Análise, Anime

Chainsaw Man Ep.6- Análise

O arco do hotel chegou e vamos à sua análise. Preparem-se para voltas e reviravoltas… e prémios Nobel, claro.

Bagagem do episódio 5

Optei por falar sobre o fim do episódio 5 aqui, visto que todo ele é uma ponte para o episódio seguinte.

Antes da entrada do nosso grupo no hotel, Himeno promete um beijo a Denji se ele conseguisse matar o demónio dentro do hotel. No entanto, foi Power que acaba por destruir uma parte desse demónio. Infelizmente, essa parte acabou por se revelar num engodo do demónio que serviu de porta de entrada para o loop que prende os nossos protagonistas.

Eles acabam por descobrir que estão presos no andar 8 do hotel e que, quando tentam fugir de lá, acabam por voltar ao mesmo sítio.

O Hotel Infinito é o local perfeito para Character Development

Sempre ouvimos dizer que só sabemos a verdadeira natureza das pessoas quando elas estão em situações de alto stress. Pois, Chainsaw Man quer colocar isso em prática no hotel.

Após entenderem o que se sucede as personagens agem de formas muito diferentes. Himeno fuma para aliviar o stress e confia a solução do dilema a Aki. Este anda desesperadamente a tentar encontrar pistas para resolver a questão. Denji decidiu dormir, afinal, preso por preso, mais vale aproveitar. Power decide ganhar o prémio Nobel e, de seguida, tornar-se primeira-ministra, porque acredita que é a forma mais fácil de deixar o terror pelos humanos. Hirokazu e Kobeni não aguentaram a pressão e estão fechados no quarto em total pânico.

Para além de mais exemplos do humor non sense do Fujimoto, é fácil observar quais são os elementos quem não têm a mínima noção do quão bizarros eles são, enquanto outros estão em total ciência da situação alarmante que entraram.

Agora entende-se porque é que Makima está tão entusiasmada com a dupla Denji-Power.

Outro exemplo de desenvolvimento de personagem é a relação de amizade entre Aki e Himeno. A veterana, cansada de perder companheiros, acaba por ter o trauma da perda, pelo que leva a vida de Aki demasiado a sério. Além disso, os flashbacks do passado mostram que a amostra de empatia do, na altura, novato (quando se vingou da pessoa que esbofeteou Himeno ou quando começou a fumar para a acompanhar) deixaram o coração da mulher bastante mole. Sinceramente, custa-me a entender como esta personagem não tem o devido valor. É a personagem mais completa da obra até agora, na minha opinião. Tem personalidade, fundações, carisma e muita versatilidade, não só nas suas ações, como nos seus sentimentos. Faz-me lembrar a Misato de Evangelion várias vezes (eu sei, malta, eu não consigo ficar um ano sem falar de Eva).

O pacto do Demónio do Hotel

Lembram-se de ter falado da alta situação de stress? Toma lá mais outra. O verdadeiro demónio revela-se e lança uma proposta: Deixa a equipa toda sair se Denji for entregue a ele. Óbvio que Kobeni e Hirokazu concordam rapidamente com a proposta, Power vê o caso como algo inevitavel para atingir o seu Nobel, já Himeno e Aki escolhem recusar a proposta, porque querem entender primeiro qual seria a vantagem de o demónio ficar com o corpo do Chainsaw Man.

O Fujimoto criou a situação perfeita para, discretamente, desenvolver todas as personagens do espaço da cena. Ele é especialista por dizer muito com coisas parvas. Com apenas uma situação bizarra, ele dá-nos introdução a novas personagens, aprofunda as existentes e ajuda-nos a criar afinidade com elas. Ele tem o poder de síntese e de entrega do essencial que muitos argumentistas não têm. Até mesmo de filmes! Zack Snyder, é assim que se faz!

O sacrifício de Denji e a facada em Aki

Por ter sentido muito medo vindo dos dois pupilos da Himeno (lembremo-nos que os demónios crescem com o medo das pessoas), o demónio ganha força e agora já não há volta a dar: ou Denji se entrega, ou todos morrem.

Kobeni e Hirokazu traem os companheiros e tentam esfaquear o protagonista, para o matar. Aki coloca-se à frente da faca para defender o pupilo. Porquê? Aki quer proteger quem quer matar o Demónio da Arma de Fogo, porque admite que não o consegue fazer sozinho.

Para retribuir a ação, Denji resolve sacrificar-se e entregar-se ao demónio, mas não sem luta. O demónio tem o poder do infinito. Ou seja, pode ser atingido infinitamente que não será morto. A ideia de Denji será infligir tanta dor ao inimigo que ele desista e se mate ou abandone o local.

Mais um momento que caracteriza bem as personagens: o caráter dos dois “quase assassinos”, a obsessão de Aki e o quase doentio espírito de comprometimento de Denji. Bem como o trauma de Himeno quando vê o Aki a sangrar ou até mesmo a amostra de compaixão de Power, que se oferece para ajudar a controlar a hemorregia de Aki. Em segundos, apanhamos vários pontos de personalidade em segundos, o que prova que é uma história bem escrita, acima de tudo.

Considerações finais

Muitos apreciadores do manga esperavam outro tipo de abordagem da realização da série, especialmente no que toca ao pouco foco do Mappa em mostrar a componente psicadélica da obra literária. Eu não concordo. Esta abordagem garante um melhor detalhe naquilo que realmente é importante para o Fujimoto, na minha opinião: a mensagem e as personagens. Mais uma vez vou abordar Eva. Tal como a obra de Hideaki Anno, Chainsaw Man usa a roupagem de um género que conhecemos para passar uma mensagem. Anno usou o básico do anime de Mecha, deu-lhe um twist de ficção científica pós-apocalíptica e melancólica e fez um ensaio de personalidade a si mesmo e à sociedade japonesa usando o quadro que pintou durante vários episódios. O Fujimoto usa os moldes do Shonen de ação, dá-lhe o twist de descontrolo frenético e negro para criticar a nossa sociedade e passar a mensagem do peso das relações, dos acordos e das ligações no geral. Assim se conta uma boa história e é isso que a produção quer focar. E são perfeitos nisso. Para mim, Chainsaw Man tem das melhores produções, dos últimos tempos, chegando ao panteão de obras como Shingeki no Kyojin, HunterxHunter (2011), Steins;Gate, Fullmetal Alchemist Brotherhood ou, mais recentemente, Sonny Boy.

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