um pouco preso no passado, sentindo que aquele torneio na adolescência marcou o seu futuro, pois Lawrence apresenta-se no presente quase como um “vagabundo”, alcoólico e que vive como homem dos “7 ofícios”, tendo um emprego que vai desde a limpeza de telhados a instalações de eletrodomésticos. Contudo, toda a sua vida é repleta de infortúnios, pois rapidamente perde o emprego devido à sua postura arrogante e indisciplinada.

Por outro lado, o seu antigo rival Daniel LaRusso, é um empresário de sucesso, gerindo um enorme grupo de concessionários de carros de luxo, LaRusso Auto Group. Daniel tem uma viva bastante estável e folgada em termos financeiros, construiu família com um linda rapariga que conheceu anos mais tarde, Amanda (Courtney Henggele), e ambos tiveram dois filhos, Samantha (Mary Mouser) e Anthony (Griffin Santopietro).

Os dois filhos de Daniel estudam em All Valley, na mesma escola que o pai frequentou, mas apesar de estarem espaçados cerca de 30 anos, há coisas que não mudaram, pois a escola mantêm grupos de miúdos populares, que acabam por incentivar e praticar bullying em miúdos menos popular ou com características inferiores.

Eli (Jacob Bertrand) e Dimitri (Gianni Decenzo) são alguns dos jovens que mais sofrem com este tipo de prática repugnante, tal como Miguel (Xolo Maridueña), um recém chegado à cidade e à escola, que num primeiro momento não vê mal nenhum em se relacionar com toda a gente e acaba por se integrar no grupo “fraco” fazendo dele uma presa.

Esta ingenuidade de Miguel, leva-o a ser confrontado de forma maliciosa com o grupo dos populares, sendo o líder Kyler (Joe Seo), que alcunha Miguel de Reia. Neste confronto onde Miguel está a ser abusado pelo grupo de Kyler, eles acabam por danificar um carro lá estacionado, que pertence a Johnny que está de passagem e intervém nesta luta principalmente para “salvar” o seu carro, mas acaba também por ajudar Miguel.

Sendo Miguel vizinho de Johnny, este pede-lhe que o ajude a defender-se contra Kyler e o seu grupo, pois estes de certo irão infernizar a sua vida escolar ainda mais após este evento. Numa primeira abordagem Johnny recusa-se a treinar o miúdo, pois ele caracteriza-o como um “medricas” e tem de se desenrascar. Contudo, a falta de dinheiro e mais uma série de infelicidades que levam o carro de Johnny para a sucata, fazendo com que este tenha de se deslocar ao concessionário LaRusso e reencontrar o seu antigo rival, levam-no a reacender um pouco a rivalidade de ambos, e queira ser um sensei para Miguel.

A interação e crescente relação entre Johnny e Miguel (quase como pai e filho), motiva-o para abrir um dojo, com o mesmo nome do que frequentou na sua juventude, Cobra Kai. Com os treinos, Miguel consegue desenvolver habilidades para se defender dos maus tratos dos bullies, sendo esse momento filmado e tornando-se num vídeo viral, fazendo com que Cobra Kai seja procurado por muitos jovens que sofrem situações similares.

Mas apesar de reabrir Cobra Kai, e manter a mesma estrutura (Strike FirstStrike HardNo Mercy), a sua filosofia acaba por ser um pouco diferente, pois apenas quer tornar os falhados ou medricas, em Cobras, badass e jovens mais confiantes.

Porém, Daniel ao passar na rua, repara no dojo e isto traz-lhe bastante memórias, más memórias (todas relacionadas com o primeiro filme), fazendo com que este nunca queira que Cobra Kai se reerga, afirmando que quem seguir aquele homem vai se tornar num vagabundo como Johnny. Todas estas emoções à flor da pele, levam Daniel a visitar o seu velho amigo Sr. Miyagi (que infelizmente já não se encontra entre nós) para que este o guie da melhor forma.

Devido à rigidez e filosofias de Johnny, estas fazem que grande parte do grupo de alunos se afastem do dojo, Miguel pondera que algumas atitudes não são as melhores, elas causam impacto nos restantes alunos, pois Eli transforma-se completamente apresentando uma atitude mais próxima à de um Cobra. Aisha Robinson (Nichole Brown), a segunda aluna de Johnny mostra-se concordante com estas novas posturas e com as filosofias do seu sensei, já que ele caracteriza-a como sendo um Cobra por natureza, que precisava de um pequeno empurrão para se libertar.

Com o crescimento do dojo e tornando-se cada vez mais popular, Miguel convence Lawrence a inscrever o mesmo no torneio de All-Valley. Esta potencial participação não agrada a LaRusso, que mais uma vez tenta de tudo para que seja anulada, justificando-se com as ações tomadas por Johnny e o seu ex-sensei John Kreese (Martin Kove) na década de 80 com os Cobra Kai.

No seguimento, do possível torneio, Johnny começa a reconhecer atitudes nos seus alunos que possam não ser as melhores, sentindo que eles possam levar demasiado à “letra” os seus ensinamentos. Sendo que estas atitudes juntamente com o primeiro lema da sua filosofia (Strike First), acabam por pôr em causa a própria personalidade dos seus alunos, algo que faz Johnny pensar se os está a ensinar da forma correta e o próprio começa a duvidar da filosofia que ele mesmo segue. No entanto, ele sente-se elogiado por ressuscitar o espírito de Cobra Kai novamente.

Cobra Kai “Never dies”…

Cobra Kai é uma série extremamente divertida e rápida de se ver, pois são apenas 10 episódios, com cerca de 20 minutos cada um. Ela conseguiu reavivar o interesse por um dos melhores clássicos do culto dos anos 80, e durante os diversos episódios, é possível observar várias homenagens sutis que atingem o auge sempre que ocorrem conflitos entre os vários personagens.

Num primeiro impacto, podem achar que Cobra Kai é o recontar da estória de The Karate Kid numa perspetiva diferente, mas é mais do que isso, é o mostrar a vida de Johnny para além de Cobra Kai, e no este se tornou após os eventos do primeiro filme, envolvendo a personalidade e as características dos miúdos de hoje em dia.

Nesta primeira temporada, os fãs conseguem ver a perspetiva de Johnny Lawrence, enquanto ele tenta melhorar a sua vida e ajudar os jovens a aprender autodefesa e confiança. Para tal, as personagens tem um bom desenvolvimento e adequado à narrativa onde estão inseridas, sendo que Aisha tem das melhores evoluções de personagens da série (mostrando a personalidade de Cobra), assim como o Eli (onde a personagem é desconstruída) que interioriza todas as filosofias de Cobra Kai e mentalidades passadas por Johnny, transforma-se numa personagem completamente diferente, ganhando uma confiança abismal, tendo o destaque para a melhor personagem da temporada.

O próprio Johnny, tem uma evolução interessante mas um pouco lenta, já que nesta primeira temporada ainda está a evoluir como personagem, visto que apesar de querer ser sensei, ele ainda não está preparado, e usa argumentos como: está a aprender a ser sensei e que o miúdo que treina o estão a ajudar com isso para querer manter o dojo Cobra Kai. Contudo, um dos protagonista, Miguel, tem um desenvolvimento com altos e baixos, pois nos momentos finais parece forçado, para algo que se vai seguir. Assim, como a personagem Robby (que é introduzida já a meio da temporada), que é uma boa adição à série e uma personagem interessante, contudo não teve a melhor construção e desenvolvimento.

Estes problemas na construção e evolução de personagens deve-se um pouco à narrativa onde se assentam, pois esta tem buracos, para gerar conflitos e assim para se desenvolver. A narrativa acaba por se basear na rivalidade entre Daniel e Johnny, visto que começa num ponto Daniel Vs. Johnny, diverge em que cada um tem a sua própria vida e volta a convergir no ponto final, e assim que se encontram os momentos são recheados de tensão e revivências do passado. Apesar desta rivalidade já não ser a mesma, as questões mal resolvidas entre os dois, reacende toda esta rivalidade devido a conflitos, atitudes de personagens secundárias (ou por vezes dos próprios) que são um excelente suporte para a construção de uma rivalidade esquecida.

A coreografia das lutas foi bem realizada, e a colocação da câmara durante as mesmas, ajudaram a imergir nas cenas de ação, apreciando assim os movimentos belos e incríveis de karate. A banda sonora está bem alinhada com a nostalgia dos anos 80. Na fase inicial da temporada, é um pouco lenta, os mal entendidos vão sendo construídos ou lembrados.

Em suma, esta série maravilhosa é uma sequência do The Karate Kid, não é apenas uma grande dose de nostalgia dos anos 80, é também uma comédia seca e afiada, com temas muito relevantes e atuais de hoje em dia, no entanto, com situações pouco exploradas, que poderiam ser mais bem desenvolvidas, de forma a engrandecer ainda mais esta magnífica série. O desenvolvimento desta estória gira em torno das relações que levam a conflitos que, e que são um produto da incapacidade de Daniel e Johnny de se afastarem do passado (apesar de tentarem ter boas conversas, nunca tentam resolver os assuntos que ficaram pendurados no passado).

Partilhamos, convosco o trailer da primeira temporada de Cobra Kai da Netflix

8.0
Score

Pros

  • Premissa interessante
  • Diversos momentos de homenagem aos anos 80
  • Nostalgia referentes ao filme original
  • Boas sequências de luta
  • Fácil e rápida de ver
  • Apresenta personagens com um desenvolvimento bem estruturado (como é o caso de Aisha e Eli)

Cons

  • Narrativa por vezes depende de conflitos para se desenrolar
  • Narrativa inicial lenta e um pouco repetitiva
  • Mal entendidos pouco explorados
  • Devido a esta narrativa, inconsistências na construção e desenvolvimento de algumas personagens

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